segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Equívoco na língua: palavras e expressões racistas

 Palavras dizem muito sobre a história e a cultura de uma sociedade. Já parou pra pensar em quantos termos racistas reproduzimos em nosso dia a dia, sem sequer perceber? Alguns são óbvios, outros nem tanto. Uma das maiores provas de que o preconceito e a opressão social ainda permanecem enraizados na nossa sociedade, é que termos e expressões ofensivas e abomináveis são tratados como naturais no nosso cotidiano. 



Mais de 300 anos de passado escravista não se apagam facilmente. Em 2009, o professor de biologia Luiz Henrique Rosa fez um levantamento no Rio de Janeiro. Junto com seus alunos, contabilizou 360 termos de cunho racista, no projeto “Qual é a graça”. Isso só na escola em que ele leciona. Quando expressões como “mulata” ou “a coisa tá preta” se tornam naturais, é indício do quanto a opressão e o preconceito estão incorporados à visão de mundo das pessoas, entre sutilezas, brincadeiras e aparentes elogios. 

Precisamos aprender para nunca mais errar. Seguem alguns exemplos para que sirvam de aprendizado:


DENEGRIR 

Pela origem da palavra quer dizer "tornar negro". Remete a ideia que tudo que é associado ao negro é negativo, é ruim.

SINÔNIMOS: Difamar.


MERCADO NEGRO / HUMOR NEGRO / LISTA NEGRA

Traz a mesma premissa de denegrir, de dar a ideia uma ideia negativa e pejorativa para tudo que é ligado ao negro. Porque é negro é ruim? É errado?

SINÔNIMOS/ALTERNATIVAS: Mercado clandestino / Humor ácido / Lista proibida.





 DOMÉSTICA

Negros eram tratados como animais rebeldes e que precisavam de “corretivos”, para serem “domesticados”.

SINÔNIMOS: Funcionária / Empregada.


“NÃO SOU TUAS NEGAS”

A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. 


MULATA

A palavra faz referência a "cor de mula". Ou seja, compara uma pessoa negra com um animal.





"A COISA TÁ PRETA"

A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.


NHACA

Nhaca é uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Bantu. Chamam de inhaca o odor corporal, relacionado a um povo preto. 

SINÔNIMOS/ALTERNATIVAS: Má cheiro, forte odor.


CRIADO MUDO

Era o escravizado ou criado que ficava em pé, ao lado da cama a noite toda em silêncio, normalmente segurando água e objetos para servir os "senhores".

SINÔNIMOS/ALTERNATIVAS: Mesa de cabeceira. 


MÉNDEZ, Chrystal. 8 expressões racistas que você usa sem saber. Portal Geledés, 19 nov. 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/18-expressoes-racistas-que-voce-usa-sem-saber/. Acesso em: 14 nov. 2020.

RODRIGUES DUTRA, Danilo. Termos racistas presente no vocabulário brasileiro: (e alternativas para substituí-los). Mundo negro, 15 maio 2020. Disponível em: https://mundonegro.inf.br/termos-racistas-presentes-no-vocabulario-brasileiro-e-alternativas-para-substitui-los/. Acesso em: 14 nov. 2020.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

O uso da linguagem neutra

 


            A linguagem neutra foi criada para evitar o binarismo, e se tornar uma forma de inclusão para pessoas não-binárias (que não se identificam 100% com um dos gêneros binários, masculino e feminino), que não são incluídas com a flexão de gênero em palavras. Além da inclusão, o uso da linguagem neutra também ajuda a diminuir a taxa de suicídio de pessoas não-binárias, por se sentirem representadas, incluídas e com suas identidades respeitadas.

Nessa publicação, vamos apresentar as formas mais comuns de utilizar a linguagem neutra, mas caso deseje uma leitura mais aprofundada sobre o tema, recomendamos que acesse o "Guia para 'Linguagem Neutra' (PT-BR) de Ophelia Cassiano, e também o “O ‘x’ e o ‘@’ não são a solução: Sistema Elu | Linguagem Neutra em Género” de Pedro Valente.




Mas antes de falar sobre o uso da linguagem neutra, é importante ressaltar que nem todas as pessoas não-binarias necessariamente vão querer utilizar dessa linguagem. Quando se referir a uma pessoa, é fundamental que você pergunte de que forma ela prefere ser chamada, para não faltar com respeito ao se referir para a pessoa.

           Existe uma forma neutra de se usar termos que possuem flexão de gênero, que é o uso de “x” ou “@”, substituindo a vogal que denomina a flexão de gênero, como “todxs” ou “tod@s”. Mas essa forma é considerada falha, pois apesar de funcionar na forma escrita, não funciona na leitura e na forma oral, além de não funcionar com pessoas que possuem deficiência visual e utilizam aplicativos para leitura através do som, e dificulta a leitura para pessoas com dislexia.



              Formas de uso da linguagem neutra:

 

  •      Regra do “E”: para palavras que possuem flexão de gênero no final, com o uso de “-o” para indicar o gênero masculino e “-a” para o gênero feminino, é utilizada a substituição dessas vogais pelo “-e”, ou “-es”, caso esteja no plural.

Exemplos:   Aluna / Todos -> Alune/ Todes

  •     Caso uma palavra termine com “-co” para indicar o gênero masculino e “-ca” para indicar o gênero feminino, é utilizada a substituição dessas sílabas por “-que”, ou “-ques”, caso esteja no plural.

Exemplos: Transfóbica/ Médicos - > Transfóbique/ Médiques

  •    Caso uma palavra termine com “-go” para indicar o gênero masculino e “-ga” para indicar o gênero feminino, é utilizada a substituição dessas sílabas por “-gue”, ou “-gues”, caso esteja no plural.

Exemplos: Amiga / Psicólogos -> Amigue/ Psicólogues

  •    Caso uma palavra termine com “-r” para indicar o gênero masculino e “-ra” para indicar o gênero feminino, é utilizada a substituição dessas sílabas por “-rie”, ou “-ries”, caso esteja no plural.

Exemplos: Pintora/ Cantores -> Pintorie/ Cantories

  •    Caso uma palavra termine com “-ão” para indicar o gênero masculino e “-ã” para indicar o gênero feminino, é utilizada a substituição dessas sílabas por “-ãe”, ou “-ães”, caso esteja no plural.

Exemplos: Órfã/ Irmãos -> Órfãe/ Irmães

  •    Para substituir o uso dos artigos “o” para indiciar o gênero masculino e “a” para o gênero feminino, é utilizado o “ê” como artigo.

Exemplo: O(a) motorista -> Ê motorista

             


              Pronomes na linguagem neutra

 

  •    Para substituir o pronome pessoal “ele” para indicar gênero masculino e “ela” para gênero feminino, é utilizado o pronome “elu”, ou “elus”, caso esteja no plural.

Exemplo: Ela comeu muito. -> Elu comeu muito.

  •     Para substituir a contração “dele” para indicar gênero masculino e “dela” para gênero feminino, é utilizado o pronome “delu”, ou “delus”, caso esteja no plural.

Exemplo: A bolsa dele é azul -> A bolsa delu é azul.

  •    Para substituir a contração “nele” para indicar gênero masculino e “nela” para gênero feminino, é utilizado o pronome “nelu”, ou “nelus”, caso esteja no plural.

Exemplo: Dei um abraço nelas -> Dei um abraço nelus.

  •    Para substituir o pronome demonstrativo “aquele” para indicar gênero masculino e “aquela” para gênero feminino, é utilizado o pronome “aquelu”, ou “aquelus”, caso esteja no plural.

Exemplo: Aquela menina é inteligente -> Aquelu menine é inteligente.

 

              Além de todas essas formas de utilizar a linguagem neutra, também existe a possibilidade de substituir palavras que utilizam a flexão de gênero, por palavras que não a utilizam.

Exemplo: Alunos/Alunas devem fazer a prova até amanhã -> Estudantes devem fazer a prova até amanhã.

 Para concluir, recomendo que assista o vídeo de Rita Von Hunty, do canal Tempero Drag a respeito da linguagem neutra, e também que leia o artigo publicado por Margot-Ann Bachi dos Santos, uma mulher transgênero, a respeito de sua visão sobre o assunto.

VALENTE, Pedro. O “x” e o “@” não são a solução: Sistema Elu | Linguagem Neutra em Género. Medium, 3 abr. 2020. Disponível em: https://medium.com/@pedrosttv/sistema-elu-linguagem-neutra-em-g%C3%A9nero-pt-pt-9529ed3885cf. Acesso em: 19 out. 2020.

LINGUAGEM não-binária ou neutra. Wiki Identidades, 2015. Disponível em: https://identidades.wikia.org/pt-br/wiki/Linguagem_n%C3%A3o-bin%C3%A1ria_ou_neutra. Acesso em: 19 out. 2020.

RODRIGUES, Mari. Linguagem neutra e a chacota nossa de cada dia. Ecoa, 19 set. 2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/mari-rodrigues/2020/09/19/linguagem-neutra-e-a-chacota-nossa-de-cada-dia.htm. Acesso em: 19 out. 2020.

CASSIANO, Ophelia. Guia para "Linguagem Neutra" (PT-BR). Medium, 30 set. 2019. Disponível em: https://medium.com/guia-para-linguagem-neutra-pt-br/guia-para-linguagem-neutra-pt-br-f6d88311f92b. Acesso em: 19 out. 2020.

sábado, 17 de outubro de 2020

A importância dos manguezais brasileiros

 Manguezal, mangue ou mangal é uma zona úmida, definida como “ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho. A fauna dos mangues é representada por peixes, moluscos (caramujos e ostras), crustáceos (camarões e caranguejos) e aves (urubus, gaivotas e garças). Além desses já citados, os manguezais também abrigam milhares de pequenos organismos, que se alimentam dos nutrientes presentes nesse bioma.



Garça-real


Os manguezais ocupam uma área de aproximadamente 10 mil quilômetros quadrados no Brasil, estendendo-se do Amapá a Santa Catarina. No entanto, a degradação desse bioma tem se intensificado, sobretudo em razão do desmatamento, poluição dos rios, lançamento de esgoto residencial e industrial, derramamento de petróleo e construção de residências em áreas de mangue.




Ele é de fundamental importância para o equilíbrio ambiental e para a manutenção da vida marinha, pois esse bioma abriga uma grande biodiversidade e consiste em um berçário natural para várias espécies marinhas, onde peixes, moluscos e crustáceos se reproduzem e se alimentam. Eles também são extremamente importantes para a diminuição dos gases do efeito estufa, a conservação de manguezais não apenas previne a perda de habitats, mas também ajuda a regular as emissões de carbono. 
Os manguezais também agem como protetores da linha da costa. Ficou provado, depois do tsunami que aconteceu na Indonésia em 2004, que as áreas onde havia mangues foram menos danificadas. Por quê? Porque os manguezais agem como uma barreira, diminuindo a força das águas que invadiram a parte continental. Mais um serviço prestado: a contenção da erosão natural que ocorre em regiões costeiras.






No fim de setembro, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) revogou, por articulação do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), três resoluções sobre temas ambientais. Uma delas, a de nº 303, de 2002, tratava da proteção das áreas de mangues (além de restingas e dunas). No fim de setembro deste ano, o Conama revogou quatro resoluções que tratavam de diferentes áreas da política ambiental do país. Duas das resoluções eliminadas restringiam o desmatamento e a ocupação em áreas de restinga, manguezais e dunas. Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil são unânimes: o fim da resolução do Conama vai impactar as áreas de mangue. Mesmo que estas estejam formalmente protegidas pelo Código Florestal, os detalhes de como se dava esta proteção eram dados pela resolução.


POR QUE decisão de Ricardo Salles sobre manguezais representa 'volta no tempo' de quase 500 anos. BBC News Brasil, 8 out. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54461270. Acesso em: 14 out. 2020.

A IMPORTÂNCIA do manguezal. Saiba mais sobre os mangues. Estadão, 1 maio 2017. Disponível em: https://marsemfim.com.br/a-importancia-do-manguezal/. Acesso em: 14 out. 2020.



















sábado, 10 de outubro de 2020

A arte do drag

 

            Drag queens, também chamadas de transformistas, são pessoas (em sua grande maioria homens cisgênero) que se vestem como mulheres para realizar performances artísticas, com o uso de perucas, roupas extravagantes e criativas e salto altos, para dançar, dublar e até mesmo cantar músicas em boates e shows.

              A arte do drag é uma forma de abraçar seu lado feminino e mostrar outras personalidades, é uma forma de se libertar e liberar seu lado mais excêntrico e diferente. Além das drag queens, também existem os drag kings, que se vestem como homens.



              Diferente do que algumas pessoas imaginam, o ato de se montar não tem relação com identidade de gênero nem orientação sexual. Identidade de gênero é como uma pessoa se identifica, seja como mulher, homem ou não-binária, enquanto a orientação sexual é sobre o gênero que a pessoa possui atração sexual, como heterossexuais, homossexuais, bissexuais, pansexuais e diversos outros.

               A arte drag se tornou cada vez mais conhecida graças ao reality show Rupaul’s Drag Race, apresentado por RuPaul Charles, uma das drag queens mais conhecidas do mundo, mas também apresentador, ator, produtor, modelo, cantor, compositor e autor. A partir do programa, RuPaul alavancou o sucesso da arte drag em geral, expandindo sua fama além dos Estados Unidos, e hoje tem um sucesso internacional, com um grande número de fãs e amantes dessa arte.



Rupaul Charles

              Rupaul’s Drag Race é uma competição onde drag queens disputam pelo grande prêmio final, em diversas provas, como confeccionar seus próprios looks a partir de materiais específicos, provas de atuação, de dança e dublagem (também conhecido com lipsync), provas de canto e de personificação de celebridades.  O reality show atualmente possui 12 temporadas, além de outras variações, como Canada’s Drag Race, Drag Race Thailand ou Drag Race UK.

              No Brasil, a arte drag atualmente possui grandes nomes, como Pabllo Vittar, a drag queen com mais seguidores no Instagram, e Glória Groove, cantora e rapper, com grandes sucessos na música, além de Lia Clark e Aretuza Lovi, duas drag queens influentes na música.



                            





           Aretuza Lovi, Gloria Groove, Lia Clark e Pabllo Vittar

              Apesar de haver drag queens renomadas, com grande sucesso, ainda existem empecilhos para as drag queens que desejam exercer o drag como forma de trabalho, desde o alto custo para se montar, com perucas, maquiagens, roupas e enchimentos, até o preconceito provindo das pessoas, principalmente por pessoas mais conservadoras.


AZEVEDO, Gloria; GONÇALVES, Jessica. Drag Queen: uma expressão artística. Entre Verbos, 25 fev. 2019. Disponível em: https://www.entreverbos.com.br/single-post/2018/05/08/Drag-Queen-A-express%C3%A3o-art%C3%ADstica#:~:text=Apesar%20de%20n%C3%A3o%20se%20chegar,ou%2C%20at%C3%A9%20mesmo%2C%20cantando. Acesso em: 3 out. 2020.

ARTE DRAG: COMO SE DEU O BOOM ATUAL DAS DRAG QUEENS?. Fala Universidades, 2 ago. 2019. Disponível em: https://falauniversidades.com.br/arte-drag-como-se-deu-o-boom-atual-das-drag-queens/. Acesso em: 3 out. 2020.

ADELINO, Saulo. RuPaul | Biografia. Entre Verbos, 17 nov. 2018. Disponível em: https://draglicious.com.br/2018/11/17/rupaul-biografia/. Acesso em: 3 out. 2020.


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Os indígenas em meio às queimadas no Pantanal

 Os incêndios não param de destruir a vegetação nativa do Pantanal, dizimando também a fauna. Em meio a isso tudo, povos indígenas nativos da região sofrem e compartilham o mesmo sentimento que os animais e a vegetação, de que sua casa está sendo destruída.  



Segundo levantamento da Agência Pública com base em dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apenas neste mês de setembro, já foram quase 164 focos de incêndio afetando quase metade das terras indígenas do Pantanal. O fogo era tanto que obrigou a Funai (Fundação Nacional do Índio) a retirar às pressas 45 indígenas de quatro aldeias da reserva Tereza Cristina, em Santo Antônio de Leverger (MT). “O fogo se iniciou de fora da terra indígena. Quando veio, veio com tudo, entrou de uma hora para outra”, relata o educador indígena Estêvão Bororo, conhecido como Estevinho. 

A Agência Pública procurou Estevinho depois de ter verificado, nas imagens de satélite, que a Tribo Indígena(TI) Tereza Cristina, do povo Bororo, estava tomada por focos de incêndio. O território, que fica numa área de transição do Cerrado para o Pantanal no município de Santo Antônio do Leverger, registrou 86 focos de incêndio, 81 deles apenas nas duas primeiras semanas de setembro.

Segundo o indígena, as queimadas haviam começado primeiro fora do Pantanal, na área de Cerrado da TI Tadarimana, que fica no município vizinho de Rondonópolis – região de plantações de soja, algodão e milho. Estevinho conta que, em julho, incêndios tomaram 60% da Tadarimana. Já agora em setembro, com a migração das queimadas para a área da Tereza Cristina e de outras terras dos Bororo no Pantanal, indígenas precisaram sair de suas casas e se refugiar justamente na Tadarimana, que enfrentou as queimadas antes.

A situação é crítica também na Baía dos Guató, terra do povo Guató, no município de Barão de Melgaço, vizinho de Santo Antônio do Leverger. Os dados de satélite do Inpe registram 57 focos de incêndio na área em setembro e 85 em agosto. Quase toda a extensão da terra foi tomada por focos. A terra dos Guató fica próxima ao Parque Estadual Encontro das Águas, que também foi tomado por focos de incêndio: foram 456 apenas em agosto e setembro. Segundo reportagem do G1, 85% da área do parque foi destruída pelas queimadas.


Mapa retirado do site da Agência Pública:

O aumento de queimadas era previsto, mas governo demorou a agir, denuncia servidor.
A Pública conversou com um agente do PrevFogo, do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, que não quis se identificar por medo de represálias. Segundo o servidor, os monitoramentos meteorológicos já apontavam a intensificação das queimadas em 2020, com as temperaturas acima da média e as chuvas abaixo. De acordo com ele, o planejamento estratégico do órgão contava com a antecipação da contratação de brigadistas para trabalhar na prevenção das queimadas. 
Durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), ocorrido nesta terça-feira(22) o presidente afirmou que o Brasil é alvo de uma grande campanha de desinformação sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, diz “Não existe essa campanha. Os satélites não mentem. Eles veem fogo na Califórnia, no Pantanal. No verão passado, viram o maior incêndio da história da Austrália. Não é uma campanha, não. Alguém na Califórnia ou no Oregon vai dizer que não estão acontecendo incêndios? Ou que neste verão no Ártico
a área de permafrost congelada pegou fogo? Isso aí é não querer ver, é querer tapar o sol com a peneira. Os incêndios são todos visíveis.”.

MUNIZ, Bianca; FONSECA, Bruno; RIBEIRO, Raphaela. Incêndios já tomam quase metade das terras indígenas no Pantanal. Agência Pública, 17 set. 2020. Disponível em: https://apublica.org/2020/09/incendios-ja-tomam-quase-metade-das-terras-indigenas-no-pantanal/. Acesso em: 17 set. 2020.

BARIFOUSE, Rafael. Amazônia: agricultores causam maioria das queimadas, e não índios e caboclos, diz cientista Carlos Nobre. BBC News Brasil, 23 set. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54259838. Acesso em: 23 set. 2020.




segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Queimadas no Pantanal

 




           Além da pandemia do corona vírus, o ano de 2020 trouxe outro motivo para afligir os corações do povo brasileiro, as queimadas em larga escala do Pantanal. Com um território de aproximadamente 250 mil km², o bioma se estende pela Bolívia, Paraguai e Brasil, com 62% de seu território em solo brasileiro, nos estados e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

          O Pantanal é marcado pela alternância entre período de muita chuva, onde seu solo se torna lamacento, entre outubro a março, e períodos de seca, mais propícios para as queimadas, nos meses de abril a setembro. 2020 é considerado um dos mais seco anos da história do Pantanal, onde nos períodos de chuva, entre outubro de 2019 a março desse mesmo ano, seu volume pluviométrico foi 40% menor do que a média dos anos anteriores, segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Esses fatores, além do acúmulo de matéria orgânica presente no bioma, ajudam o fogo no Pantanal a se alastrar facilmente. Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestas do Ibama (Prevfogo), a área queimada, em 2020, já passa dos 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão no Mato Grosso e mais de 1 milhão no Mato Grosso do Sul.

Esse é o setembro com mais focos de incêndio no Pantanal desde 1998, com 5.603 focos de calor detectados até o dia 16 de setembro, ultrapassando a marca de 5.498 em setembro de 2007, o antigo número recorde. Quando comparado a setembro de 2019, houve uma alta de 94%, e 188% acima da média histórica do Inpe para os focos de incêndio no Pantanal em setembro, que é de 1.944.


 

Gráfico retirado do site do G1: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mês-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml

 

Além disso, o ano de 2020 ultrapassou o recorde de queimadas anual do bioma, com 15.756 focos registrados até dia 16 de setembro. O número mais alto era do ano de 2005, com a taxa anual de 12.536 de focos.

 



Gráfico retirado do site do G1: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mes-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml

 

O aumento das queimadas se deu a partir de julho, quando a estiagem ficou mais intensa. Com a umidade abaixo dos 10%, o clima fica parecido com um deserto, com dias extremamente secos, mas conforme estão sendo feitas perícias, os resultados apontam que a queimadas são originadas pela ação humana, mas não é possível tirar conclusões definitivas ainda.

Mas para levantar um pouco o ânimo, segundo o diretor-executivo da SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias, quando as chuvas voltarem, a vegetação não vai demorar para se recuperar dos danos causados, mas o impacto na fauna e na economia regional, serão avaliados.






Além da degradação da fauna e da flora, as queimadas também foram muito prejudiciais aos indígenas locais, que além de perderem suas terras para as chamas, podem acabar tendo problemas de saúde por conta da fumaça, mas em breve exploraremos um pouco mais esse assunto.

Caso se interesse, temos aqui o link de alguns projetos e petições a respeito das queimadas no Pantanal:

https://www.change.org/p/o-pantanal-importa-precisamos-acabar-com-as-queimadas

https://brigadaaltopantanal.org.br/

 

SUÇUARANA, Monik da Silveira. Pantanal. Infoescola, [2016?]. Disponível em: https://www.infoescola.com/biomas/pantanal/. Acesso em: 17 set. 2020.

LEMOS, Vinícius. Os seis fatores que tornam incêndios no Pantanal difíceis de serem controlados. BBC News, 17 set. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54186760. Acesso em: 17 set. 2020.

G1 (MT). Polícia investiga responsáveis por focos de incêndio que deram início a grandes queimadas no Pantanal de MT. BBC News, 12 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/09/12/policia-investiga-responsaveis-por-focos-de-incendio-que-deram-inicio-a-grandes-queimadas-no-pantanal-de-mt.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

DANTAS, Carolina. Salles relaciona falta de ‘fogo frio‘ ao aumento das queimadas no Pantanal; especialistas rebatem argumento. G1, 16 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/16/salles-relaciona-falta-de-fogo-frio-ao-aumento-das-queimadas-no-pantanal-especialistas-rebatem-argumentos.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

DANTAS, Carolina; PINHEIRO, Lara. Pantanal tem mês de setembro com mais focos de incêndio na história. G1, 17 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mes-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

PEREIRA, José. Área queimada no Pantanal já passa de 2 milhões de hectares, tamanho referente a 10 vezes as cidades de SP e RJ juntas. G1, 9 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/09/09/area-queimada-no-pantanal-ja-passa-de-2-milhoes-de-hectares-tamanho-referente-a-10-vezes-as-cidades-de-sp-e-rj-juntas.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.