quarta-feira, 5 de novembro de 2025

O segredo da nota 1000: Citações para argumentar e enriquecer a sua redação!

O dia do ENEM está chegando e com ele vem toda a mistura de nervosismo, expectativa, determinação e medo. Entre as questões de múltipla escolha e fórmulas decoradas, há uma etapa que exige algo mais pessoal e criativo, a redação.

Entre as cinco competências avaliadas no texto dissertativo-argumentativo do Exame Nacional do Ensino Médio, está a competência 2. Ela avalia a sua capacidade de compreender a proposta de redação, aplicar conceitos de diferentes áreas do conhecimento e desenvolver argumentos de forma consistente, coerente e autoral. De forma resumida, é nessa parte que você apresenta seu conhecimento sociocultural aplicando-o sobre qualquer tema. Uma das melhores formas de fazer isso é usar frases de grandes filósofos, escritores e até personalidades atuais. Nesse texto você vai descobrir diversas citações que podem ser usadas com diversos temas para enriquecer e estruturar sua redação, te aproximando da tão sonhada nota 1000.

Maria Carolina de Jesus, escritora e poetisa brasileira:

“Quem inventou a fome são os que comem.”

“O negro só é livre quando morre.”

“Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.”

“O negro é tão perseguido, que as vezes sente complexos de inferioridade.”

“Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.”

Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro:

“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.”

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.”

“Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.”

“A inclusão acontece quando se aprende com diferenças e não com as igualdades.”

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”

Karl Marx, filósofo e sociólogo alemão:

“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.”

“Qualquer um que saiba alguma coisa da história sabe que grandes mudanças sociais são impossíveis sem o fermento feminino.”

“O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem, a essência domina-o e ele adora-a.”

“O trabalho na pele branca nunca poderá se libertar enquanto o trabalho na pele negra for marcado.”

Simone De Beauvoir, escritora francesa:

“A mulher está voltada à imoralidade porque a moral consiste, para ela, em encarnar uma entidade inumana: a mulher forte, a mãe admirável, a mulher de bem.”

“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.”

“Em todas as lágrimas há uma esperança.”

“Toda opressão cria um estado de guerra.”

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês:

“Tudo é mais fácil na vida virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade”

“Não se pode escapar do consumo: faz parte do seu metabolismo! O problema não é consumir; é o desejo insaciável de continuar consumindo… Desde o paleolítico os humanos perseguem a felicidade… Mas os desejos são infinitos. As relações humanas são sequestradas por essa mania de apropriar-se do máximo possível de coisas.”

“Em vez de construir muros, deveríamos construir pontes.”

“Na era da informação, a invisibilidade é equivalente à morte.”

“O velho limite sagrado entre o horário de trabalho e o tempo pessoal desapareceu. Estamos permanentemente disponíveis, sempre no posto de trabalho.”

Djamilla Ribeiro, filósofa e ativista do movimento negro no Brasil:

“Minha luta diária é para ser reconhecida como sujeito, impor minha existência numa sociedade que insiste em negá-la.”

“Se eu luto contra o machismo, mas ignoro o racismo, eu estou alimentando a mesma estrutura.”

“O silêncio é cúmplice da violência.”

“O racismo é um sistema de opressão que nega direitos, e não um ato da vontade de um indivíduo.”

“É importante ter em mente que para pensar em soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade”

Confúcio, pensador e filósofo chinês:

“Se queres prever o futuro, estuda o passado.”

“Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros.”

“Saber o que é correto e não fazer é falta de coragem.”

“A cultura está acima da diferença da condição social.”

“Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.”

Martin Luther King, ativista político estadunidense:

“A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.”

“A liberdade jamais é dada pelo opressor ela tem que ser conquistada pelo oprimido.”

“Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez consciente.”

“Uma das coisas mais importantes da não violência é que não busca destruir a pessoa, mas transformá-la.”

“Toda hora é hora de fazer o certo.”

Nelson Mandela, ex presidente da África do Sul e vencedor do Prêmio Nobel da Paz:

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.”

“Liberdade parcial não é liberdade.”

“Nenhum poder na Terra é capaz de deter um povo oprimido, determinado a conquistar sua liberdade.”

“Quando é negado a um homem o direito de viver a vida que ele acredita, ele não tem escolha a não ser se tornar um fora da lei.”

“Eu fui feito, pelas leis, um criminoso. Não pelo que fiz, mas pelo que eu lutei, pelo que eu pensei, por causa da minha consciência.”

Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz:

“Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo.”

“Com armas você pode matar terroristas. Com educação, você pode acabar com o terrorismo.”

“A diversidade promove a tolerância. Quando você não encontra pessoas diferentes, não percebe coisas, não percebe o quanto tem em comum com elas. ”

“Você pode pertencer a qualquer religião, casta ou credo,isso não tem nada a ver com os negócios do Estado.”

“Nós percebemos a importância da nossa voz quando somos silenciados.”

Jane Goodall, etóloga e antropóloga britânica: 

“Algum dia, olharemos para trás, para esta era sombria da agricultura, e iremos balançar a cabeça em sinal de reprovação. Como pudemos acreditar que cultivar nossos alimentos com venenos seria uma boa ideia?”

“A mudança acontece quando se ouve e se inicia um diálogo com as pessoas que estão fazendo algo que você não considera correto.”

“Você não consegue passar um único dia sem causar impacto no mundo ao seu redor. O que você faz faz diferença, e você precisa decidir que tipo de diferença quer fazer.”

“Só podemos nos importar se entendermos. Só podemos ajudar se nos importarmos. Só se ajudarmos seremos salvos.”


Viu como as citações podem ser suas melhores aliadas? Elas não estão aí só para deixar o texto bonito, mas para mostrar que você é capaz de relacionar o que aprendeu com o mundo ao seu redor. Mais do que decorar citações, o importante é entender o que cada uma delas significa. Que tal escolher as frases que você mais gostou e treinar hoje mesmo? A nota 1000 pode estar na próxima redação que você começar!!


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Subculturas no IFSP Salto (Parte 1)

Subculturas não são vitrines exóticas nem estatísticas de tendência: são modos de vida estéticos, políticos e afetivos, que as pessoas criam para se reconhecer, resistir e inventar possibilidades de pertencimento. Neste blog vou me aproximar dessas experiências com atenção histórica e empatia. Para manter o sigilo sobre quem confidencia suas histórias, usarei nomes fictícios e alterarei detalhes identificadores sempre que necessário. 

Entrevistador: Qual é a sua subcultura e como você começou a se interessar por ela?

Téo Moura (2º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Eu me considero punk, mas antes de tudo é importante dizer o que entendo por ser punk. O punk nasceu nos anos 1970 como uma revolta jovem; ele se desdobra em várias vertentes e cenas (oi!, ska, hardcore, skinheads associados a certas tradições, entre outras), cada uma com sua cultura e suas referências. No geral, para mim, punk é pensar por si mesmo e questionar o sistema, embora nem sempre seja fácil dizer exatamente qual sistema precisamos criticar.

Minha entrada nesse universo não foi direta pelo punk: comecei ouvindo rock e metal quando criança, por influência do meu pai e da minha irmã, bandas como Pearl Jam, Black Sabbath, Metallica, Soundgarden, Nightwish e System of a Down. Foi especialmente o System of a Down, com letras mais críticas, que me fisgou. Aos poucos formei minha primeira banda e fui mergulhando ainda mais no metal, mas sentia falta de letras mais contundentes. Adorava Slayer, Kreator e Sepultura justamente por esse tom crítico: músicas que tratavam de guerra, de poder e de injustiças, incluindo reflexões sobre o nazismo e sobre episódios violentos como o Massacre do Carandiru, e canções que falavam do Brasil e de conflitos globais me intrigavam.

Acabei chegando ao punk por identificação com a ideia de anarquia e com a crítica política, embora não me considere um anarquista absoluto. Comecei com Ramones e Sex Pistols e hoje ouço tanto punk quanto metal, por isso curto muito crossover. O que mais me interessa são as letras: bandas como Ratos de Porão, Suicidal Tendencies (especialmente material crítico à política da era Reagan), Sacred Reich e Sodom, que abordam imperialismo e poder; Bad Religion, com letras filosóficas; e, principalmente, Dead Kennedys. Jello Biafra é uma influência grande para mim por suas letras satíricas e diretas, músicas como “Kill the Poor”, “California Über Alles”, “Police Truck” e “Soup Is Good Food” mostram bem esse tom.

Indivíduos com moicano, roupas remendadas e sinais DIY (patches, zines
ou cartazes) em ação direta. O estilo é também tática, recusa das normas,
 produção própria e construção de redes de ajuda e resistência.

Entrevistador: Você já teve problemas ou conflitos na escola por causa da sua subcultura?

Téo Moura (2º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Incrivelmente, nunca. Em nenhuma escola tive problema com isso. Apenas ganhei o apelido de "Téo do Rock" na minha atual escola, particularmente, eu gostei. No máximo, pessoas interagem comigo apenas fazendo o sinal do rock, que eu não sei como responder. Mesmo fora da escola, me sinto seguro. Os próprios eventos de punk ou metal não são perigosos, mas sempre é bom tomar cuidado com quem você interage.

Entrevistador: Qual é a sua subcultura e como você começou a se interessar por ela?

Naya Campos (3º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Bom, eu sou do hip-hop. Desde que me entendo por gente, eu colava em batalha de rima porque meu pai, quando era mais jovem, tinha minha idade, uns 17/18 anos, também participava e vivia o movimento de perto. Com o tempo ele acabou se afastando, porque passou a achar aquele ambiente meio pesado: muita gente fumando e usando coisa, e ele não se identificava. Mesmo assim, o rap nunca deixou de estar presente na minha vida. Nos almoços de família tocava sertanejo, samba, pagode... mas também Racionais MC’s, Sabotage, 509-E, Dexter, o rap nacional sempre teve lugar em casa. Aí eu cresci e, com o passar dos anos, comecei eu mesma a colar nos eventos de hip-hop, ocupando os espaços que, de alguma forma, sempre fizeram parte da minha história.

E o hip-hop salva vidas. Eu vi muitas vidas sendo salvas dentro do hip-hop, pelo hip-hop. E a minha vida, eu digo que também foi salva pelo hip-hop, porque o Slam poesia, me encontrou no momento em que eu mais estava mal, de vida e de tudo isso. Então, quando eu achava que eu não tinha nada, o hip-hop me mostrou que eu tinha tudo, sabe? E me ensinou muito. Ainda me ensina, né?

Foi muito marcante quando comecei a batalhar. Na Batalha do Campo Bonito, eu era a única menina, tanto rimando quanto na plateia. Eu cheguei na final, perdi, mas tudo bem. Na semana seguinte, tinha muito mais meninas lá, rimando e assistindo. Pra mim, isso já é tudo. O hip-hop salva vidas, eu vi isso acontecer com outras pessoas e comigo também.

O palco vira arquivo e tribunal. Rimas e movimento corporal articulam
 memória do bairro, denúncia e ocupação do espaço público.

Subculturas no IFSP Salto (Parte 2)

Entrevistador: Você acha que a sua subcultura influencia outros estudantes ou a cultura da escola?

Naya Campos (3º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Eu acho que o hip-hop está muito difundido já. Tipo assim, não do jeito que deveria estar, na minha opinião. Acho que poderia ser melhor. Ocupar mais espaço. Mas por causa da mídia, da Batalha dos Estudantes, da Batalha da Aldeia, e essas grandonas aí, a Batalha da Norte e tal, acho que o hip-hop já está alcançando mais público. E eu fico muito feliz em saber disso, sabe?

Mas eu tenho uma certa preocupação quanto à qualidade de como essa informação chega. Porque a gente está vindo numa leva que é muito grande, de pessoas que estão colando, que estão indo, mas estão indo pelo rolê, não pela luta, não pelo movimento, não pela arte, sabe? Não é uma parada de você ficar levantando bandeira social o tempo todo, ou tipo assim, “ah, é isso que eu faço”, e o hip-hop e negros, tá ligado? Não é bem isso. A parada é que as pessoas estão esquecendo que vem disso, sabe? Que vem do underground, que é uma cultura de periferia, é uma cultura marginal.

Agora, se eu acho que a minha subcultura influencia outros estudantes, eu acho que sim, mas não por mim, sabe? Eu acho que não é exatamente por mim. Assim, quando a gente fazia os slams, muita gente começou a rimar por causa disso, começou a fazer poesia por causa disso, então eu acho que sim, né? Mas eu não acho que seja exatamente pela minha estética individual, mas estou sempre colando essas coisas, tá ligado?

Entrevistador: Qual é a sua subcultura e como você começou a se interessar por ela?

Isís Duarte (1° ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Eu pertenço a subcultura gótica. Que é uma subcultura que se manifesta na arte, literatura, cinema e música, com temas sombrios e melancólicos, valorizando a individualidade e criticando o materialismo e o conformismo social. E eu comecei a me interessar por ela quando passei a entender melhor meus gostos musicais, minhas ideias e o que eu queria expressar. A partir disso, fui me aprofundando e descobrindo mais sobre.

“Goths Against ICE”: a estética sombria foi tomada como ato público de
 solidariedade, convertendo ritual visual em denúncia contra expulsões
 e violência institucional.

Entrevistador: Que aspectos da escola dificultam ou ajudam você a se expressar como é dentro da subcultura?

Isís Duarte (1° ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Hoje em dia, não sinto dificuldades na escola. As escolas atuais são mais abrangentes. No IFSP, especificamente, o ambiente é muito mais positivo, tem liberdade de expressão, inclusão, todos são acolhidos sem exceção. Isso ajuda bastante e torna a experiência boa.

Conclusão: vozes marginais, territórios tomados

A escola também é palco de resistência, pois cada subcultura, seja punk, hip-hop, gótica ou qualquer outra, mostra que existir diferente é um ato político. 

"Na minha mente a luz tá acesa e eles tão tipo numa sala escura, sempre batendo em quem tá com o verdinho na mão... mas o engraçado é que a coca pode no canhão da viatura. Então prepara, que eu tô pronta pra atirar, e não só eu: vários poetas, com a boca, vão disparar; vamos ser linha de frente e mostrar a situação da favela." — Malu Criar

São vozes que transformam o cotidiano em protesto, para que o movimento seja um líquido difundido que amarga a boca, mas enobrece o coração.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

A geração de homens que vai morrer sozinha

    Você já ouviu a frase: “tinha que ser mulher"? Eu ouvi desde cedo, como se ser uma mulher fosse um pecado diário. Mas o curioso é que hoje, quem se perde nesse jogo não somos nós. São eles.


    As mulheres mudaram. Estudam mais, trabalham mais, sustentam suas casas e decidem seus caminhos, e isso não é detalhe, é revolução cotidiana. No Brasil, mais de 60% das pessoas que concluem o ensino superior são mulheres (IBGE, 2022), que conquistaram espaço em áreas antes negadas e, ao fazer isso, transformaram as relações de poder. Enquanto isso, muitos homens ainda acreditam que basta repetir o roteiro antigo para garantir respeito, amor ou companhia, porém, esse script não funciona mais.

    Pierre Bourdieu chamava isso de dominação masculina: um sistema invisível que define quem manda, quem cala, quem cuida e quem decide. Por muito tempo, os homens foram o centro dessa engrenagem, mas quando as mulheres começaram a desafiar essas regras, a estrutura inteira tremeu. Dessa forma, muitos homens se descobriram frágeis, sem saber quem são fora do papel de provedores ou de centro da relação.

    O problema é que eles nunca praticaram se relacionar de verdade, pois aprenderam a desejar mulheres, mas não a conviver com elas. Quantos homens você conhece que conseguem ouvir sem interromper? Que aceitam um “não” sem transformar em disputa? Que enxergam uma parceira como igual, e não como alguém que deve girar ao redor deles? Essa incapacidade emocional não é detalhe, é a raiz da solidão masculina, alimentada por uma cultura que ensina a conquistar, não a se conectar. Basta lembrar de American Pie, em que o objetivo é “pegar” alguém, nunca compreender, ao passo em que alimentam essa narrativa desde cedo, aprendendo a ver o afeto como vitória e a vulnerabilidade como fraqueza. Ao fim, crescem assim, com medo de se abrir, acreditando que sentir é perder o controle.

    E há um ponto raramente dito: muitos homens heterossexuais se aproximam de mulheres não por desejo genuíno, mas porque a sociedade exige, pois ter uma parceira funciona como um carimbo de status. O problema é que laços formados pela obrigação, e não pelo afeto, acabam superficiais, formando relações rasas que não resistem em um mundo em que as mulheres não dependem mais de ninguém para existir.

    Esse quadro se soma à homossociabilidade masculina, ou seja, a intimidade e o afeto que os homens compartilham entre si, mas disfarçados de “irmandade”. Se abraçam, dividem dores, cuidam uns dos outros, mas evitam chamar isso de carinho, como se o afeto fosse permitido, mas apenas se não for com uma mulher. O resultado é paradoxal, sendo observado, em muitos casos, a relação emocional mais forte de um homem presente nos amigos, não na parceira.

    Isso explica por que tantos reclamam de solidão. Não é falta de mulheres, é falta de preparo emocional, logo, incapacidade de lidar com relações em pé de igualdade, resultando em um medo de perder o lugar de centro, sem perceber que esse lugar já não existe. Sob essa visão, os números confirmam: homens jovens relatam cada vez mais dificuldade em criar vínculos sérios (Pew Research Center, 2023, EUA), e no Brasil, eles também lideram estatísticas de depressão e suicídio: 75% dos casos registrados são masculinos (Ministério da Saúde, 2021). Isso não é coincidência, é resultado de um modelo de masculinidade que isola, endurece e, no fim, adoece.

    Enquanto isso, as mulheres seguem criando redes, cuidando umas das outras, sustentando seus próprios caminhos. Quem não acompanhar essa mudança ficará sozinho, não por azar, mas por consequência.


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Moonlight: aprender a ser sem plateia

i. Little: Infância (Vida como performance)

    Little é um menino que vive na Miami mais hostil, onde a vida cobra cedo e as ruas ensinam a esquecer do corpo. Em casa, a mãe é ausente, os vizinhos observam, e o peso de crescer rápido se sente nos ombros frágeis dele. Na escola, os colegas riem, apontam e nomeiam, e Little aprende a se esconder e a vestir uma máscara que salva, cada gesto e cada silêncio se tornando ensaio de sobrevivência.

   Goffman dizia que a vida é teatro, que mudamos de máscara conforme a plateia. Para Little, isso não é metáfora, é a realidade cruel. Ele observa Juan, um homem que se torna figura paternal, ensinando-lhe a nadar. Na água, sem paredes e sem olhares de julgamento, Little descobre algo que não pode mostrar em terra firme: ele existe sem atuar. A presença é liberdade, um instante que prova que há espaço para ser, mesmo em um mundo que exige máscaras, e é possível observar nitidamente como a infância de Little é treino e proteção, revelando que algumas verdades só surgem na solidão do mar.

ii. Chiron: Adolescência (Hiperprodutividade)

    Na adolescência, Little se torna Chiron. O mundo agora exige provas, não basta sobreviver, é preciso mostrar que é homem, que controla e domina o olhar alheio, pois cada ação e cada palavra é medida, ao passo que escola, rua, amizades e até seu corpo se tornam palco de avaliação. Ele precisa produzir coragem, silêncio e dureza, desse modo, a vida vira lista interminável de notas, aprovação e performances sociais.

    Chiron carrega a máscara da necessidade de pertencer, logo, cada escolha, cada defesa, consome energia emocional. A hiperprodutividade aqui não é apenas sobre trabalhos ou notas, mas sobre provar identidade. Quando a pressão é constante, a vida se esgota: pequenas falhas se tornam perigosas, erros são luxos que ele não pode se permitir. Moonlight mostra que a adolescência de Chiron é forjada entre o medo de ser descoberto e o desejo de se sentir vivo, entre o corpo que aprende a se proteger e a alma que implora por espaço, e que, sendo um jovem negro e gay, a vulnerabilidade precisa se esconder, tornando cada gesto de sentimento ou fragilidade ainda mais difícil de mostrar.

iii. Black: Vida adulta (Sociedade do cansaço)

    Na vida adulta, Chiron é Black. Com o corpo blindado, expressão contida e fala econômica, ele carrega o peso das expectativas internas e externas, o cansaço de anos de performance, autocobrança e vigilância sobre si mesmo. Byung-Chul Han diria que vivemos sob um patrão invisível, que consome e transforma cada gesto em prova. Black vive isso em silêncio.

   O filme nos guia ao reencontro: Kevin, um amigo de infância, aparece como uma possibilidade. O abraço que trocam não é espetáculo, é um momento íntimo e pequeno, mas gigante ao desfazer décadas de máscaras, criando espaço para vulnerabilidade. É um sopro tímido de liberdade e reconciliação consigo mesmo, à vista disso, Black nos ensina que o cansaço não precisa ser definitivo e que pequenos gestos de presença podem perfurar a armadura e permitir que a vida viva de novo.

Conclusão: Como parar de performar?

    Moonlight mostra que a revolução está nos gestos silenciosos: um abraço, uma conversa, mergulhos silenciosos e olhar que realmente vê. Cada passo atravessa a pressão de se provar, lembrando que para ser, respirar e existir já é suficiente. Como diz o próprio filme, "sob o luar, garotos negros parecem azuis", pois muitas vezes, a tristeza e a vulnerabilidade deles precisam se esconder, e Chiron vive essa impossibilidade de se mostrar por completo. É nesse instante de delicadeza, de quietude e presença, que percebemos que a vida pode se abrir nos pequenos gestos.


sábado, 30 de agosto de 2025

Mais que um diploma: a coragem de escolher novos caminhos

Você já reparou como essa fase da vida, em que todo mundo começa a falar de vestibular, faculdade e "escolher um futuro", nos deixa ansiosos? Parece que a qualquer momento você precisa ter um plano perfeito, escolher uma profissão certeira aos 17, 18 anos e nunca mais poder mudar. Mas e se não for bem assim..


E se a faculdade não for o único caminho? Hoje o mercado de trabalho está cheio de profissões que não exigem um diploma universitário, mas sim habilidade, dedicação e curiosidade. Temos como exemplo:

Produtor de eventos, responsável por planejar e organizar diversos tipos de eventos como aniversários, casamentos, produções empresariais e culturais. O produtor fica responsável por fazer contato com os fornecedores, acompanhar os bastidores e a execução dos eventos. 

Analista de dados, responsável por traduzir dados brutos em informações estratégicas, fornecendo insights que contribuem para a tomada de decisões organizacionais.

Designer de experiência do usuário é um profissional focado em criar e otimizar a jornada de um utilizador ou cliente com um produto, serviço ou sistema, garantindo que a interação seja funcional, intuitiva e agradável.

Fotógrafo, profissional responsável por capturar imagens, registrar momentos, paisagens, pessoas ou objetos, utilizando câmeras e equipamentos especializados para planejar cenas, enquadrar registros e ajustar a iluminação, resultando em fotografias que ilustram momentos e transmitem emoções.

Web designer é o profissional responsável por criar elementos visuais para websites, layout, a aparência e a praticidade de uma página na internet. Seu trabalho é pautado em princípios de design, incluindo seleção de cores, tipografia, imagens e outros elementos gráficos para criar uma experiência funcional para os usuários.

Especialista em sustentabilidade, a profissão pouco conhecida se dedica a promover práticas ambientalmente responsáveis, suas funções incluem analisar impactos, formular políticas, implementar estratégias e engajar partes interessadas para garantir o equilíbrio entre aspectos ambientais, sociais e econômicos.

E claro, existem aquelas carreiras que não exigem uma faculdade longa, mas sim cursos específicos e bem direcionados. Profissões como exemplo são:

 Comissário(a) de voo, responsável por garantir a segurança e o conforto dos passageiros durante o voo, precisa de um curso técnico e abre portas para um trabalho cheios de experiências pelo mundo.

Técnicos em enfermagem, o profissional responsável por prestar cuidados básicos  a pacientes em hospitais e unidades de saúde, monitorando sinais vitais, preparando instrumentos e administrando medicamentos sob a supervisão de médicos e enfermeiros.

Programador é o profissional responsável por desenvolver, testar e manter códigos que dão vida a softwares, sistemas e aplicativos, utilizando linguagens de programação como Python, Java ou C++.

Profissionais de estética são responsáveis por cuidar da aparência e bem-estar de seus clientes, oferecendo tratamentos de limpeza de pele, massagens, drenagem linfática e procedimentos para rejuvenescimento e hidratação de pele, corpo e cabelos.

Mas aqui vai um ponto importante, não fazer faculdade não significa deixar os estudos de lado. O conhecimento continua sendo essencial. Seja em cursos técnicos, profissionalizantes, online ou até no aprendizado por conta própria, estudar é o que vai garantir que você cresça e esteja pronto para as oportunidades que aparecem, tanto no mercado de trabalho quanto na vida.

Agora pensa, por que acreditar que uma única escolha vai definir sua vida inteira? O que você decide hoje pode ser incrível, mas pode mudar e tudo bem. Você pode se redescobrir, mudar de área, descobrir novas paixões e começar de novo. Isso não é fracasso, é evolução. Então, se você está nessa fase cheia de dúvidas, respira. O futuro não é uma condenação. É um caminho que você constrói aos poucos, e ele pode ser refeito quantas vezes você quiser. O mais importante não é ter todas as respostas agora, mas sim acreditar que você pode escrever várias versões da sua própria história. 


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Como usar Charlie Brown Jr. na redação ENEM?

    "Ei, tu não sabe o que que aconteceu? Os caras do Charlie Brown invadiram sua redação do ENEM!" É notório entre os jovens um grande fascínio pela banda Charlie Brown Jr., relembrada por seus ensinamentos sobre amor, letras enriquecedoras moralmente e dissidências políticas. Entretanto, temos em mesa (e ouvidos) um fato esclarecedor: Chorão deixou um legado inimaginável na vida de quem escolhe escutar suas letras, portanto, por que não usar esse vício diário em nossas vidas acadêmicas pessoais?


    Seguem enumerados, desse modo, trechos de composições que podem ser facilmente memorizados e utilizados em sua escrita no vestibular.

Desigualdade social e política

    1. É Quente: O cantor brasileiro Chorão sintetiza de forma ácida a desigualdade social ao afirmar: “Em um país sem dente, é feliz quem come o ovo.” O verso escancara como a precariedade é normalizada, fazendo com que a sobrevivência mínima seja tratada como conquista. Esse olhar crítico mostra o quanto a desigualdade é invisibilizada e até romantizada, revelando um cenário de abandono social que continua a ser ignorado.

    2. Pontes Indestrutíveis: “Tem gente que desanda por falta de opção.” A frase denuncia como a ausência de oportunidades empurra muitas pessoas para trajetórias de exclusão e violência. O verso reforça que a marginalidade não é apenas resultado de escolhas individuais, mas consequência de estruturas sociais falhas que deixam milhares sem alternativa real de futuro.

    3. Vida De Magnata: “Vida de magnata, mordomia e mesa farta, futilidade que alimenta a desgraça, enquanto o povo se mata.” Aqui, a crítica é direta à desigualdade de classes, pois enquanto uma pequena elite vive em excesso e luxo, a maioria enfrenta miséria e luta diária por sobrevivência. É um verso que confronta privilégios e mostra o abismo social brasileiro.

    4. Eu Protesto: “Enquanto o povo vai vivendo de migalhas, eles inventam outro imposto para vocês.” Esse trecho traz uma crítica clara à corrupção e à exploração por parte de setores do poder público, reforçando a importância de questionar como o sistema funciona e como decisões políticas impactam diretamente na vida da população.

Juventude e educação

    5. Não É Sério: “O jovem no Brasil não é levado a sério.” O verso mostra como a juventude muitas vezes é desvalorizada, sob a ideia de que apenas os mais velhos têm razão. Isso acaba silenciando o potencial de transformação dos jovens, limitando sua participação em debates importantes e reforçando estereótipos injustos.

    6. O Preço: “Sem perceber larguei a escola, fui para a rua aprender.” O trecho revela como as dificuldades sociais podem levar à evasão escolar. É um retrato fiel de muitos jovens que abandonam os estudos por falta de apoio e condições adequadas, reforçando a necessidade de políticas públicas que garantam acesso e permanência na escola.

    7. Sem Medo Da Escuridão: “Informação manipulada contribui para a formação da juventude limitada.” A frase alerta para o impacto das fake news, que distorcem a realidade e dificultam o desenvolvimento do pensamento crítico. Esse cenário compromete a formação de jovens e acaba produzindo cidadãos menos preparados para lidar com os desafios da sociedade.

Meio ambiente

    8. Inabalavelmente: “Reciclando o lixo de tudo de errado que a humanidade fez.” Responsabiliza, de modo metafórico, os erros ambientais acumulados ao longo do tempo. Sob esse prisma, a frase pode ser associada aos impactos da ação humana na degradação da natureza, como o acúmulo de resíduos e a poluição, mas também a um alerta: é possível reconstruir caminhos mais sustentáveis a partir da consciência e da responsabilidade coletiva.

Saúde mental e autoconhecimento

    9. I Feel So Good Today: “Corpos livres, mentes perdidas, gente que ainda sonha com uma nova vida.” Evidencia a tensão entre a liberdade individual e os impactos da sociedade sobre a saúde mental, ao mesmo tempo em que a música reconhece a vulnerabilidade psicológica, tendo em vista que ressalta a capacidade de resiliência e esperança. Em síntese, sugere que, mesmo em contextos adversos, o ser humano busca se reinventar e manter a autonomia sobre sua vida e seus sonhos.

Repertório coringa

    10. Lutar Pelo Que É Meu: Por fim, o verso “cada escolha, uma renúncia, isso é a vida” traz um ensinamento universal e filosófico, útil em praticamente qualquer tema de redação. Ele reforça a ideia de que as decisões humanas, individuais ou coletivas, possuem consequências, o que dialoga diretamente com debates sobre responsabilidade social, ética e cidadania. 

    Para finalizar, como diria Chorão em “Tamo Aí na Atividade”: “Eu nasci pobre, mas não nasci otário”, lembrando que, mesmo diante de desafios, é possível pensar, agir e escrever como protagonista da própria história. Rumo nota mil!