quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Redação em Streaming: transformando entretenimento em argumento

Quando o tema da redação chega sempre bate aquele friozinho na barriga e nos perguntamos “será que tenho conhecimento suficiente para falar sobre isso?” mas a resposta pode ser mais fácil do que você imagina. Sabe aquela cena marcante que ficou na sua cabeça por dias? Ou aquela série que depois de assistir te fez pensar “que crítica impressionante”? Tudo isso pode ser usado como argumento na sua redação. Aquele suspense político? Pode virar exemplo de democracia. Aquele filme infantil? Pode passar uma mensagem de ética.




Como usar?

Obras audiovisuais são muito mais que entretenimento, elas são reflexos da nossa sociedade, que mostram tanto nossa atualidade quanto nossa história, são portais para outras culturas e ferramentas poderosas para a educação e a reflexão crítica. Você pode usar obras audiovisuais na introdução e no desenvolvimento do seu texto. Isso vale para a redação dissertativo-argumentativa, que é a pedida do Enem e na maioria dos vestibulares. A dica principal é sempre contextualizar a obra. Não precisa dar um resumo completo, apenas mencione os detalhes que se conectam diretamente com o tema da sua redação. E lembre-se de não exagerar. Tentar citar muitas coisas só para mostrar que tem repertório pode acabar prejudicando sua argumentação. O ideal é usar uma ou duas citações bem escolhidas e bem explicadas.



Ainda estou aqui (2024)
Disponível no Globoplay



Esse filme aborda a história real de Eunice Paiva, uma mulher que lutou bravamente contra o regime militar e pela memória de seu marido, Rubens Paiva, um militante político desaparecido. O filme é uma poderosa ferramenta para discutir a Ditadura Militar no Brasil, a violência de Estado, a luta pelos direitos humanos e a busca incansável por justiça e verdade. Também pode ser usado para exemplificar a resiliência da sociedade civil diante da opressão, o papel da memória histórica e a importância de não esquecer os crimes cometidos pelo Estado. É um filme excelente para debater a democracia e os desafios que ela enfrenta.



Que horas ela volta? (2015)
Disponível no Globoplay, Netflix, Prime video e Youtube




O famoso filme usado em redações conta a história de Val, uma empregada doméstica que se muda para São Paulo na esperança de dar uma vida melhor para a filha. A trama levanta questões sobre relações de classe, herança da escravidão e a hierarquia social no Brasil. Ele é um ótimo exemplo para falar sobre desigualdade social, invisibilidade do trabalho doméstico e falta de mobilidade social. A relação entre Val e a filha, que não aceita as limitações da profissão da mãe, também abre espaço para discutir a quebra de padrões e a luta por direitos.



De volta para o futuro (1985)
Disponível no Globoplay e Prime video



Mesmo sendo ficção, esse clássico pode aparecer em redações sobre tecnologia e inovação. A história levanta reflexões sobre como nossas ações de hoje influenciam o futuro, além de mostrar a ligação entre passado e presente. Também é uma boa referência para discutir ética, responsabilidade na criação de novas tecnologias e o impacto da ciência na vida das pessoas.



Cidade de Deus (2002)
Disponível na HBO Max, Globoplay, Prime video, Paramount+ e Netflix



O filme retrata a violência e a criminalidade nas favelas do Rio de Janeiro, mostrando como a falta de oportunidades e a desigualdade social moldam a vida de jovens e comunidades inteiras. É uma ferramenta poderosa para discutir exclusão social, violência urbana e a fragilidade das instituições públicas. Você pode usar o filme para argumentar sobre a marginalização social, os efeitos da desigualdade econômica e a necessidade de políticas públicas de inclusão, educação e segurança.



Getúlio (2014)
Disponível na Netflix e Globoplay




O filme mostra os últimos dias do presidente Getúlio Vargas, mostrando os dilemas políticos, a pressão da mídia e a crise institucional no Brasil. É uma ferramenta poderosa para discutir política, história e os desafios da democracia. Podemos usar o filme para argumentar sobre instabilidade governamental, tomada de decisões em momentos críticos e a importância de compreender o contexto histórico para analisar os acontecimentos políticos.



Hotel Ruanda (2004)
Disponível na Prime video




Baseado em fatos reais, o filme narra o genocídio de Ruanda, um dos piores massacres da história. Ele destaca a violência étnica, a falta de intervenção internacional e a banalização do mal. É um filme essencial para discutir direitos humanos, a responsabilidade da comunidade internacional em crises humanitárias e o perigo do ódio e da intolerância.



O dilema das redes (2020)
Disponível na Netflix




Este documentário explora o impacto das redes sociais na sociedade, expondo como as plataformas são projetadas para viciar e manipular os usuários. É um recurso valioso para discutir a saúde mental na era digital, a disseminação de fake news, a posição política e a perda de privacidade. Pode-se usar esse filme para argumentar sobre a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia e a necessidade de uma educação digital mais aprofundada para a população.



Meninas (2006)
Disponível no Youtube e Prime video




O documentário acompanha a vida de quatro adolescentes grávidas e suas famílias. É um recurso valioso para discutir a gravidez na adolescência, a falta de educação sexual, a vulnerabilidade social e o impacto da maternidade precoce na vida das jovens. Também podemos usá-lo para argumentar sobre a necessidade de políticas de saúde pública.



Guerras do Brasil.doc (2019)
Disponível na Netflix




Essa série documental explora os diferentes conflitos que moldaram a história do Brasil, desde a chegada dos portugueses. É uma excelente fonte para contextualizar o genocídio indígena, a escravidão, a luta por território e a formação da identidade nacional. Útil para debater as raízes históricas dos problemas sociais atuais e a violência estrutural presente na sociedade brasileira. A série apresenta conflitos como a guerra do Paraguai e a guerra dos Palmares e a Revolução de 1930.



Holocausto Brasileiro (2016)
Disponível na Netflix




O documentário expõe a história do Hospital Colônia de Barbacena, que internou milhares de pessoas de forma desumana. É um material chocante que revela a negligência do Estado, a exclusão social e a violência institucional. É uma fonte poderosa para discutir a saúde mental, o tratamento inadequado de pessoas com deficiência e a estigmatização de minorias. Você pode usá-lo para argumentar sobre a falha do sistema de saúde e a necessidade de uma reforma psiquiátrica mais humanizada.



Os outros (2023)
Disponível no Globoplay




A série mostra como são complexas as relações em um condomínio, abordando temas como violência urbana, fragilidade das leis e falta de diálogo entre as pessoas. Ela pode servir para mostrar como a justiça com as próprias mãos e a ausência de mediação de conflitos podem levar a situações extremas. É um ótimo exemplo para falar sobre ética, convivência em sociedade e as consequências de nossas escolhas.



Sob Pressão (2017)
Disponível no Globoplay




A série, que se passa em um hospital público do Rio de Janeiro, expõe a precarização da saúde pública no Brasil. Ela mostra o dia a dia dos profissionais de saúde, que enfrentam a falta de recursos, a burocracia e o sofrimento dos pacientes. Podemos usar a série para argumentar sobre a necessidade de investimentos na área da saúde, a desigualdade no acesso e o papel dos profissionais na garantia de direitos.



Maid (2021)
Disponível na Netflix




A série acompanha a história de Alex, uma jovem mãe que foge de um relacionamento abusivo e trabalha como faxineira para sustentar a filha. É um material rico para discutir a violência doméstica, a pobreza, o abandono estatal e a invisibilidade das mulheres em situação de vulnerabilidade. Essa série é ótima para debater a falta de amparo social, as dificuldades para sair de um ciclo de violência e a luta pela dignidade.



The handmaid´s tale- O conto da Aia (2017)
Disponível no Disney+, Globoplay, Prime video e Paramount+




Essa distopia mostra uma sociedade autoritária onde as mulheres são oprimidas e usadas para procriar. É uma série essencial para discutir o machismo, a perda de direitos, a opressão de gênero e a ameaça de regimes autoritários. É uma série importante para alertar sobre o perigo do retrocesso social, a violência contra a mulher e a importância da luta por direitos civis e reprodutivos.


No fim das contas, maratonar séries ou assistir filmes pode ser mais útil do que você imagina. Cada história que te marcou pode virar argumento, cada documentário impactante pode mostrar seu ponto de vista, basta escolher bem, contextualizar e deixar a sua redação cheia de repertório, sem exageros. Porque, no fim, o que conta mesmo é mostrar pensamento crítico e conexão com o mundo e isso a cultura pop faz como ninguém!

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Jogos Vorazes não era ficção: o fascismo está batendo à porta

    “Are you, are you, coming to the tree? Where they strung up a man they say murdered three…” Este famoso trecho da canção presente na distopia de Jogos Vorazes nos traz um questionamento consolidado: nossa realidade atual está tão distante daquela apresentada pela soturna Panem?

    Panem é o país fictício onde se passa a história dos filmes, dividido em 12 distritos (antes 13), marcados por um forte desfavorecimento econômico, e uma Capital tão abundante em riquezas, que as pessoas tomam remédios para vomitar e comer ainda mais. Nesse país, acontecem os irreverentes Jogos Vorazes, nos quais são selecionados dois tributos de cada distrito para participar de uma competição mortal, um “lute ou morra”, televisionada para todos. É uma clara metáfora do controle autoritário, da desigualdade social e da manipulação das massas.


    O filme também nos apresenta o Presidente Snow, líder responsável por comandar toda a organização dos jogos: carismático, sempre bem arrumado e dotado de grande sabedoria. Pelo menos, era essa a imagem que queria passar.


    Porém, como uma pequena pedra no sapato, há uma estranheza nessa personalidade, pois por trás do discurso de “gente como a gente”, ele se mostra um sádico. Analogamente, autoridades atuais cultivam exibições ultranacionalistas, um nacionalismo extremo que exalta a superioridade de um povo e despreza os outros, criam inimigos comuns, adotam atitudes antidemocráticas e autoritárias, sendo aclamados pelo povo que, como pássaros surdos, não ouvem o inimigo chegar e derrubar seus ninhos.


    Autores contemporâneos como Umberto Eco e Enzo Traverso alertam que o fascismo não volta com as mesmas roupas: ele se atualiza, se disfarça, se adapta às dinâmicas das redes sociais. O filósofo Zygmunt Bauman, em sua análise da “modernidade líquida”, mostra como os vínculos sociais se fragilizaram, e nesse vazio afetivo e político, líderes autoritários se fortalecem, cultivando um terreno fértil para discursos de ódio e soluções simplistas.

    

    Assim, podemos notar que líderes como Donald Trump e Jair Bolsonaro são grandes exemplos dessa realidade. Assim como Snow manipulava a população com a transmissão dos jogos, oprimia revoltas dos chamados “distritos rebeldes” com extrema crueldade e banalizava vidas, Trump e Bolsonaro se organizam em atitudes semelhantes. Ambos atacaram a ciência, usaram fake news (notícias falsas criadas para manipular a opinião pública) para se manter no poder e criaram slogans ultranacionalistas, como “Make America Great Again” e “Deus, Pátria e Família”, alimentando o ódio contra seus inimigos: Trump contra os imigrantes, Bolsonaro contra minorias e opositores.


    Além disso, eles promovem uma glorificação da ordem e da força, apoiando violência policial e ataques simbólicos contra grupos vulneráveis. Assim, um presidente que explicitamente elogia mortes por policiais e oferece vanglória ao torturador Brilhante Ustra como um “herói nacional”, não está realmente comprometido com a população. Em um país que passou por uma ditadura militar, e de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos últimos dez anos (2013 a 2023), houve aumento na letalidade policial no país em 188,9%, isso é um ataque extremo.



    Paralelamente, na obra cinematográfica, a Capital monopoliza toda forma de comunicação, a única "mídia" existente é a transmissão oficial, usada para manter ignorantes o conjunto social dos distritos. Hoje, essa manipulação acontece de forma diferente, mas com efeito semelhante. Líderes como Trump usaram as redes sociais para controlar narrativas, espalhar fake news e dividir a sociedade. A invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 é um exemplo real do que acontece quando o discurso autoritário alcança milhões e incita violência contra as instituições democráticas.


    Dados mostram que o fascismo volta com novas roupas e não é exclusividade do Brasil ou dos Estados Unidos. Na Hungria, por exemplo, sob o governo de Viktor Orbán, vemos um avanço autoritário onde a mídia é censurada, o judiciário controlado e minorias atacadas com discursos nacionalistas. Assim como em Panem, a opressão se naturaliza, a verdade é distorcida e o medo se torna arma de controle, enquanto o povo se destrói entre si e os poderosos assistem friamente, alimentando-se do caos que eles mesmos criaram.


    Nesse cenário, Katniss Everdeen surge como símbolo de resistência. Ela representa os grupos minoritários que tentam se rebelar, apesar da opressão e do medo, sua coragem é o fogo que pode incendiar as estruturas da tirania. E é esse fogo que precisamos manter aceso, para não deixarmos que o fascismo volte a dominar, sob qualquer máscara.


Para saber mais:


Fascismo : ontem e hoje – SciELO

"Modernidade líquida" – artigo explicativo (PePSIC / BVS)

Enzo Traverso – “As novas faces do fascismo” (resenha/entrada em português)

“O Fascismo Eterno” – Umberto Eco (texto em português / versão disponível)

Reportagem sobre Bolsonaro elogiando Brilhante Ustra (Poder360 / VEJA)

BBC News Brasil – Vídeo explicativo: o que aconteceu no ataque ao Capitólio (6 jan/2021)

TCC e trabalhos que relacionam Jogos Vorazes e fascismo (ex.: ESIC / UNISINOS)




sábado, 28 de junho de 2025

Erga-se sobre a carteira: o grito dos poetas

    No início de A Sociedade dos Poetas Mortos, somos apresentados a uma escola onde tudo é tradição, regra e medo: um lugar onde os jovens aprendem latim, matemática e comportamento, mas quase nunca a escutar a própria voz, pois não são pessoas em formação, e sim, futuros médicos, engenheiros ou advogados, logo, expectativas acumuladas em ternos bem passados.



    E então chega o professor Keating, um corpo estranho naquele ambiente de ordem, um adulto que fala de poesia como se ela fosse urgência. Quando diz “Carpe diem: aproveitem o dia e façam suas vidas extraordinárias”, alguma coisa se acende.


    O “Carpe Diem” que Keating traz não é um convite à irresponsabilidade, mas um desafio de não adiar quem se é, a vista de um mundo que ensina que a vida só começa depois do vestibular, do diploma, do emprego, do casamento. Mas quantos de nós já nos sentimos sufocados por esse roteiro que não escrevemos? Quantos já deixaram um talento morrer em silêncio pra seguir o que esperavam? O filme nos lembra que a juventude não é só um intervalo entre infância e maturidade, é o momento mais potente de revolução pessoal que temos.


Quando a arte vira resistência


    Os garotos fundam a Sociedade dos Poetas Mortos num lugar escondido da escola, sendo este um esconderijo no meio da floresta, um espaço onde eles recitam poesias, falam de amor, de morte, de sonhos e de liberdade. A floresta, nesse caso, é mais que cenário: é metáfora de tudo que é selvagem, que não se dobra, que ainda pulsa, onde cada encontro é um ato de fuga, e toda fuga é uma tentativa de existir com verdade.


    É nesse espaço que eles se descobrem vivos, pois percebem que também têm direito ao erro e à voz, dessa forma, o filme mostra que a poesia não é um luxo intelectual, mas uma forma de resistência, porque quem escreve sua própria história, se nega a ser personagem do script alheio, logo, talvez por isso o sistema tente sufocar tudo o que Keating representa, porque ele ameaça o controle, ensinando a pensar. E pensar, nesse mundo, é perigoso.


    E aí entra uma das cenas mais fortes: quando Neil, um jovem sensível, talentoso e apaixonado por teatro, se vê forçado pelo pai a abandonar seus sonhos. Quando faz o papel de Puck em Sonho de uma Noite de Verão, e na noite seguinte... ele se vai. É devastador, porque mostra que a liberdade sem espaço vira solidão, e a repressão demais vira luto.




“Oh capitão, meu capitão”: o último gesto de coragem


    O final de Sociedade dos Poetas Mortos é um dos mais belos do cinema, pois quando Sr. Keating é expulso, a escola restaura a ordem e o silêncio volta a dominar, mas, naquele momento em que ele vai embora pela última vez, um a um, os alunos começam a se levantar sobre as carteiras. Um gesto pequeno, entretanto, imenso, pois eles desafiam a autoridade, não com grito, mas com memória, e acima de tudo, gratidão.


    Dizer “Oh capitão, meu capitão” é dizer: você me ensinou a ver o mundo com os próprios olhos, e agora eles não conseguem mais se fechar.


Imagem da cena em que os alunos se erguem sobre as carteiras e,
em uníssono, entoam “Oh Capitão, meu Capitão!”


Esse filme é um chamado pra nós, visto que em um tempo em que ainda se apagam vozes nas escolas, em que ainda se mata a arte nas grades do currículo, em que se espera que jovens sejam obedientes e não conscientes, Sociedade dos Poetas Mortos é um lembrete: viver não é só passar de fase, é ter coragem de viver o que pulsa em você, mesmo que ninguém aplauda.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Entre o progresso e o perigo: o mau uso da inteligência artificial

  Você já conversou com uma máquina hoje? Talvez sem nem perceber, ao pedir uma música para a assistente do celular ou ao receber uma sugestão de vídeo na internet, você teve contato com a inteligência artificial (IA). Fascinante, não é? A IA está cada vez mais presente em nossas vidas, tornando as tarefas mais rápidas, precisas e até mais “inteligentes”, nos ajudando a responder as coisas complexas com mais certeza e te dando aquela sensação de que tudo é mais fácil. Agora, pensa comigo, com tudo ficando mais realista como vídeos, fotos, notícias e até esse texto aqui, você ainda consegue dizer com certeza o que foi feito por um humano e o que foi gerado por IA? À medida que os algoritmos evoluem, será que estamos prontos para lidar com as consequências? Tanto as visíveis quanto as que nem imaginamos?

Fonte: Imagem de Rometheme Std, Canva.

 Pois é, esse texto acima foi escrito por uma ferramenta de inteligência artificial, o famoso ChatGPT, tão conhecido e utilizado por diversas pessoas. Nos dias atuais é comum que as plataformas de inteligência artificial como Gemini, Deepseek, Bing Chat e outras,  ganhem cada dia mais visibilidade e desenvolvimento, em especial, entre os estudantes de todo o mundo, para resolver questões, produzir redações, solucionar exercícios e até resumindo textos. De fato isso torna nossa rotina muito mais prática e simples, mas será que todos usam as IAs de maneira correta?

  No começo pode parecer algo inofensivo pedir para a inteligência artificial produzir um trabalho completo para você, mas com o tempo isso pode gerar vários problemas. Quando deixamos a IA fazer de tudo por nós paramos de nos esforçar para criar e resolver coisas básicas, isso interfere e atrapalha no processo de aprendizado que os estudantes devem passar para compreender o assunto e de fato aprender, você pode tirar a nota mais alta da sala, mas sem o conhecimento essa nota não vale de nada. Quanto mais você utiliza essas plataformas mais dependente você fica delas, o que era para ser um “apoio” acaba virando um impasse para fazer qualquer coisa sozinho, e isso complica na hora que você deve tomar decisões importantes, na hora da prova ou em uma entrevista de emprego. Muitas vezes sem perceber estamos tão dependentes que já vamos direto para as plataformas sem ao menos ler a atividade ou tentar fazer.

  Além disso, sabemos que hoje com apenas alguns comandos podemos criar imagens e vídeos de maneira muito realista, o que no começo foi usado para criar memes, acabou desencadeando um forte aumento nas fake news, o que antes eram só mensagens e compartilhamentos considerados como fofoca hoje são entregues em forma de vídeos com a imagem de qualquer pessoa (na maioria das vezes figuras públicas), contendo sua voz de maneira que sua imagem se torne totalmente manipulável, aplicando golpes e as prejudicando no meio digital.

  Em todos esses exemplos o ponto atacado em comum é a confiança. Usar a IA de forma irresponsável afeta a confiança dos alunos e prejudica seu desenvolvimento pessoal, da mesma forma que usar a IA de maneira imprudente nas redes sociais pode nos fazer perder a confiança na fala das pessoas e nas notícias publicadas. Assim voltando para o começo do texto, será que ainda conseguimos distinguir uma informação apresentada por um humano e uma informação gerada pela inteligência artificial?

  Em geral, a IA não é uma vilã, mas vale lembrar que ela também não é a solução para tudo, é uma ferramenta que você escolhe como usar. Sendo usada com responsabilidade, as IAs podem ser muito úteis ajudando a fazer cronogramas de estudos, explicando matérias e conteúdos, oferecer ideias, traduzir idiomas entre diversas outras funções.  

E aí, vai usar a IA para crescer ou para se esconder?




quinta-feira, 29 de maio de 2025

Cinema de Micro-ondas: a fórmula que amamos engolir

Sabe aquele prato rápido que a gente esquenta no micro-ondas? Quente por fora, meio gelado por dentro, mas dá para engolir? Pois é, parece até o cinema que consumimos hoje, com embalagens bonitas, efeitos impressionantes, atores consagrados e uma fórmula já conhecida de olhos fechados: herói, conflito, vilão carismático, piadas colocadas no ponto certo e um final épico ao som de uma trilha que nos manda sentir o que talvez nem sentiríamos sozinhos. Sentamos, apertamos o play, deixamos acontecer, quase como um piloto automático que consome sem nem mastigar direito.



Estamos tão habituados a esse tipo de consumo que esquecemos que a arte, quando é potente, não vem fácil, não é servida pronta. Ela exige tempo, exige incômodo, exige que a gente sinta de verdade, pois como diria Adorno, não vivemos sob uma "cultura de massa", mas sim sob a lógica da indústria cultural, um sistema que transforma arte em produto, obra em mercadoria, sensibilidade em algoritmo. Desse modo, quando tudo vira fórmula, a gente desaprende a pensar, e isso é um projeto.


Quando o cinema incomoda, ele liberta


Enquanto isso, o cinema brasileiro, que morde, cutuca, sangra e abraça, segue marginalizado, rotulado como “difícil” e “sem graça”, assim, filmes como Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, desconstroem o conforto com uma delicadeza brutal, escancarando hierarquias escondidas no cotidiano, e Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, mistura faroeste com crítica política, oferecendo um Brasil que se defende e se reinventa. São filmes que pedem ao espectador um olhar desperto, disposto a lidar com desconfortos, silêncios e raivas, pois não são feitos para serem esquecidos no dia seguinte.


Além disso, existe ainda o velho e incômodo complexo de vira-lata, expressão apresentada por Nelson Rodrigues para descrever a forma como muitos brasileiros enxergam o que é nacional como inferior. Fomos treinados a torcer o nariz para nossa própria arte, a desconfiar do que nos espelha demais, a achar que o que vem de fora é sempre melhor, mais bonito. Mas essa lógica serve a quem?



Só mastiga quem tem tempo?


É nesse ponto que outra questão aparece, talvez mais incômoda ainda: mas então, só mastiga quem tem tempo?


Talvez. Em um país onde milhões de indivíduos vivem jornadas exaustivas, dobram turnos, pegam dois ônibus para chegar em casa e ainda têm que cozinhar, cuidar dos filhos, lidar com boletos e cansaços profundos, quem é que tem energia para assistir algo que exija pausa e reflexão? É verdade: muitas vezes, o cinema fácil é o que cabe e é o que alivia. E esse alívio também importa, também tem seu espaço, mas é aí que mora a armadilha, à vista disso, se só o que alivia é o que chega até nós, quando teremos acesso ao que incomoda e liberta?


A verdade é que esse desequilíbrio não é neutro, fique atento, porque a arte, e o cinema com ela, nunca foram imparciais. Existe uma engrenagem poderosa por trás das grandes narrativas, uma concentração de decisões e recursos nas mãos daqueles que ocupam posições historicamente privilegiadas, que determinam o que chega às telas, e o que nos é oferecido, muitas vezes, não nos representando. Como alerta Chimamanda Adichie em seu TED O perigo de uma única história (2009), quando ouvimos apenas um tipo de narrativa, passamos a acreditar que ela é a única verdade possível, e isso nos impede de nos enxergarmos como protagonistas, nos empurra para um papel secundário dentro das nossas próprias histórias. Talvez o caminho esteja em romper com essa lógica e buscar uma escuta maior, onde vozes historicamente silenciadas possam finalmente reverberar, porque enquanto continuarmos sendo narrados por outros, continuaremos a ser coadjuvantes de enredos que não nos pertencem.


Conclusão: arte ou alívio?


Nós precisamos parar de consumir só o que já vem pronto, tendo em vista que nem tudo no cinema pode ser micro-ondas, às vezes é preciso mastigar, pensar e buscar filmes que incomodam, que fogem da fórmula. Assim, a arte é capaz de emancipar, mas só se estivermos dispostos a sair do automático. Mas então, eles servem, você engole: até quando?


Para saber mais:


Chimamanda Adichie: o perigo de uma única história (TED)

Trailer Oficial Novo - Que Horas Elas Volta?

Bacurau | Trailer Oficial







terça-feira, 22 de outubro de 2024

Já pensou em ter os seus sonhos gravados?

    Pensar em ter seus próprios sonhos gravados por alguma tecnologia parece uma utopia, né? Mas está cada dia mais próximo de se tornar uma realidade. O ser humano tem feito a  tecnologia avançar rompendo com barreiras, limites e sem pensar o quanto pode ser desastroso.



    Segundo o Jornal Time Entertainment, publicado dia 29 de setembro de 2024, pesquisadores japoneses desenvolveram um equipamento que pode revolucionar a história da humanidade, um gravador de sonhos, que permite gravar e posteriormente assistir, assim como um streaming. O dispositivo de gravação de sonhos funciona a partir de imagens obtidas através de ressonância magnética que registram as atividades neurais detalhadamente. Depois essas imagens codificadas são traduzidas por uma inteligência artificial (IA), que vem mostrando uma precisão de tradução de 60%, podendo chegar até 70% quando o sonho possui foco em pessoas, objetos, etc. Essa tecnologia ainda está em fase inicial, sendo testada em voluntários.

Paralelamente, a série da Netflix, "Black Mirror" retrata as manipulações da inteligência artificial na vida dos personagens e o quão negativo podem ser os impactos dessa relação. O mais interessante é que a maioria dos personagens vivenciam algo muito semelhante aos nossos cotidianos, nos mostrando que essas tecnologias consideradas “utópicas” estão próximas de serem vividas. Na temporada 1, episódio 3 “The Entire History for You” nos deparamos com a possibilidade de rever as próprias memórias sozinho ou compartilhado em uma TV, a partir de um chip chamado “grão” implantado no cérebro. Nesse sentido, o protagonista desconfia que sua esposa está o traindo, o que faz com ele fique obsessivo por detalhes das memórias gravadas, as quais ele reassiste a todo momento para tentar encontrar algum sinal da suposta traição. Além disso, quando o personagem desconfia das falas de sua esposa, ele a obriga a compartilhar as memórias na tv para rebate-las. Isso faz com que a relação do casal seja possessiva e agressiva. Também nos mostra que os nossos dados gravados não cabe só a nós, mas sim aos outros também, o que pode ser extremamente invasivo, assim como o sonhos que são codificadas. Será que seria positivo outras pessoas terem acesso aos nossos sonhos? 

  Afinal de contas, até que ponto o uso da tecnologia é ético? E o quanto estamos dispostos a permitir que ela controle parte ou toda a nossa vida? Como diz o ditado popular "há dois lados na moeda", o lado negativo, mas também há o lado positivo, visto que essa nova tecnologia proporcionará muitos avanços, principalmente na área da saúde, onde poderá agregar na psicologia, por exemplo, possibilitando uma análise mais profundo do paciente. O que você me diz sobre isso? Deixe nos comentários.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Romantize sua vida

     Se você gosta de assistir os reels do Instagram ou os vídeos curtos do TikTok, com certeza já deve ter visto alguém falar sobre romantizar a vida. Esse conceito é mais uma das tendências que a pandemia da Covid19 nos proporcionou e que perdura até hoje. Caso nunca tenha ouvido sobre esse tema, essa frase “romantize sua vida” pode parecer uma frivolidade, mas, conhecendo mais sobre isso e descobrindo que tem benefícios, você mesmo vai querer aplicar essa prática.

Romantizar a vida é uma forma de enxergar beleza onde há rotina, ou seja, em pequenas coisas do dia a dia. A tendência propõe que encontremos felicidade no presente e que aproveitemos mais as nossas vidas, ao invés de viver esperando pelas férias ou pelos finais de semana. A influência tem como proposta romantizar a vida em coisas básicas, sem a necessidade de gerar gastos. Você pode praticar a tendência tirando fotos bonitas, dançando sua música favorita ou apreciando o pôr do sol, por exemplo.

Os especialistas dizem que esse hábito é uma vertente da “mindfulness” – atenção plena – que é uma técnica para desenvolver consciência sobre o seu corpo e sua mente através da atenção no momento presente. Foi comprovado pela psicologia, que esse exercício proporciona relaxamento, reduz a depressão, melhora o sono e as atividades físicas. Outra inspiração também pode ter sido o costume dinamarquês denominado “hygge”, que é basicamente o bem-estar do estilo de vida dos dinamarqueses, considerados como o povo mais feliz do mundo, que inclui conforto e lares quentes. Em suma, romantizar a vida é uma forma de buscar constantemente a felicidade em aspectos do presente, sem idealizar o que não é acessível. 

Mas atenção!

Você não pode evitar os acontecimentos ruins do cotidiano, mas pode mudar a forma como os enxerga e não deixar a vida passar sem que você perceba. Contudo, é importante fazer isso da forma correta, ou seja, não resumir sua vida as postagens bonitas e aos recortes desses momentos “românticos”, mas sim encarar a realidade. Na vida passamos por altos e baixos, então temos que enfrentar os desafios do presente para não criar um mundo irreal onde não existem situações difíceis.

A vida é cheia de momentos especiais, por isso aprecie a natureza, explore novos hobbies, celebre até as pequenas conquistas, agradeça pelas coisas simples e aproveite o presente com um sorriso no rosto! Comece agora mesmo, parando um pouco, olhando ao redor e percebendo o quão bom é estar vivendo neste momento.

 Até a próxima!

Gostou do conteúdo e acha que ele pode ajudar alguém? Compartilhe e deixe seu feedback, é muito importante para produzirmos mais matérias do interesse de vocês. De terça-feira te esperamos com novidades no blog! 

Nos acompanhem nas redes socias: Instagram - @xepamexida e Spotify - XepaCast.