quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Precisamos falar sobre o suicídio

A cada 40 segundos, no mundo, uma pessoa tira a própria vida. Ou seja, antes de terminar de ler este parágrafo um ser humano de alguma parte do planeta vai ter se suicidado. A cada dia 32 brasileiros se matam, ultrapassando o total de 11.000 mortos por ano, e, no mundo, cerca de 1 milhão – número de vítimas maior que todas as guerras, conflitos civis já ocorridos.

O Brasil possui um dos índices baixos, porém encontra-se em um impasse: enquanto essas taxas diminuem na maioria dos países, no Brasil elas tem avançado. Em meados de 2002 até 2012 o número de casos aumentou em 34% sendo que entre os adolescentes de 10 a 14 anos aumentou em 40% de acordo com o Mapa da Violência.
Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre tais dados, não é agradável ouvir sobre alguém que se matou ou tentou fazer isso, portanto, esse fenômeno vêm acompanhado de um dos motivos de seu alastramento: o silêncio.

O Fenômeno Hannah Baker

“Oi, é a Hannah, Hannah Baker. [...] Sou eu, ao vivo e em estéreo. Sem promessa de retorno, sem bis [...]Acomode-se. Porque vou contar a história da minha vida. Mais especificamente, por que minha vida terminou.” Essas são as palavras da protagonista da série 13 Reasons Why, Hannah Baker, que após ser vítima de vários tipos de bullying no colégio acaba tirando sua vida e deixando 13 fitas de áudio explicando os motivos de ter chegado a esse ponto.

A série popularizou-se de imediato, tornando-se um assunto obrigatório em algumas famílias e escolas, visto que tal incidência nunca foi tão alta em adolescentes como visto hoje em dia. O Centro de Valorização da Vida (CVV), principal órgão de apoio psicológico e prevenção ao suicídio no Brasil, anunciou que na primeira semana de Abril, uma semana após o lançamento da série, a taxa de procura dos serviços aumentou em 445%, muitos mencionando a história da protagonista Hannah, um número animador e esperançoso para todos nós.

O Efeito Werther

Nem todos concordam que o seriado foi positivo entretanto, muitos criticam a cena explícita da morte de Hannah Baker, sendo até não recomendada pela OMS, o grande medo é o do “Efeito Werther”, cujo nome vêm do romance “Os sofrimentos do jovem Werther”, do Goethe, onde o protagonista após ser deixado pela amada tira sua vida. O tom depressivo do livro lançado no século XVIII, provocou uma comoção nos jovens da época ao qual seguiram o personagem e se mataram. Esse fenômeno é comprovado cientificamente pela universidade de Viena, onde analisaram 98 casos de suicídios entre famosos e perceberam reportagens sensacionalistas que “romantizavam” o ocorrido, estimulando o chamado “suicídio por imitação”. Fato igual ao ocorrido em 1962, quando a imprensa anuncia o suicídio de Marylin Monroe, o que levou a um aumento de 12% no índice americano.

O fósforo e a grama

Tudo isso nos leva até a entender o porquê do suicídio ser tão acobertado, porém é impossível fugir do fato de que isso continua acontecendo. Após essa tragédia ocorrer é possível explorar os motivos que levaram a isso, onde são encontrados grandes causadores como: falecimento de parente, divulgação de vídeo íntimo, falência. Porém esses fatos, sozinhos, não explicam suficientemente a morte. Não são os eventos dolorosos da vida que levam a isso, mas o efeito incendiário que esses acontecimentos fazem se “alastrar” em uma mente frequentemente doente e fragilizada, tornando toda a situação inescapável. O falecimento de um parente, divulgação de um vídeo íntimo ou a falência são os agentes incendiadores, o fósforo aceso, a mente humana é a grama, uma mente frágil é uma grama seca, onde o fogo alastra-se facilmente em proporções catastróficas, já a grama verde – que repele o incêndio – é a mente saudável, que possui agentes protetores, estar empregado, casado ou acompanhado, possuir filhos e apoio, acima de tudo. A sociedade pode “ser” o bombeiro, podemos apagar o incêndio, podemos ser um jardineiro, regar continuamente a grama para ela não secar.

Devemos confortar, a melhor forma de se combater é o diálogo da sociedade. Precisamos falar sobre o suicídio não somente em Setembro, em todos os meses, todos os dias, todas as horas é preciso estar lutando, pois quanto mais pessoas souberem, mais pessoas irão tentar fazer algo para mudar.

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