quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 2

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda quem está incluso e sua devida atuação.

    No artigo anterior, explicamos um contexto geral do início dos conflitos armados entre Israel e Palestina, até sua situação atualmente, quando esse artigo vos é escrito. Mas, além de um resumo geral, é necessário entender que outros agentes - sejam esses países ou organizações - estão envolvidos, de maneira indireta ou nivelada, nesse processo de guerra. Quem são e quais as atuações de alguns dos principais fatores influentes que não são, tão necessariamente, midiaticamente comentados, serão abordados nesse texto. 

À esquerda, membro do grupo político Hamas; ao centro, Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã; à direita, Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos.


    Hamas: não é a Palestina

    Durante o dia 07 de outubro, uma chuva de mísseis foi lançada pelo partido político Hamas, partindo da Faixa de Gaza e atingindo a região de Tel Aviv (atual capital do Estado de Israel) e a cidade de Jerusalém. A partir desse ataque, resultando no sequestro e morte de milhares de vítimas, as redes sociais se mobilizaram, em parte, para uma campanha “pró-Israel”. Diante dessa polêmica, tem-se como pauta urgente o entendimento da diferença entre o Hamas e a própria Palestina, uma vez que tal movimento político não representa, necessariamente, a posição dos palestinos.
      O Hamas, tendo seu nome traduzido do árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”, foi fundado em 1987, como um movimento de resistência. Isso porque, nesse ano, acontecia a Primeira Intifada palestina, com o intuito de resistir às ocupações israelenses das regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza - tendo seu final apenas com o Acordo de Oslo. É importante reiterar, ainda, que esse grupo militante é uma ramificação da Irmandade Muçulmana. Essa organização apresenta origem no Egito, tendo surgido com o intuito de libertar a pátria islâmica, e é conhecida, atualmente, por seus princípios radicais. Após sua atuação na Primeira Intifada, o Hamas prosseguiu com bombardeios ao Estado de Israel, tendo, supostamente, financiamento bélico e monetário pelo Irã. Além disso, no ano de 2007, com a retirada da população israelense da Faixa de Gaza e a ocorrência das eleições políticas, Hamas torna-se o partido político vencedor e recebe o poder de controle da região. 
      Com esse novo controle, o Hamas se recusa a realizar acordos políticos e colaborações com demais partidos opositores, instituindo fortes bloqueios econômicos para o território. Essas decisões políticas agravam-se com as repostas de Israel para essas declarações - sendo essas, tanto bélicas, como bombardeios, quanto políticas, como a impossibilidade de chegada de água, de instituições escolares, de materiais de construções e, até mesmo, apoio de ONGs. Com isso, tem-se uma série de consequências negativas para a região, como a pobreza extrema e a baixa qualidade de vida. Portanto, mesmo lutando contra Israel, o Hamas influencia, negativamente, e agrava a situação de milhares de palestinos, principalmente viventes da Faixa de Gaza. A região é considerada, atualmente, o maior “cárcere a céu aberto”.


    Irã: qual a ligação com o Hamas?

     Para se entender o possível patrocínio ofertado pelo Irã ao grupo político Hamas, além de seus elogios aos atentados gerados, faz-se preciso lembrar da Guerra Irã-Iraque - entre 1980 e 1988. Apesar da Guerra ter sido realizada apenas na década de 80, há dez anos antes já haviam brigas entre as duas nações a respeito de disputas territoriais por desavenças políticas e motivos religiosos. Além desses conflitos, com o controle da região da Faixa de Gaza por parte de Israel, do interrompimento das rotas de abastecimento do Irã para Gaza.         Por conta desse tenso histórico político entre países, o Irã apresenta seu posicionamento mais favorável a grupos que se propõem a acabar com o Estado de Israel - como é o caso do Hamas: e não, de fato, à libertação da Palestina ou à divisão territorial legal.
    Enquanto o Hamas confirma o apoio do Irã nos planejamentos militares e atentados, a nação nega envolvimento com o conflito armado, apesar da fala do Líder Supremo, Ali Khamenei, referir-se à “libertação de Jerusalém”. Já Israel e Estados Unidos afirmam ter certeza do envolvimento da pátria asiática na Guerra.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 1

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda do início para a atualidade.

À esquerda, Benjamin Netanyahu - Primeiro-ministro de Israel -, e à direita, Mahmoud Abbas, Presidente do Estado da Palestina.

    Israel x Palestina: 100 anos, 1 texto

    Um dos conflitos mais debatidos, atualmente, remonta a um cenário de pós-guerra, na década de 40, e possui como pilares questões, principalmente, geopolíticas e religiosas. Para se entender o que se tem hoje, faz-se necessário retornar a um passado não tão distante em termos históricos, mas longo o suficiente para afetar a vida de toda uma população. Em 1917, o Império Britânico emite a Declaração de Balfour, conferindo à população judaica a permanência na, até então, região da Palestina, uma vez que “não ferisse os direitos civis das populações não judaicas que ali viviam”.
    Os judeus eram vistos como uma população sem pátria pelo Império Britânico, que buscava garantir apoio aos Aliados durante a Grande Guerra. Porém, tal comunicado soava como uma traição aos palestinos que já constituíam a região – entende-se como palestinos a população árabe, que apresenta, em grande parte, a religião muçulmana. Essa região, por sua vez, possui suma importância religiosa tanto para muçulmanos, quanto para os judeus. A partir de 1920, com a vitória do Império Britânico, o Mandato Britânico da Palestina entra em ação e acontece uma reorganização de palestinos e judeus, como prometido pela Declaração de Balfour. Legalmente, o documento previa a divisão de um mesmo território para dois estados: um Estado para o povo judeu, e outro, para os palestinos – que não haviam um Estado formalmente formado. 

Conflitos: o barril de pólvora explode

O primeiro impasse nessa divisão territorial se dá, entretanto, com a partilha da cidade de Jerusalém: nada havia escrito sobre o pertencimento da cidade de destaque religioso. Com a Conferência da ONU, em 1947, e sua consequente aprovação para criação dos dois Estados propostos pelo Mandato, nasce o Estado de Israel. Porém, os palestinos não aceitaram o acordo, alegando injustiça nos termos de divisão territorial: teriam ficado com piores terras e localização. Como resposta a esse desacordo, tem-se a primeira Guerra árabe-israelense, no mesmo ano, opondo o Estado recém formado à Liga Árabe. Como consequência, assim como de outras guerras consecutivas na região – como a Guerra dos Seis Dias, em 1967 - , teve-se um aumento territorial israelense e uma expulsão do povo palestino de suas terras conquistadas: gerando o que se denominou de Questão Palestina
        É ainda em 1993, com o agravamento desses assentamentos israelenses de maneira ilegal, que acontece um acordo para a retirada dos judeus sionistas que lá se fixaram. Com essa saída gradual, a proposta era estabelecer o Estado da Palestina de maneira legítima. Esse acordo não foi colocado em prática em decorrência do movimento Sionista extremista que constitui parte do Estado de Israel, sendo esse, terminantemente contra a criação do Estado da Palestina. 
        Geopoliticamente, no atual Estado de Israel, palestinos estão concentrados nas regiões da Faixa de Gaza e Cisjordânia, ambos fazendo fronteira com o Estado de Israel; com o Egito e a Jordânia, respectivamente. É na Faixa de Gaza que se encontram os Hamas, movimento islamista palestino que tem sido tão comentado recentemente.
        Assim, segue até os dia em que esse artigo vos é escrito, uma sequência de conflitos armados entre o Estado de Israel e Palestinos: e os Estados Unidos, e o Egito, e o Irã e diversos outros grupos que se desmembraram a partir do início desses confrontos - há 100 anos atrás. Por isso, faz-se necessário o entendimento de suas atuações e influências nesse processo, em que cada único agente é capaz de alterar a realidade e vida de milhares de pessoas: como tem sido feito há um século.