sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Moonlight: aprender a ser sem plateia

i. Little: Infância (Vida como performance)

    Little é um menino que vive na Miami mais hostil, onde a vida cobra cedo e as ruas ensinam a esquecer do corpo. Em casa, a mãe é ausente, os vizinhos observam, e o peso de crescer rápido se sente nos ombros frágeis dele. Na escola, os colegas riem, apontam e nomeiam, e Little aprende a se esconder e a vestir uma máscara que salva, cada gesto e cada silêncio se tornando ensaio de sobrevivência.

   Goffman dizia que a vida é teatro, que mudamos de máscara conforme a plateia. Para Little, isso não é metáfora, é a realidade cruel. Ele observa Juan, um homem que se torna figura paternal, ensinando-lhe a nadar. Na água, sem paredes e sem olhares de julgamento, Little descobre algo que não pode mostrar em terra firme: ele existe sem atuar. A presença é liberdade, um instante que prova que há espaço para ser, mesmo em um mundo que exige máscaras, e é possível observar nitidamente como a infância de Little é treino e proteção, revelando que algumas verdades só surgem na solidão do mar.

ii. Chiron: Adolescência (Hiperprodutividade)

    Na adolescência, Little se torna Chiron. O mundo agora exige provas, não basta sobreviver, é preciso mostrar que é homem, que controla e domina o olhar alheio, pois cada ação e cada palavra é medida, ao passo que escola, rua, amizades e até seu corpo se tornam palco de avaliação. Ele precisa produzir coragem, silêncio e dureza, desse modo, a vida vira lista interminável de notas, aprovação e performances sociais.

    Chiron carrega a máscara da necessidade de pertencer, logo, cada escolha, cada defesa, consome energia emocional. A hiperprodutividade aqui não é apenas sobre trabalhos ou notas, mas sobre provar identidade. Quando a pressão é constante, a vida se esgota: pequenas falhas se tornam perigosas, erros são luxos que ele não pode se permitir. Moonlight mostra que a adolescência de Chiron é forjada entre o medo de ser descoberto e o desejo de se sentir vivo, entre o corpo que aprende a se proteger e a alma que implora por espaço, e que, sendo um jovem negro e gay, a vulnerabilidade precisa se esconder, tornando cada gesto de sentimento ou fragilidade ainda mais difícil de mostrar.

iii. Black: Vida adulta (Sociedade do cansaço)

    Na vida adulta, Chiron é Black. Com o corpo blindado, expressão contida e fala econômica, ele carrega o peso das expectativas internas e externas, o cansaço de anos de performance, autocobrança e vigilância sobre si mesmo. Byung-Chul Han diria que vivemos sob um patrão invisível, que consome e transforma cada gesto em prova. Black vive isso em silêncio.

   O filme nos guia ao reencontro: Kevin, um amigo de infância, aparece como uma possibilidade. O abraço que trocam não é espetáculo, é um momento íntimo e pequeno, mas gigante ao desfazer décadas de máscaras, criando espaço para vulnerabilidade. É um sopro tímido de liberdade e reconciliação consigo mesmo, à vista disso, Black nos ensina que o cansaço não precisa ser definitivo e que pequenos gestos de presença podem perfurar a armadura e permitir que a vida viva de novo.

Conclusão: Como parar de performar?

    Moonlight mostra que a revolução está nos gestos silenciosos: um abraço, uma conversa, mergulhos silenciosos e olhar que realmente vê. Cada passo atravessa a pressão de se provar, lembrando que para ser, respirar e existir já é suficiente. Como diz o próprio filme, "sob o luar, garotos negros parecem azuis", pois muitas vezes, a tristeza e a vulnerabilidade deles precisam se esconder, e Chiron vive essa impossibilidade de se mostrar por completo. É nesse instante de delicadeza, de quietude e presença, que percebemos que a vida pode se abrir nos pequenos gestos.


sábado, 30 de agosto de 2025

Mais que um diploma: a coragem de escolher novos caminhos

Você já reparou como essa fase da vida, em que todo mundo começa a falar de vestibular, faculdade e "escolher um futuro", nos deixa ansiosos? Parece que a qualquer momento você precisa ter um plano perfeito, escolher uma profissão certeira aos 17, 18 anos e nunca mais poder mudar. Mas e se não for bem assim..


E se a faculdade não for o único caminho? Hoje o mercado de trabalho está cheio de profissões que não exigem um diploma universitário, mas sim habilidade, dedicação e curiosidade. Temos como exemplo:

Produtor de eventos, responsável por planejar e organizar diversos tipos de eventos como aniversários, casamentos, produções empresariais e culturais. O produtor fica responsável por fazer contato com os fornecedores, acompanhar os bastidores e a execução dos eventos. 

Analista de dados, responsável por traduzir dados brutos em informações estratégicas, fornecendo insights que contribuem para a tomada de decisões organizacionais.

Designer de experiência do usuário é um profissional focado em criar e otimizar a jornada de um utilizador ou cliente com um produto, serviço ou sistema, garantindo que a interação seja funcional, intuitiva e agradável.

Fotógrafo, profissional responsável por capturar imagens, registrar momentos, paisagens, pessoas ou objetos, utilizando câmeras e equipamentos especializados para planejar cenas, enquadrar registros e ajustar a iluminação, resultando em fotografias que ilustram momentos e transmitem emoções.

Web designer é o profissional responsável por criar elementos visuais para websites, layout, a aparência e a praticidade de uma página na internet. Seu trabalho é pautado em princípios de design, incluindo seleção de cores, tipografia, imagens e outros elementos gráficos para criar uma experiência funcional para os usuários.

Especialista em sustentabilidade, a profissão pouco conhecida se dedica a promover práticas ambientalmente responsáveis, suas funções incluem analisar impactos, formular políticas, implementar estratégias e engajar partes interessadas para garantir o equilíbrio entre aspectos ambientais, sociais e econômicos.

E claro, existem aquelas carreiras que não exigem uma faculdade longa, mas sim cursos específicos e bem direcionados. Profissões como exemplo são:

 Comissário(a) de voo, responsável por garantir a segurança e o conforto dos passageiros durante o voo, precisa de um curso técnico e abre portas para um trabalho cheios de experiências pelo mundo.

Técnicos em enfermagem, o profissional responsável por prestar cuidados básicos  a pacientes em hospitais e unidades de saúde, monitorando sinais vitais, preparando instrumentos e administrando medicamentos sob a supervisão de médicos e enfermeiros.

Programador é o profissional responsável por desenvolver, testar e manter códigos que dão vida a softwares, sistemas e aplicativos, utilizando linguagens de programação como Python, Java ou C++.

Profissionais de estética são responsáveis por cuidar da aparência e bem-estar de seus clientes, oferecendo tratamentos de limpeza de pele, massagens, drenagem linfática e procedimentos para rejuvenescimento e hidratação de pele, corpo e cabelos.

Mas aqui vai um ponto importante, não fazer faculdade não significa deixar os estudos de lado. O conhecimento continua sendo essencial. Seja em cursos técnicos, profissionalizantes, online ou até no aprendizado por conta própria, estudar é o que vai garantir que você cresça e esteja pronto para as oportunidades que aparecem, tanto no mercado de trabalho quanto na vida.

Agora pensa, por que acreditar que uma única escolha vai definir sua vida inteira? O que você decide hoje pode ser incrível, mas pode mudar e tudo bem. Você pode se redescobrir, mudar de área, descobrir novas paixões e começar de novo. Isso não é fracasso, é evolução. Então, se você está nessa fase cheia de dúvidas, respira. O futuro não é uma condenação. É um caminho que você constrói aos poucos, e ele pode ser refeito quantas vezes você quiser. O mais importante não é ter todas as respostas agora, mas sim acreditar que você pode escrever várias versões da sua própria história. 


quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Como usar Charlie Brown Jr. na redação ENEM?

    "Ei, tu não sabe o que que aconteceu? Os caras do Charlie Brown invadiram sua redação do ENEM!" É notório entre os jovens um grande fascínio pela banda Charlie Brown Jr., relembrada por seus ensinamentos sobre amor, letras enriquecedoras moralmente e dissidências políticas. Entretanto, temos em mesa (e ouvidos) um fato esclarecedor: Chorão deixou um legado inimaginável na vida de quem escolhe escutar suas letras, portanto, por que não usar esse vício diário em nossas vidas acadêmicas pessoais?


    Seguem enumerados, desse modo, trechos de composições que podem ser facilmente memorizados e utilizados em sua escrita no vestibular.

Desigualdade social e política

    1. É Quente: O cantor brasileiro Chorão sintetiza de forma ácida a desigualdade social ao afirmar: “Em um país sem dente, é feliz quem come o ovo.” O verso escancara como a precariedade é normalizada, fazendo com que a sobrevivência mínima seja tratada como conquista. Esse olhar crítico mostra o quanto a desigualdade é invisibilizada e até romantizada, revelando um cenário de abandono social que continua a ser ignorado.

    2. Pontes Indestrutíveis: “Tem gente que desanda por falta de opção.” A frase denuncia como a ausência de oportunidades empurra muitas pessoas para trajetórias de exclusão e violência. O verso reforça que a marginalidade não é apenas resultado de escolhas individuais, mas consequência de estruturas sociais falhas que deixam milhares sem alternativa real de futuro.

    3. Vida De Magnata: “Vida de magnata, mordomia e mesa farta, futilidade que alimenta a desgraça, enquanto o povo se mata.” Aqui, a crítica é direta à desigualdade de classes, pois enquanto uma pequena elite vive em excesso e luxo, a maioria enfrenta miséria e luta diária por sobrevivência. É um verso que confronta privilégios e mostra o abismo social brasileiro.

    4. Eu Protesto: “Enquanto o povo vai vivendo de migalhas, eles inventam outro imposto para vocês.” Esse trecho traz uma crítica clara à corrupção e à exploração por parte de setores do poder público, reforçando a importância de questionar como o sistema funciona e como decisões políticas impactam diretamente na vida da população.

Juventude e educação

    5. Não É Sério: “O jovem no Brasil não é levado a sério.” O verso mostra como a juventude muitas vezes é desvalorizada, sob a ideia de que apenas os mais velhos têm razão. Isso acaba silenciando o potencial de transformação dos jovens, limitando sua participação em debates importantes e reforçando estereótipos injustos.

    6. O Preço: “Sem perceber larguei a escola, fui para a rua aprender.” O trecho revela como as dificuldades sociais podem levar à evasão escolar. É um retrato fiel de muitos jovens que abandonam os estudos por falta de apoio e condições adequadas, reforçando a necessidade de políticas públicas que garantam acesso e permanência na escola.

    7. Sem Medo Da Escuridão: “Informação manipulada contribui para a formação da juventude limitada.” A frase alerta para o impacto das fake news, que distorcem a realidade e dificultam o desenvolvimento do pensamento crítico. Esse cenário compromete a formação de jovens e acaba produzindo cidadãos menos preparados para lidar com os desafios da sociedade.

Meio ambiente

    8. Inabalavelmente: “Reciclando o lixo de tudo de errado que a humanidade fez.” Responsabiliza, de modo metafórico, os erros ambientais acumulados ao longo do tempo. Sob esse prisma, a frase pode ser associada aos impactos da ação humana na degradação da natureza, como o acúmulo de resíduos e a poluição, mas também a um alerta: é possível reconstruir caminhos mais sustentáveis a partir da consciência e da responsabilidade coletiva.

Saúde mental e autoconhecimento

    9. I Feel So Good Today: “Corpos livres, mentes perdidas, gente que ainda sonha com uma nova vida.” Evidencia a tensão entre a liberdade individual e os impactos da sociedade sobre a saúde mental, ao mesmo tempo em que a música reconhece a vulnerabilidade psicológica, tendo em vista que ressalta a capacidade de resiliência e esperança. Em síntese, sugere que, mesmo em contextos adversos, o ser humano busca se reinventar e manter a autonomia sobre sua vida e seus sonhos.

Repertório coringa

    10. Lutar Pelo Que É Meu: Por fim, o verso “cada escolha, uma renúncia, isso é a vida” traz um ensinamento universal e filosófico, útil em praticamente qualquer tema de redação. Ele reforça a ideia de que as decisões humanas, individuais ou coletivas, possuem consequências, o que dialoga diretamente com debates sobre responsabilidade social, ética e cidadania. 

    Para finalizar, como diria Chorão em “Tamo Aí na Atividade”: “Eu nasci pobre, mas não nasci otário”, lembrando que, mesmo diante de desafios, é possível pensar, agir e escrever como protagonista da própria história. Rumo nota mil!


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Redação em Streaming: transformando entretenimento em argumento

Quando o tema da redação chega sempre bate aquele friozinho na barriga e nos perguntamos “será que tenho conhecimento suficiente para falar sobre isso?” mas a resposta pode ser mais fácil do que você imagina. Sabe aquela cena marcante que ficou na sua cabeça por dias? Ou aquela série que depois de assistir te fez pensar “que crítica impressionante”? Tudo isso pode ser usado como argumento na sua redação. Aquele suspense político? Pode virar exemplo de democracia. Aquele filme infantil? Pode passar uma mensagem de ética.




Como usar?

Obras audiovisuais são muito mais que entretenimento, elas são reflexos da nossa sociedade, que mostram tanto nossa atualidade quanto nossa história, são portais para outras culturas e ferramentas poderosas para a educação e a reflexão crítica. Você pode usar obras audiovisuais na introdução e no desenvolvimento do seu texto. Isso vale para a redação dissertativo-argumentativa, que é a pedida do Enem e na maioria dos vestibulares. A dica principal é sempre contextualizar a obra. Não precisa dar um resumo completo, apenas mencione os detalhes que se conectam diretamente com o tema da sua redação. E lembre-se de não exagerar. Tentar citar muitas coisas só para mostrar que tem repertório pode acabar prejudicando sua argumentação. O ideal é usar uma ou duas citações bem escolhidas e bem explicadas.



Ainda estou aqui (2024)
Disponível no Globoplay



Esse filme aborda a história real de Eunice Paiva, uma mulher que lutou bravamente contra o regime militar e pela memória de seu marido, Rubens Paiva, um militante político desaparecido. O filme é uma poderosa ferramenta para discutir a Ditadura Militar no Brasil, a violência de Estado, a luta pelos direitos humanos e a busca incansável por justiça e verdade. Também pode ser usado para exemplificar a resiliência da sociedade civil diante da opressão, o papel da memória histórica e a importância de não esquecer os crimes cometidos pelo Estado. É um filme excelente para debater a democracia e os desafios que ela enfrenta.



Que horas ela volta? (2015)
Disponível no Globoplay, Netflix, Prime video e Youtube




O famoso filme usado em redações conta a história de Val, uma empregada doméstica que se muda para São Paulo na esperança de dar uma vida melhor para a filha. A trama levanta questões sobre relações de classe, herança da escravidão e a hierarquia social no Brasil. Ele é um ótimo exemplo para falar sobre desigualdade social, invisibilidade do trabalho doméstico e falta de mobilidade social. A relação entre Val e a filha, que não aceita as limitações da profissão da mãe, também abre espaço para discutir a quebra de padrões e a luta por direitos.



De volta para o futuro (1985)
Disponível no Globoplay e Prime video



Mesmo sendo ficção, esse clássico pode aparecer em redações sobre tecnologia e inovação. A história levanta reflexões sobre como nossas ações de hoje influenciam o futuro, além de mostrar a ligação entre passado e presente. Também é uma boa referência para discutir ética, responsabilidade na criação de novas tecnologias e o impacto da ciência na vida das pessoas.



Cidade de Deus (2002)
Disponível na HBO Max, Globoplay, Prime video, Paramount+ e Netflix



O filme retrata a violência e a criminalidade nas favelas do Rio de Janeiro, mostrando como a falta de oportunidades e a desigualdade social moldam a vida de jovens e comunidades inteiras. É uma ferramenta poderosa para discutir exclusão social, violência urbana e a fragilidade das instituições públicas. Você pode usar o filme para argumentar sobre a marginalização social, os efeitos da desigualdade econômica e a necessidade de políticas públicas de inclusão, educação e segurança.



Getúlio (2014)
Disponível na Netflix e Globoplay




O filme mostra os últimos dias do presidente Getúlio Vargas, mostrando os dilemas políticos, a pressão da mídia e a crise institucional no Brasil. É uma ferramenta poderosa para discutir política, história e os desafios da democracia. Podemos usar o filme para argumentar sobre instabilidade governamental, tomada de decisões em momentos críticos e a importância de compreender o contexto histórico para analisar os acontecimentos políticos.



Hotel Ruanda (2004)
Disponível na Prime video




Baseado em fatos reais, o filme narra o genocídio de Ruanda, um dos piores massacres da história. Ele destaca a violência étnica, a falta de intervenção internacional e a banalização do mal. É um filme essencial para discutir direitos humanos, a responsabilidade da comunidade internacional em crises humanitárias e o perigo do ódio e da intolerância.



O dilema das redes (2020)
Disponível na Netflix




Este documentário explora o impacto das redes sociais na sociedade, expondo como as plataformas são projetadas para viciar e manipular os usuários. É um recurso valioso para discutir a saúde mental na era digital, a disseminação de fake news, a posição política e a perda de privacidade. Pode-se usar esse filme para argumentar sobre a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia e a necessidade de uma educação digital mais aprofundada para a população.



Meninas (2006)
Disponível no Youtube e Prime video




O documentário acompanha a vida de quatro adolescentes grávidas e suas famílias. É um recurso valioso para discutir a gravidez na adolescência, a falta de educação sexual, a vulnerabilidade social e o impacto da maternidade precoce na vida das jovens. Também podemos usá-lo para argumentar sobre a necessidade de políticas de saúde pública.



Guerras do Brasil.doc (2019)
Disponível na Netflix




Essa série documental explora os diferentes conflitos que moldaram a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses. É uma excelente fonte para contextualizar o genocídio indígena, a escravidão, a luta por território e a formação da identidade nacional. Útil para debater as raízes históricas dos problemas sociais atuais e a violência estrutural presente na sociedade brasileira. A série apresenta conflitos como a guerra do Paraguai e a guerra dos Palmares e a Revolução de 1930.



Holocausto Brasileiro (2016)
Disponível na Netflix




O documentário expõe a história do Hospital Colônia de Barbacena, que internou milhares de pessoas de forma desumana. É um material chocante que revela a negligência do Estado, a exclusão social e a violência institucional. É uma fonte poderosa para discutir a saúde mental, o tratamento inadequado de pessoas com deficiência e a estigmatização de minorias. Você pode usá-lo para argumentar sobre a falha do sistema de saúde e a necessidade de uma reforma psiquiátrica mais humanizada.



Os outros (2023)
Disponível no Globoplay




A série mostra como são complexas as relações em um condomínio, abordando temas como violência urbana, fragilidade das leis e falta de diálogo entre as pessoas. Ela pode servir para mostrar como a justiça com as próprias mãos e a ausência de mediação de conflitos podem levar a situações extremas. É um ótimo exemplo para falar sobre ética, convivência em sociedade e as consequências de nossas escolhas.



Sob Pressão (2017)
Disponível no Globoplay




A série, que se passa em um hospital público do Rio de Janeiro, expõe a precarização da saúde pública no Brasil. Ela mostra o dia a dia dos profissionais de saúde, que enfrentam a falta de recursos, a burocracia e o sofrimento dos pacientes. Podemos usar a série para argumentar sobre a necessidade de investimentos na área da saúde, a desigualdade no acesso e o papel dos profissionais na garantia de direitos.



Maid (2021)
Disponível na Netflix




A série acompanha a história de Alex, uma jovem mãe que foge de um relacionamento abusivo e trabalha como faxineira para sustentar a filha. É um material rico para discutir a violência doméstica, a pobreza, o abandono estatal e a invisibilidade das mulheres em situação de vulnerabilidade. Essa série é ótima para debater a falta de amparo social, as dificuldades para sair de um ciclo de violência e a luta pela dignidade.



The handmaid´s tale- O conto da Aia (2017)
Disponível no Disney+, Globoplay, Prime video e Paramount+




Essa distopia mostra uma sociedade autoritária onde as mulheres são oprimidas e usadas para procriar. É uma série essencial para discutir o machismo, a perda de direitos, a opressão de gênero e a ameaça de regimes autoritários. É uma série importante para alertar sobre o perigo do retrocesso social, a violência contra a mulher e a importância da luta por direitos civis e reprodutivos.


No fim das contas, maratonar séries ou assistir filmes pode ser mais útil do que você imagina. Cada história que te marcou pode virar argumento, cada documentário impactante pode mostrar seu ponto de vista, basta escolher bem, contextualizar e deixar a sua redação cheia de repertório, sem exageros. Porque, no fim, o que conta mesmo é mostrar pensamento crítico e conexão com o mundo e isso a cultura pop faz como ninguém!

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Jogos Vorazes não era ficção: o fascismo está batendo à porta

    “Are you, are you, coming to the tree? Where they strung up a man they say murdered three…” Este famoso trecho da canção presente na distopia de Jogos Vorazes nos traz um questionamento consolidado: nossa realidade atual está tão distante daquela apresentada pela soturna Panem?

    Panem é o país fictício onde se passa a história dos filmes, dividido em 12 distritos (antes 13), marcados por um forte desfavorecimento econômico, e uma Capital tão abundante em riquezas, que as pessoas tomam remédios para vomitar e comer ainda mais. Nesse país, acontecem os irreverentes Jogos Vorazes, nos quais são selecionados dois tributos de cada distrito para participar de uma competição mortal, um “lute ou morra”, televisionada para todos. É uma clara metáfora do controle autoritário, da desigualdade social e da manipulação das massas.


    O filme também nos apresenta o Presidente Snow, líder responsável por comandar toda a organização dos jogos: carismático, sempre bem arrumado e dotado de grande sabedoria. Pelo menos, era essa a imagem que queria passar.


    Porém, como uma pequena pedra no sapato, há uma estranheza nessa personalidade, pois por trás do discurso de “gente como a gente”, ele se mostra um sádico. Analogamente, autoridades atuais cultivam exibições ultranacionalistas, um nacionalismo extremo que exalta a superioridade de um povo e despreza os outros, criam inimigos comuns, adotam atitudes antidemocráticas e autoritárias, sendo aclamados pelo povo que, como pássaros surdos, não ouvem o inimigo chegar e derrubar seus ninhos.


    Autores contemporâneos como Umberto Eco e Enzo Traverso alertam que o fascismo não volta com as mesmas roupas: ele se atualiza, se disfarça, se adapta às dinâmicas das redes sociais. O filósofo Zygmunt Bauman, em sua análise da “modernidade líquida”, mostra como os vínculos sociais se fragilizaram, e nesse vazio afetivo e político, líderes autoritários se fortalecem, cultivando um terreno fértil para discursos de ódio e soluções simplistas.

    

    Assim, podemos notar que líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro são grandes exemplos dessa realidade. Assim como Snow manipulava a população com a transmissão dos jogos, oprimia revoltas dos chamados “distritos rebeldes” com extrema crueldade e banalizava vidas, Trump e Bolsonaro se organizam em atitudes semelhantes. Ambos atacaram a ciência, usaram fake news (notícias falsas criadas para manipular a opinião pública) para se manter no poder e criaram slogans ultranacionalistas, como “Make America Great Again” e “Deus, Pátria e Família”, alimentando o ódio contra seus inimigos: Trump contra os imigrantes, Bolsonaro contra minorias e opositores.


    Além disso, eles promovem uma glorificação da ordem e da força, apoiando violência policial e ataques simbólicos contra grupos vulneráveis. Assim, um presidente que explicitamente elogia mortes por policiais e oferece vanglória ao torturador Brilhante Ustra como um “herói nacional”, não está realmente comprometido com a população. Em um país que passou por uma ditadura militar, e de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos últimos dez anos (2013 a 2023), houve aumento na letalidade policial no país em 188,9%, isso é um ataque extremo.



    Paralelamente, na obra cinematográfica, a Capital monopoliza toda forma de comunicação, a única "mídia" existente é a transmissão oficial, usada para manter ignorantes o conjunto social dos distritos. Hoje, essa manipulação acontece de forma diferente, mas com efeito semelhante. Líderes como Trump usaram as redes sociais para controlar narrativas, espalhar fake news e dividir a sociedade. A invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 é um exemplo real do que acontece quando o discurso autoritário alcança milhões e incita violência contra as instituições democráticas.


    Dados mostram que o fascismo volta com novas roupas e não é exclusividade do Brasil ou dos Estados Unidos. Na Hungria, por exemplo, sob o governo de Viktor Orbán, vemos um avanço autoritário onde a mídia é censurada, o judiciário controlado e minorias atacadas com discursos nacionalistas. Assim como em Panem, a opressão se naturaliza, a verdade é distorcida e o medo se torna arma de controle, enquanto o povo se destrói entre si e os poderosos assistem friamente, alimentando-se do caos que eles mesmos criaram.


    Nesse cenário, Katniss Everdeen surge como símbolo de resistência. Ela representa os grupos minoritários que tentam se rebelar, apesar da opressão e do medo, sua coragem é o fogo que pode incendiar as estruturas da tirania. E é esse fogo que precisamos manter aceso, para não deixarmos que o fascismo volte a dominar, sob qualquer máscara.


Para saber mais:


Fascismo : ontem e hoje – SciELO

"Modernidade líquida" – artigo explicativo (PePSIC / BVS)

Enzo Traverso – “As novas faces do fascismo” (resenha/entrada em português)

“O Fascismo Eterno” – Umberto Eco (texto em português / versão disponível)

Reportagem sobre Bolsonaro elogiando Brilhante Ustra (Poder360 / VEJA)

BBC News Brasil – Vídeo explicativo: o que aconteceu no ataque ao Capitólio (6 jan/2021)

TCC e trabalhos que relacionam Jogos Vorazes e fascismo (ex.: ESIC / UNISINOS)




sábado, 28 de junho de 2025

Erga-se sobre a carteira: o grito dos poetas

    No início de A Sociedade dos Poetas Mortos, somos apresentados a uma escola onde tudo é tradição, regra e medo: um lugar onde os jovens aprendem latim, matemática e comportamento, mas quase nunca a escutar a própria voz, pois não são pessoas em formação, e sim, futuros médicos, engenheiros ou advogados, logo, expectativas acumuladas em ternos bem passados.



    E então chega o professor Keating, um corpo estranho naquele ambiente de ordem, um adulto que fala de poesia como se ela fosse urgência. Quando diz “Carpe diem: aproveitem o dia e façam suas vidas extraordinárias”, alguma coisa se acende.


    O “Carpe Diem” que Keating traz não é um convite à irresponsabilidade, mas um desafio de não adiar quem se é, a vista de um mundo que ensina que a vida só começa depois do vestibular, do diploma, do emprego, do casamento. Mas quantos de nós já nos sentimos sufocados por esse roteiro que não escrevemos? Quantos já deixaram um talento morrer em silêncio pra seguir o que esperavam? O filme nos lembra que a juventude não é só um intervalo entre infância e maturidade, é o momento mais potente de revolução pessoal que temos.


Quando a arte vira resistência


    Os garotos fundam a Sociedade dos Poetas Mortos num lugar escondido da escola, sendo este um esconderijo no meio da floresta, um espaço onde eles recitam poesias, falam de amor, de morte, de sonhos e de liberdade. A floresta, nesse caso, é mais que cenário: é metáfora de tudo que é selvagem, que não se dobra, que ainda pulsa, onde cada encontro é um ato de fuga, e toda fuga é uma tentativa de existir com verdade.


    É nesse espaço que eles se descobrem vivos, pois percebem que também têm direito ao erro e à voz, dessa forma, o filme mostra que a poesia não é um luxo intelectual, mas uma forma de resistência, porque quem escreve sua própria história, se nega a ser personagem do script alheio, logo, talvez por isso o sistema tente sufocar tudo o que Keating representa, porque ele ameaça o controle, ensinando a pensar. E pensar, nesse mundo, é perigoso.


    E aí entra uma das cenas mais fortes: quando Neil, um jovem sensível, talentoso e apaixonado por teatro, se vê forçado pelo pai a abandonar seus sonhos. Quando faz o papel de Puck em Sonho de uma Noite de Verão, e na noite seguinte... ele se vai. É devastador, porque mostra que a liberdade sem espaço vira solidão, e a repressão demais vira luto.




“Oh capitão, meu capitão”: o último gesto de coragem


    O final de Sociedade dos Poetas Mortos é um dos mais belos do cinema, pois quando Sr. Keating é expulso, a escola restaura a ordem e o silêncio volta a dominar, mas, naquele momento em que ele vai embora pela última vez, um a um, os alunos começam a se levantar sobre as carteiras. Um gesto pequeno, entretanto, imenso, pois eles desafiam a autoridade, não com grito, mas com memória, e acima de tudo, gratidão.


    Dizer “Oh capitão, meu capitão” é dizer: você me ensinou a ver o mundo com os próprios olhos, e agora eles não conseguem mais se fechar.


Imagem da cena em que os alunos se erguem sobre as carteiras e,
em uníssono, entoam “Oh Capitão, meu Capitão!”


Esse filme é um chamado pra nós, visto que em um tempo em que ainda se apagam vozes nas escolas, em que ainda se mata a arte nas grades do currículo, em que se espera que jovens sejam obedientes e não conscientes, Sociedade dos Poetas Mortos é um lembrete: viver não é só passar de fase, é ter coragem de viver o que pulsa em você, mesmo que ninguém aplauda.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Entre o progresso e o perigo: o mau uso da inteligência artificial

  Você já conversou com uma máquina hoje? Talvez sem nem perceber, ao pedir uma música para a assistente do celular ou ao receber uma sugestão de vídeo na internet, você teve contato com a inteligência artificial (IA). Fascinante, não é? A IA está cada vez mais presente em nossas vidas, tornando as tarefas mais rápidas, precisas e até mais “inteligentes”, nos ajudando a responder as coisas complexas com mais certeza e te dando aquela sensação de que tudo é mais fácil. Agora, pensa comigo, com tudo ficando mais realista como vídeos, fotos, notícias e até esse texto aqui, você ainda consegue dizer com certeza o que foi feito por um humano e o que foi gerado por IA? À medida que os algoritmos evoluem, será que estamos prontos para lidar com as consequências? Tanto as visíveis quanto as que nem imaginamos?

Fonte: Imagem de Rometheme Std, Canva.

 Pois é, esse texto acima foi escrito por uma ferramenta de inteligência artificial, o famoso ChatGPT, tão conhecido e utilizado por diversas pessoas. Nos dias atuais é comum que as plataformas de inteligência artificial como Gemini, Deepseek, Bing Chat e outras,  ganhem cada dia mais visibilidade e desenvolvimento, em especial, entre os estudantes de todo o mundo, para resolver questões, produzir redações, solucionar exercícios e até resumindo textos. De fato isso torna nossa rotina muito mais prática e simples, mas será que todos usam as IAs de maneira correta?

  No começo pode parecer algo inofensivo pedir para a inteligência artificial produzir um trabalho completo para você, mas com o tempo isso pode gerar vários problemas. Quando deixamos a IA fazer de tudo por nós paramos de nos esforçar para criar e resolver coisas básicas, isso interfere e atrapalha no processo de aprendizado que os estudantes devem passar para compreender o assunto e de fato aprender, você pode tirar a nota mais alta da sala, mas sem o conhecimento essa nota não vale de nada. Quanto mais você utiliza essas plataformas mais dependente você fica delas, o que era para ser um “apoio” acaba virando um impasse para fazer qualquer coisa sozinho, e isso complica na hora que você deve tomar decisões importantes, na hora da prova ou em uma entrevista de emprego. Muitas vezes sem perceber estamos tão dependentes que já vamos direto para as plataformas sem ao menos ler a atividade ou tentar fazer.

  Além disso, sabemos que hoje com apenas alguns comandos podemos criar imagens e vídeos de maneira muito realista, o que no começo foi usado para criar memes, acabou desencadeando um forte aumento nas fake news, o que antes eram só mensagens e compartilhamentos considerados como fofoca hoje são entregues em forma de vídeos com a imagem de qualquer pessoa (na maioria das vezes figuras públicas), contendo sua voz de maneira que sua imagem se torne totalmente manipulável, aplicando golpes e as prejudicando no meio digital.

  Em todos esses exemplos o ponto atacado em comum é a confiança. Usar a IA de forma irresponsável afeta a confiança dos alunos e prejudica seu desenvolvimento pessoal, da mesma forma que usar a IA de maneira imprudente nas redes sociais pode nos fazer perder a confiança na fala das pessoas e nas notícias publicadas. Assim voltando para o começo do texto, será que ainda conseguimos distinguir uma informação apresentada por um humano e uma informação gerada pela inteligência artificial?

  Em geral, a IA não é uma vilã, mas vale lembrar que ela também não é a solução para tudo, é uma ferramenta que você escolhe como usar. Sendo usada com responsabilidade, as IAs podem ser muito úteis ajudando a fazer cronogramas de estudos, explicando matérias e conteúdos, oferecer ideias, traduzir idiomas entre diversas outras funções.  

E aí, vai usar a IA para crescer ou para se esconder?