terça-feira, 29 de setembro de 2020

Os indígenas em meio às queimadas no Pantanal

 Os incêndios não param de destruir a vegetação nativa do Pantanal, dizimando também a fauna. Em meio a isso tudo, povos indígenas nativos da região sofrem e compartilham o mesmo sentimento que os animais e a vegetação, de que sua casa está sendo destruída.  



Segundo levantamento da Agência Pública com base em dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apenas neste mês de setembro, já foram quase 164 focos de incêndio afetando quase metade das terras indígenas do Pantanal. O fogo era tanto que obrigou a Funai (Fundação Nacional do Índio) a retirar às pressas 45 indígenas de quatro aldeias da reserva Tereza Cristina, em Santo Antônio de Leverger (MT). “O fogo se iniciou de fora da terra indígena. Quando veio, veio com tudo, entrou de uma hora para outra”, relata o educador indígena Estêvão Bororo, conhecido como Estevinho. 

A Agência Pública procurou Estevinho depois de ter verificado, nas imagens de satélite, que a Tribo Indígena(TI) Tereza Cristina, do povo Bororo, estava tomada por focos de incêndio. O território, que fica numa área de transição do Cerrado para o Pantanal no município de Santo Antônio do Leverger, registrou 86 focos de incêndio, 81 deles apenas nas duas primeiras semanas de setembro.

Segundo o indígena, as queimadas haviam começado primeiro fora do Pantanal, na área de Cerrado da TI Tadarimana, que fica no município vizinho de Rondonópolis – região de plantações de soja, algodão e milho. Estevinho conta que, em julho, incêndios tomaram 60% da Tadarimana. Já agora em setembro, com a migração das queimadas para a área da Tereza Cristina e de outras terras dos Bororo no Pantanal, indígenas precisaram sair de suas casas e se refugiar justamente na Tadarimana, que enfrentou as queimadas antes.

A situação é crítica também na Baía dos Guató, terra do povo Guató, no município de Barão de Melgaço, vizinho de Santo Antônio do Leverger. Os dados de satélite do Inpe registram 57 focos de incêndio na área em setembro e 85 em agosto. Quase toda a extensão da terra foi tomada por focos. A terra dos Guató fica próxima ao Parque Estadual Encontro das Águas, que também foi tomado por focos de incêndio: foram 456 apenas em agosto e setembro. Segundo reportagem do G1, 85% da área do parque foi destruída pelas queimadas.


Mapa retirado do site da Agência Pública:

O aumento de queimadas era previsto, mas governo demorou a agir, denuncia servidor.
A Pública conversou com um agente do PrevFogo, do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, que não quis se identificar por medo de represálias. Segundo o servidor, os monitoramentos meteorológicos já apontavam a intensificação das queimadas em 2020, com as temperaturas acima da média e as chuvas abaixo. De acordo com ele, o planejamento estratégico do órgão contava com a antecipação da contratação de brigadistas para trabalhar na prevenção das queimadas. 
Durante seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), ocorrido nesta terça-feira(22) o presidente afirmou que o Brasil é alvo de uma grande campanha de desinformação sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, diz “Não existe essa campanha. Os satélites não mentem. Eles veem fogo na Califórnia, no Pantanal. No verão passado, viram o maior incêndio da história da Austrália. Não é uma campanha, não. Alguém na Califórnia ou no Oregon vai dizer que não estão acontecendo incêndios? Ou que neste verão no Ártico
a área de permafrost congelada pegou fogo? Isso aí é não querer ver, é querer tapar o sol com a peneira. Os incêndios são todos visíveis.”.

MUNIZ, Bianca; FONSECA, Bruno; RIBEIRO, Raphaela. Incêndios já tomam quase metade das terras indígenas no Pantanal. Agência Pública, 17 set. 2020. Disponível em: https://apublica.org/2020/09/incendios-ja-tomam-quase-metade-das-terras-indigenas-no-pantanal/. Acesso em: 17 set. 2020.

BARIFOUSE, Rafael. Amazônia: agricultores causam maioria das queimadas, e não índios e caboclos, diz cientista Carlos Nobre. BBC News Brasil, 23 set. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54259838. Acesso em: 23 set. 2020.




segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Queimadas no Pantanal

 




           Além da pandemia do corona vírus, o ano de 2020 trouxe outro motivo para afligir os corações do povo brasileiro, as queimadas em larga escala do Pantanal. Com um território de aproximadamente 250 mil km², o bioma se estende pela Bolívia, Paraguai e Brasil, com 62% de seu território em solo brasileiro, nos estados e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

          O Pantanal é marcado pela alternância entre período de muita chuva, onde seu solo se torna lamacento, entre outubro a março, e períodos de seca, mais propícios para as queimadas, nos meses de abril a setembro. 2020 é considerado um dos mais seco anos da história do Pantanal, onde nos períodos de chuva, entre outubro de 2019 a março desse mesmo ano, seu volume pluviométrico foi 40% menor do que a média dos anos anteriores, segundo dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Esses fatores, além do acúmulo de matéria orgânica presente no bioma, ajudam o fogo no Pantanal a se alastrar facilmente. Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos incêndios florestas do Ibama (Prevfogo), a área queimada, em 2020, já passa dos 2,3 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão no Mato Grosso e mais de 1 milhão no Mato Grosso do Sul.

Esse é o setembro com mais focos de incêndio no Pantanal desde 1998, com 5.603 focos de calor detectados até o dia 16 de setembro, ultrapassando a marca de 5.498 em setembro de 2007, o antigo número recorde. Quando comparado a setembro de 2019, houve uma alta de 94%, e 188% acima da média histórica do Inpe para os focos de incêndio no Pantanal em setembro, que é de 1.944.


 

Gráfico retirado do site do G1: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mês-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml

 

Além disso, o ano de 2020 ultrapassou o recorde de queimadas anual do bioma, com 15.756 focos registrados até dia 16 de setembro. O número mais alto era do ano de 2005, com a taxa anual de 12.536 de focos.

 



Gráfico retirado do site do G1: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mes-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml

 

O aumento das queimadas se deu a partir de julho, quando a estiagem ficou mais intensa. Com a umidade abaixo dos 10%, o clima fica parecido com um deserto, com dias extremamente secos, mas conforme estão sendo feitas perícias, os resultados apontam que a queimadas são originadas pela ação humana, mas não é possível tirar conclusões definitivas ainda.

Mas para levantar um pouco o ânimo, segundo o diretor-executivo da SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias, quando as chuvas voltarem, a vegetação não vai demorar para se recuperar dos danos causados, mas o impacto na fauna e na economia regional, serão avaliados.






Além da degradação da fauna e da flora, as queimadas também foram muito prejudiciais aos indígenas locais, que além de perderem suas terras para as chamas, podem acabar tendo problemas de saúde por conta da fumaça, mas em breve exploraremos um pouco mais esse assunto.

Caso se interesse, temos aqui o link de alguns projetos e petições a respeito das queimadas no Pantanal:

https://www.change.org/p/o-pantanal-importa-precisamos-acabar-com-as-queimadas

https://brigadaaltopantanal.org.br/

 

SUÇUARANA, Monik da Silveira. Pantanal. Infoescola, [2016?]. Disponível em: https://www.infoescola.com/biomas/pantanal/. Acesso em: 17 set. 2020.

LEMOS, Vinícius. Os seis fatores que tornam incêndios no Pantanal difíceis de serem controlados. BBC News, 17 set. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54186760. Acesso em: 17 set. 2020.

G1 (MT). Polícia investiga responsáveis por focos de incêndio que deram início a grandes queimadas no Pantanal de MT. BBC News, 12 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/09/12/policia-investiga-responsaveis-por-focos-de-incendio-que-deram-inicio-a-grandes-queimadas-no-pantanal-de-mt.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

DANTAS, Carolina. Salles relaciona falta de ‘fogo frio‘ ao aumento das queimadas no Pantanal; especialistas rebatem argumento. G1, 16 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/16/salles-relaciona-falta-de-fogo-frio-ao-aumento-das-queimadas-no-pantanal-especialistas-rebatem-argumentos.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

DANTAS, Carolina; PINHEIRO, Lara. Pantanal tem mês de setembro com mais focos de incêndio na história. G1, 17 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/09/17/pantanal-tem-mes-de-setembro-com-mais-focos-de-incendio-na-historia.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.

PEREIRA, José. Área queimada no Pantanal já passa de 2 milhões de hectares, tamanho referente a 10 vezes as cidades de SP e RJ juntas. G1, 9 set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2020/09/09/area-queimada-no-pantanal-ja-passa-de-2-milhoes-de-hectares-tamanho-referente-a-10-vezes-as-cidades-de-sp-e-rj-juntas.ghtml. Acesso em: 17 set. 2020.