sábado, 28 de junho de 2025

Erga-se sobre a carteira: o grito dos poetas

    No início de A Sociedade dos Poetas Mortos, somos apresentados a uma escola onde tudo é tradição, regra e medo: um lugar onde os jovens aprendem latim, matemática e comportamento, mas quase nunca a escutar a própria voz, pois não são pessoas em formação, e sim, futuros médicos, engenheiros ou advogados, logo, expectativas acumuladas em ternos bem passados.



    E então chega o professor Keating, um corpo estranho naquele ambiente de ordem, um adulto que fala de poesia como se ela fosse urgência. Quando diz “Carpe diem: aproveitem o dia e façam suas vidas extraordinárias”, alguma coisa se acende.


    O “Carpe Diem” que Keating traz não é um convite à irresponsabilidade, mas um desafio de não adiar quem se é, a vista de um mundo que ensina que a vida só começa depois do vestibular, do diploma, do emprego, do casamento. Mas quantos de nós já nos sentimos sufocados por esse roteiro que não escrevemos? Quantos já deixaram um talento morrer em silêncio pra seguir o que esperavam? O filme nos lembra que a juventude não é só um intervalo entre infância e maturidade, é o momento mais potente de revolução pessoal que temos.


Quando a arte vira resistência


    Os garotos fundam a Sociedade dos Poetas Mortos num lugar escondido da escola, sendo este um esconderijo no meio da floresta, um espaço onde eles recitam poesias, falam de amor, de morte, de sonhos e de liberdade. A floresta, nesse caso, é mais que cenário: é metáfora de tudo que é selvagem, que não se dobra, que ainda pulsa, onde cada encontro é um ato de fuga, e toda fuga é uma tentativa de existir com verdade.


    É nesse espaço que eles se descobrem vivos, pois percebem que também têm direito ao erro e à voz, dessa forma, o filme mostra que a poesia não é um luxo intelectual, mas uma forma de resistência, porque quem escreve sua própria história, se nega a ser personagem do script alheio, logo, talvez por isso o sistema tente sufocar tudo o que Keating representa, porque ele ameaça o controle, ensinando a pensar. E pensar, nesse mundo, é perigoso.


    E aí entra uma das cenas mais fortes: quando Neil, um jovem sensível, talentoso e apaixonado por teatro, se vê forçado pelo pai a abandonar seus sonhos. Quando faz o papel de Puck em Sonho de uma Noite de Verão, e na noite seguinte... ele se vai. É devastador, porque mostra que a liberdade sem espaço vira solidão, e a repressão demais vira luto.




“Oh capitão, meu capitão”: o último gesto de coragem


    O final de Sociedade dos Poetas Mortos é um dos mais belos do cinema, pois quando Sr. Keating é expulso, a escola restaura a ordem e o silêncio volta a dominar, mas, naquele momento em que ele vai embora pela última vez, um a um, os alunos começam a se levantar sobre as carteiras. Um gesto pequeno, entretanto, imenso, pois eles desafiam a autoridade, não com grito, mas com memória, e acima de tudo, gratidão.


    Dizer “Oh capitão, meu capitão” é dizer: você me ensinou a ver o mundo com os próprios olhos, e agora eles não conseguem mais se fechar.


Imagem da cena em que os alunos se erguem sobre as carteiras e,
em uníssono, entoam “Oh Capitão, meu Capitão!”


Esse filme é um chamado pra nós, visto que em um tempo em que ainda se apagam vozes nas escolas, em que ainda se mata a arte nas grades do currículo, em que se espera que jovens sejam obedientes e não conscientes, Sociedade dos Poetas Mortos é um lembrete: viver não é só passar de fase, é ter coragem de viver o que pulsa em você, mesmo que ninguém aplauda.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Entre o progresso e o perigo: o mau uso da inteligência artificial

  Você já conversou com uma máquina hoje? Talvez sem nem perceber, ao pedir uma música para a assistente do celular ou ao receber uma sugestão de vídeo na internet, você teve contato com a inteligência artificial (IA). Fascinante, não é? A IA está cada vez mais presente em nossas vidas, tornando as tarefas mais rápidas, precisas e até mais “inteligentes”, nos ajudando a responder as coisas complexas com mais certeza e te dando aquela sensação de que tudo é mais fácil. Agora, pensa comigo, com tudo ficando mais realista como vídeos, fotos, notícias e até esse texto aqui, você ainda consegue dizer com certeza o que foi feito por um humano e o que foi gerado por IA? À medida que os algoritmos evoluem, será que estamos prontos para lidar com as consequências? Tanto as visíveis quanto as que nem imaginamos?

Fonte: Imagem de Rometheme Std, Canva.

 Pois é, esse texto acima foi escrito por uma ferramenta de inteligência artificial, o famoso ChatGPT, tão conhecido e utilizado por diversas pessoas. Nos dias atuais é comum que as plataformas de inteligência artificial como Gemini, Deepseek, Bing Chat e outras,  ganhem cada dia mais visibilidade e desenvolvimento, em especial, entre os estudantes de todo o mundo, para resolver questões, produzir redações, solucionar exercícios e até resumindo textos. De fato isso torna nossa rotina muito mais prática e simples, mas será que todos usam as IAs de maneira correta?

  No começo pode parecer algo inofensivo pedir para a inteligência artificial produzir um trabalho completo para você, mas com o tempo isso pode gerar vários problemas. Quando deixamos a IA fazer de tudo por nós paramos de nos esforçar para criar e resolver coisas básicas, isso interfere e atrapalha no processo de aprendizado que os estudantes devem passar para compreender o assunto e de fato aprender, você pode tirar a nota mais alta da sala, mas sem o conhecimento essa nota não vale de nada. Quanto mais você utiliza essas plataformas mais dependente você fica delas, o que era para ser um “apoio” acaba virando um impasse para fazer qualquer coisa sozinho, e isso complica na hora que você deve tomar decisões importantes, na hora da prova ou em uma entrevista de emprego. Muitas vezes sem perceber estamos tão dependentes que já vamos direto para as plataformas sem ao menos ler a atividade ou tentar fazer.

  Além disso, sabemos que hoje com apenas alguns comandos podemos criar imagens e vídeos de maneira muito realista, o que no começo foi usado para criar memes, acabou desencadeando um forte aumento nas fake news, o que antes eram só mensagens e compartilhamentos considerados como fofoca hoje são entregues em forma de vídeos com a imagem de qualquer pessoa (na maioria das vezes figuras públicas), contendo sua voz de maneira que sua imagem se torne totalmente manipulável, aplicando golpes e as prejudicando no meio digital.

  Em todos esses exemplos o ponto atacado em comum é a confiança. Usar a IA de forma irresponsável afeta a confiança dos alunos e prejudica seu desenvolvimento pessoal, da mesma forma que usar a IA de maneira imprudente nas redes sociais pode nos fazer perder a confiança na fala das pessoas e nas notícias publicadas. Assim voltando para o começo do texto, será que ainda conseguimos distinguir uma informação apresentada por um humano e uma informação gerada pela inteligência artificial?

  Em geral, a IA não é uma vilã, mas vale lembrar que ela também não é a solução para tudo, é uma ferramenta que você escolhe como usar. Sendo usada com responsabilidade, as IAs podem ser muito úteis ajudando a fazer cronogramas de estudos, explicando matérias e conteúdos, oferecer ideias, traduzir idiomas entre diversas outras funções.  

E aí, vai usar a IA para crescer ou para se esconder?