No início de A Sociedade dos Poetas Mortos, somos apresentados a uma escola onde tudo é tradição, regra e medo: um lugar onde os jovens aprendem latim, matemática e comportamento, mas quase nunca a escutar a própria voz, pois não são pessoas em formação, e sim, futuros médicos, engenheiros ou advogados, logo, expectativas acumuladas em ternos bem passados.
E então chega o professor Keating, um corpo estranho naquele ambiente de ordem, um adulto que fala de poesia como se ela fosse urgência. Quando diz “Carpe diem: aproveitem o dia e façam suas vidas extraordinárias”, alguma coisa se acende.
O “Carpe Diem” que Keating traz não é um convite à irresponsabilidade, mas um desafio de não adiar quem se é, a vista de um mundo que ensina que a vida só começa depois do vestibular, do diploma, do emprego, do casamento. Mas quantos de nós já nos sentimos sufocados por esse roteiro que não escrevemos? Quantos já deixaram um talento morrer em silêncio pra seguir o que esperavam? O filme nos lembra que a juventude não é só um intervalo entre infância e maturidade, é o momento mais potente de revolução pessoal que temos.
Quando a arte vira resistência
Os garotos fundam a Sociedade dos Poetas Mortos num lugar escondido da escola, sendo este um esconderijo no meio da floresta, um espaço onde eles recitam poesias, falam de amor, de morte, de sonhos e de liberdade. A floresta, nesse caso, é mais que cenário: é metáfora de tudo que é selvagem, que não se dobra, que ainda pulsa, onde cada encontro é um ato de fuga, e toda fuga é uma tentativa de existir com verdade.
É nesse espaço que eles se descobrem vivos, pois percebem que também têm direito ao erro e à voz, dessa forma, o filme mostra que a poesia não é um luxo intelectual, mas uma forma de resistência, porque quem escreve sua própria história, se nega a ser personagem do script alheio, logo, talvez por isso o sistema tente sufocar tudo o que Keating representa, porque ele ameaça o controle, ensinando a pensar. E pensar, nesse mundo, é perigoso.
E aí entra uma das cenas mais fortes: quando Neil, um jovem sensível, talentoso e apaixonado por teatro, se vê forçado pelo pai a abandonar seus sonhos. Quando faz o papel de Puck em Sonho de uma Noite de Verão, e na noite seguinte... ele se vai. É devastador, porque mostra que a liberdade sem espaço vira solidão, e a repressão demais vira luto.
“Oh capitão, meu capitão”: o último gesto de coragem
O final de Sociedade dos Poetas Mortos é um dos mais belos do cinema, pois quando Sr. Keating é expulso, a escola restaura a ordem e o silêncio volta a dominar, mas, naquele momento em que ele vai embora pela última vez, um a um, os alunos começam a se levantar sobre as carteiras. Um gesto pequeno, entretanto, imenso, pois eles desafiam a autoridade, não com grito, mas com memória, e acima de tudo, gratidão.
Dizer “Oh capitão, meu capitão” é dizer: você me ensinou a ver o mundo com os próprios olhos, e agora eles não conseguem mais se fechar.
Imagem da cena em que os alunos se erguem sobre as carteiras e, em uníssono, entoam “Oh Capitão, meu Capitão!” |