sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Subculturas no IFSP Salto (Parte 1)

Subculturas não são vitrines exóticas nem estatísticas de tendência: são modos de vida estéticos, políticos e afetivos, que as pessoas criam para se reconhecer, resistir e inventar possibilidades de pertencimento. Neste blog vou me aproximar dessas experiências com atenção histórica e empatia. Para manter o sigilo sobre quem confidencia suas histórias, usarei nomes fictícios e alterarei detalhes identificadores sempre que necessário. 

Entrevistador: Qual é a sua subcultura e como você começou a se interessar por ela?

Téo Moura (2º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Eu me considero punk, mas antes de tudo é importante dizer o que entendo por ser punk. O punk nasceu nos anos 1970 como uma revolta jovem; ele se desdobra em várias vertentes e cenas (oi!, ska, hardcore, skinheads associados a certas tradições, entre outras), cada uma com sua cultura e suas referências. No geral, para mim, punk é pensar por si mesmo e questionar o sistema, embora nem sempre seja fácil dizer exatamente qual sistema precisamos criticar.

Minha entrada nesse universo não foi direta pelo punk: comecei ouvindo rock e metal quando criança, por influência do meu pai e da minha irmã, bandas como Pearl Jam, Black Sabbath, Metallica, Soundgarden, Nightwish e System of a Down. Foi especialmente o System of a Down, com letras mais críticas, que me fisgou. Aos poucos formei minha primeira banda e fui mergulhando ainda mais no metal, mas sentia falta de letras mais contundentes. Adorava Slayer, Kreator e Sepultura justamente por esse tom crítico: músicas que tratavam de guerra, de poder e de injustiças, incluindo reflexões sobre o nazismo e sobre episódios violentos como o Massacre do Carandiru, e canções que falavam do Brasil e de conflitos globais me intrigavam.

Acabei chegando ao punk por identificação com a ideia de anarquia e com a crítica política, embora não me considere um anarquista absoluto. Comecei com Ramones e Sex Pistols e hoje ouço tanto punk quanto metal, por isso curto muito crossover. O que mais me interessa são as letras: bandas como Ratos de Porão, Suicidal Tendencies (especialmente material crítico à política da era Reagan), Sacred Reich e Sodom, que abordam imperialismo e poder; Bad Religion, com letras filosóficas; e, principalmente, Dead Kennedys. Jello Biafra é uma influência grande para mim por suas letras satíricas e diretas, músicas como “Kill the Poor”, “California Über Alles”, “Police Truck” e “Soup Is Good Food” mostram bem esse tom.

Indivíduos com moicano, roupas remendadas e sinais DIY (patches, zines
ou cartazes) em ação direta. O estilo é também tática, recusa das normas,
 produção própria e construção de redes de ajuda e resistência.

Entrevistador: Você já teve problemas ou conflitos na escola por causa da sua subcultura?

Téo Moura (2º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Incrivelmente, nunca. Em nenhuma escola tive problema com isso. Apenas ganhei o apelido de "Téo do Rock" na minha atual escola, particularmente, eu gostei. No máximo, pessoas interagem comigo apenas fazendo o sinal do rock, que eu não sei como responder. Mesmo fora da escola, me sinto seguro. Os próprios eventos de punk ou metal não são perigosos, mas sempre é bom tomar cuidado com quem você interage.

Entrevistador: Qual é a sua subcultura e como você começou a se interessar por ela?

Naya Campos (3º ano Ensino Técnico Integrado ao Médio): Bom, eu sou do hip-hop. Desde que me entendo por gente, eu colava em batalha de rima porque meu pai, quando era mais jovem, tinha minha idade, uns 17/18 anos, também participava e vivia o movimento de perto. Com o tempo ele acabou se afastando, porque passou a achar aquele ambiente meio pesado: muita gente fumando e usando coisa, e ele não se identificava. Mesmo assim, o rap nunca deixou de estar presente na minha vida. Nos almoços de família tocava sertanejo, samba, pagode... mas também Racionais MC’s, Sabotage, 509-E, Dexter, o rap nacional sempre teve lugar em casa. Aí eu cresci e, com o passar dos anos, comecei eu mesma a colar nos eventos de hip-hop, ocupando os espaços que, de alguma forma, sempre fizeram parte da minha história.

E o hip-hop salva vidas. Eu vi muitas vidas sendo salvas dentro do hip-hop, pelo hip-hop. E a minha vida, eu digo que também foi salva pelo hip-hop, porque o Slam poesia, me encontrou no momento em que eu mais estava mal, de vida e de tudo isso. Então, quando eu achava que eu não tinha nada, o hip-hop me mostrou que eu tinha tudo, sabe? E me ensinou muito. Ainda me ensina, né?

Foi muito marcante quando comecei a batalhar. Na Batalha do Campo Bonito, eu era a única menina, tanto rimando quanto na plateia. Eu cheguei na final, perdi, mas tudo bem. Na semana seguinte, tinha muito mais meninas lá, rimando e assistindo. Pra mim, isso já é tudo. O hip-hop salva vidas, eu vi isso acontecer com outras pessoas e comigo também.

O palco vira arquivo e tribunal. Rimas e movimento corporal articulam
 memória do bairro, denúncia e ocupação do espaço público.

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