terça-feira, 30 de abril de 2024

Dia do Trabalhador: Como escolher sua profissão?

    Dia 1º de maio é um feriado dedicado aos trabalhadores, que, cada um com sua profissão, contribui para a construção de uma sociedade melhor.

    Com o Ensino Médio, principalmente ao chegar no 3º ano, uma grande dúvida se instala na mente dos jovens: “qual profissão eu vou seguir?”. Existem variados testes online para descobrir sua vocação, porém é importante sempre se lembrar de alguns pontos antes de realizá-los e buscar você mesmo por seus interesses, sem depender totalmente dos algoritmos.

  • Perceba no seu dia a dia quais são as tarefas, hobbies e conteúdos que te interessam. Realize algumas perguntas para si mesmo: qual ambiente você se identifica (por exemplo, uma clínica ou escola), se você deseja trabalhar com o público e se quer uma profissão que exija paciência ou mais dinamizada. Com base nessa breve sessão de autoconhecimento, voltada para o âmbito profissional, faça uma lista e pesquise quais profissões estão relacionadas a seus interesses;

  • Busque vídeos de relatos ou rotinas da profissão que te interessou. Isso vai te ajudar a perceber se você gosta realmente daquilo e se você identifica-se com as ações relacionadas a carreira. Caso seja possível, converse com alguém que você conhece e exerce a profissão;

  • Faça um “quadro” dividido em quatro partes de cada profissão: áreas de atuação, características que me identifico, características que terei que melhorar e o que me interessou naquela área;

  • No momento da escolha, não se prenda ao salário. Pode ser difícil abandonar essa preocupação, pois é inevitável o pensamento “eu preciso trabalhar para me sustentar e receber dinheiro para sobreviver”. Entretanto, ao optar por uma profissão que te interessa e te anima em relação ao futuro, tenha certeza de que, com a faculdade e seu esforço, você vai se destacar na sua carreira;

  • Você não precisa ter uma vocação para ser capaz de seguir determinada profissão, se você gosta daquela área e está disposto a estudar para enfrentar os obstáculos, siga em frente! Os testes vocacionais podem te ajudar muito na decisão, porém não se prenda aos resultados, nem à idealização de uma “vocação forte”.
    
    Lembre-se de que a profissão que você escolher agora não precisa ser definitiva, pois os nossos interesses mudam com o passar dos anos. Segundo uma pesquisa de 2020, realizada pelo site elementar, 63% das pessoas já mudaram de carreira e 48% pretendem mudar de carreira nos próximos 12 meses. Dessas pessoas, 70% dizem que querem uma carreira mais alinhada a seus interesses e propósito de vida. 

“Nada existe de permanente a não ser a mudança” – Heráclito

O ser humano está em constante mudança. Tenha calma e não se cobre para escolher a sua  profissão, afinal, você é muito mais do que sua futura vida profissional.


A XEPA ESTÁ DE VOLTA!

Esse foi o primeiro post de muitos que estão por vir... nesse ano de 2024 teremos várias novidades e matérias fresquinhas toda semana. Para ficar por dentro de tudo que a xepa oferece, nos siga no Instagram: @xepamexida.



sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Pixo: um outro olhar

O pixo é uma manifestação muito presente no estado de São Paulo, predominantemente na capital, e está alocado no cotidiano de muitos brasileiros, mesmo que indiretamente. Dessa forma, torna-se interessante a análise e o desenvolvimento de uma lente crítica diferente acerca do assunto, coincidentemente você chegou neste breve artigo e está convidado para a leitura.


"Passageiro do Brasil, São Paulo, agonia
Que sobrevivem em meio às honras e covardias
Periferias, vielas, cortiços
Você deve tá pensando: O que você tem a ver com isso?"

                                                        - Racionais MC's, Nego Drama

Origens

No Brasil, a pichação (com ch) se inicia em meados da década de 60 com a ditadura militar, carregando um grande cunho político em relação à insatisfação social, com mensagens contra a ditadura, com críticas e as mais diversas manifestações populares nos muros. Neste primeiro momento não apresentava letras estilizadas, preocupação estética ou uma comunidade de pixadores (surgirão com o Movimento Pixo), mas ainda sim quando eram pegos sofriam violência e repressão. Em seguida, surgiram as manifestações poéticas, só nos anos 80 que a pixação, com o Movimento Pixo, começou a tomar uma similaridade ao que temos hoje, principalmente com a popularização do movimento punk naquele período. Houve uma espécie de desdobramento deste movimento aqui no Brasil, foi realizada uma antropofagia, em maioria, por parte da periferia, que em suma, trouxe para essa manifestação o caráter anárquico, com inspirações de fontes de letras de capas de banda de rock (como Kiss e Iron Maiden) e runas anglo-saxônicas (alfabeto dos povos germânicos). 


Esses acontecimentos foram necessários para o nascimento do que temos como o pixo paulista, que foi fortemente caçado  com a eleição de Jânio Quadros para prefeito da cidade de São Paulo, em 1986, que foi responsável pela aplicação de políticas de limpeza pública. Com a constante invisibilidade da periferia e o sufocamento de tal expressão, o pixo começou a tomar outros rumos na década de 90, com um caráter de reconhecimento individual, lazer e adrenalina. No entanto, isso não impediu que o valor de protesto carregado fosse destruído, apenas transformado antropofagicamente em um estilo próprio brasileiro, ao passo que muitos artistas de rua internacionais buscam no pixo paulista, considerado original e expressivo, inspiração para suas obras.



O que o pixo nos diz

Talvez seria incorreto começar pelo que a pixação nos diz: a arte do pixo não está no literal. Segundo muitos pixadores, é um processo criativo, um estilo de vida, de devoção à arte, à medida que muitos correm riscos severos em sua prática, além de serem pegos como infratores da lei, podem se acidentar e vir a óbito.


A pixação, diferente de outras manifestações e protestos, não está no visual, mas sim no ato. Muitas vezes não carregam em seu visual mensagens complexas, apenas os pseudônimos dos autores para a identificação na comunidade, não é para ser legível ou compreendida pela massa, a essência é a ilegalidade, a anarquia, a proibição, a raiva. 


São Paulo deu espaço para essa manifestação, a energia da metrópole foi fundamental para sua repercussão até os dias atuais, abriu o espaço com a verticalização constante, para que se tornasse um caderno de caligrafia para aqueles que buscam uma brecha para respirar, é a forma de desabafo, pausa, grito, poesia e crítica social de gerações que precisam se expressar através da destruição, com uma comunição interna de pixador para pixador, a única comunicação com a sociedade é indireta e violenta, é feita para agredir. A periferia achou uma forma de se revoltar, com a máscara do feio, do incompreensível, conseguem transcender os muros que separam as classes, criando uma afronta, principalmente moral, quanto à prática. 


Muitos artistas periféricos consideram que o grafite é uma moeda comercial, diferente do pixo que não está dentro da lógica de mercado, logo, apresenta um valor social negativo. Além disso, também consideram que tal manifestação não precisa ser dita como arte por uma instituição, pois é justamente ir contra sua essência. É a fuga e a revolta crua, a invisibilidade fertiliza o cenário que propicia a ocuparem-se dos espaços públicos para os artistas deixarem suas marcas, para contribuir com um meio que pouco são representados. 


A sociedade está dependente de padrões, de identidades forjadas, do limpo, liso, uniforme, tudo que foge disso é destoante, torna-se facilmente uma agressão às formas díspares. Os pixadores periféricos, muito marginalizados, formam comunidades que além de serem brechas para a formação de vínculos positivos de amizade, ganham reconhecimento na cena local como praticantes. Participam de encontros e festas escondidas, onde é possível trocar suas assinaturas, que seriam os pixos específicos de cada artista, dessa maneira, oportuniza com que sejam registradas sua existência, pois pouco se tem catalogado sobre, apenas os amantes da comunidade costumam fazer gravações e fotos. Estes, infelizmente, acabam por se perderem pelo tempo, ao passo que não compõem o acervo de instituições formais: estão nas ruas.


No Brasil, o pixo é considerado vandalismo e crime ambiental, seguindo a lei Lei 9.605/98, prescreve multa e detenção ao praticante. Não é considerada uma arte pelo rigor da lei, moralmente existe a tolerância zero contra a pixação, onde o artista é visto como vagabundo e/ou bandido. Nesse panorama, é inevitável que exista uma constante briga entre o governo e os pixadores, na qual há uma maior preocupação em apagar os grafites do que cuidar de medidas públicas que favoreçam as periferias. As gravatas que dão as regras do jogo. 


No senso comum, pixação é ligada à criminalidade, ignorando as pluralidades, com o argumento de ataque à propriedade privada e ao patrimônio público, agressão feita puramente pelo ego do pixador, que destrói a cidade, de má fé, sendo uma manifestação sem voz e aculturada. Porém, o que se percebe é que essas críticas normalmente vem daqueles que fecham os olhos para a periferia: é o feio que eles tentam esconder e limpar com violência. 




Documentário que serviu de inspiração para a escrita deste artigo:

https://www.youtube.com/watch?v=skGyFowTzew

sábado, 4 de novembro de 2023

Efeito borboleta das mudanças climáticas: o aumento de casamento infantis

A mudança climática refletida atualmente traça uma linha tênue entre sensações térmicas inesperadas, casamentos infantis e violência doméstica.

    O conceito de aquecimento global não é de hoje, e, por mais que termos técnicos - como efeito estufa, ou a atual era de “ebulição global” - não sejam conhecidos por toda a população, os impactos causados por esses fenômenos, definitivamente, acometem a individualidade de cada habitante e a sociedade como um todo. Além dessas consequências, tem-se, ainda, severos efeitos que se desenrolam de maneira indireta: como é o caso de casamentos infantis. Então qual é essa relação, mesmo que remota?



    Ebulição global: o que temos de novo?

      A nova realidade climática em que o mundo se encontra foi denominada de “ebulição global”. Como uma modificação do aquecimento global, conta com a presença de temperaturas extremas e inéditas, contribuindo, consequentemente, para a persistência do efeito estufa. Referente a esse momento em que o planeta se encontra, alerta-se ao lento impedimento e a quase inexistente prevenção das ações desses fenômenos para ecossistema e sociedade.
      Entretanto, quando essa situação se intensifica, gerando fenômenos naturais extremos – a exemplo de altas temperaturas, ciclones, secas, inundações e tempestades -, em países subdesenvolvidos ou que não apresentam a estrutura necessária para remediação das consequências, tem-se o que se chama de catástrofe. Essas catástrofes constroem um cenário de intensa vulnerabilidade econômica, pobreza extrema, escassez de água e insegurança alimentar. Portanto, uma vez que uma nação não é capaz de prover uma solução para a retificação dessa circunstância, a própria população de um país encontra estratégias e respostas para sua sobrevivência.



    Entendendo culturas

     Para se entender pontos de vistas pertencentes a diferentes sociedades, é preciso olhar para a construção de uma nação e seus valores culturais, solidificados e alterados conforme eventos históricos e situações econômicas. Como analisaremos o casamento infantil, tem-se que esse ocorre quando um ou dois cônjuges são menores de 18 anos. Segundo dados da ONU, sabe-se que “pelo menos 19% das mulheres de 20 a 24 casaram-se com um parceiro antes dos 18 anos, sendo esses dados, mais frequentes em países de baixa e média renda”.
    Assim, culturalmente, entende-se que casar meninas menores de idade com homens adultos, de médio ou alto poder aquisitivo, é uma maneira de garantir a segurança e estabilidade financeira para a família da noiva – sendo responsável, geralmente, pela organização desse matrimônio. Essa decisão, ainda, está ligada de maneira direta com a constante gravidez na adolescência – e, consequentemente, violência doméstica e abusos infantis, tanto por parte dos pais - quando impõem a obrigação do casamento - quanto por parte dos cônjuges com as vítimas da prática ilegal.
     Ainda, tem-se, comumente, em casamentos arranjados, o pagamento de um “dote” – ou seja, uma quantidade de dinheiro ou bens aquisitivos para um dos lados da negociação. Em países como o Vietnã, por exemplo, é mais comum o homem remunerar o dote para a família da noiva. Entretanto, em países como a Índia, tradicionalmente, a família da noiva é responsável por ofertar o dote. Dessa forma, não é tão interessante a realização de casamentos arranjados para meninas menores de idade. Análises como essas podem ser vistas através de estudos e dados, e relacionadas com a situação de crítica influência climática.


     E como lidar?

    O estudo a respeito da relação entre casamentos infantis, violência doméstica e consequências climáticas iniciou-se com o aumento exponencial dos três tópicos, concomitantemente. Assim, conforme agrava-se a condição de fenômenos naturais extremos, aumenta-se a taxa de alianças matrimoniais arranjadas entre menores de idade – principalmente mulheres – e abusos infantis, entendendo-se os motivos que acabamos de ver. Essa realidade, ainda, mostra-se mais próxima do que podemos esperar.
    No Brasil, segundo um estudo feito pela Confederação Nacionaldos Municípios, os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul foram os mais sujeitos às respostas das alterações climáticas entre os anos de 2013 e 2022 – e, ao mesmo tempo, foram os estados que registraram o maior número de matrimônios envolvendo crianças e adolescentes menores de 18 anos. No país, apesar de ter como ilegal a prática do casamento infantil, é possível efetivar sua realização de maneira legítima a partir dos 16 anos, com consentimento de ambos os responsáveis.
   Assim sendo, entende-se que a realidade dessas inconstâncias climáticas já é suficientemente preocupante. Mas, quando se trata de países subdesenvolvidos ou emergentes, cabe ainda lidar com a bola de neve concebida por essas catástrofes – e no caso comentado, com a segurança e qualidade de vida de mulheres e crianças. Tem-se, ainda, a informação de que não seria cara a erradicação desses matrimônios ilegais: o investimento de US$ 35 bilhões seria o suficiente para findar essa realidade, enquanto uma média de US$ 600 por criança é capaz de evitá-la. Assim, um preço equivalente a um artigo de luxo é capaz de modificar toda uma vida.
        E mesmo que não se tenha vestígio de empatia para distender desse capital propenso ao retorno de uma melhor qualidade de vida, pode-se pensar do ponto de vista econômico: essas mesmas mulheres, que se casam quando menores de idade e submetem-se às condições impostas por seus tutores e cônjuges, poderiam contribuir positivamente com a sociedade e economia de uma nação, considerando que teriam a liberdade de optar por suas próprias funções sociais. 

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 2

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda quem está incluso e sua devida atuação.

    No artigo anterior, explicamos um contexto geral do início dos conflitos armados entre Israel e Palestina, até sua situação atualmente, quando esse artigo vos é escrito. Mas, além de um resumo geral, é necessário entender que outros agentes - sejam esses países ou organizações - estão envolvidos, de maneira indireta ou nivelada, nesse processo de guerra. Quem são e quais as atuações de alguns dos principais fatores influentes que não são, tão necessariamente, midiaticamente comentados, serão abordados nesse texto. 

À esquerda, membro do grupo político Hamas; ao centro, Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã; à direita, Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos.


    Hamas: não é a Palestina

    Durante o dia 07 de outubro, uma chuva de mísseis foi lançada pelo partido político Hamas, partindo da Faixa de Gaza e atingindo a região de Tel Aviv (atual capital do Estado de Israel) e a cidade de Jerusalém. A partir desse ataque, resultando no sequestro e morte de milhares de vítimas, as redes sociais se mobilizaram, em parte, para uma campanha “pró-Israel”. Diante dessa polêmica, tem-se como pauta urgente o entendimento da diferença entre o Hamas e a própria Palestina, uma vez que tal movimento político não representa, necessariamente, a posição dos palestinos.
      O Hamas, tendo seu nome traduzido do árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”, foi fundado em 1987, como um movimento de resistência. Isso porque, nesse ano, acontecia a Primeira Intifada palestina, com o intuito de resistir às ocupações israelenses das regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza - tendo seu final apenas com o Acordo de Oslo. É importante reiterar, ainda, que esse grupo militante é uma ramificação da Irmandade Muçulmana. Essa organização apresenta origem no Egito, tendo surgido com o intuito de libertar a pátria islâmica, e é conhecida, atualmente, por seus princípios radicais. Após sua atuação na Primeira Intifada, o Hamas prosseguiu com bombardeios ao Estado de Israel, tendo, supostamente, financiamento bélico e monetário pelo Irã. Além disso, no ano de 2007, com a retirada da população israelense da Faixa de Gaza e a ocorrência das eleições políticas, Hamas torna-se o partido político vencedor e recebe o poder de controle da região. 
      Com esse novo controle, o Hamas se recusa a realizar acordos políticos e colaborações com demais partidos opositores, instituindo fortes bloqueios econômicos para o território. Essas decisões políticas agravam-se com as repostas de Israel para essas declarações - sendo essas, tanto bélicas, como bombardeios, quanto políticas, como a impossibilidade de chegada de água, de instituições escolares, de materiais de construções e, até mesmo, apoio de ONGs. Com isso, tem-se uma série de consequências negativas para a região, como a pobreza extrema e a baixa qualidade de vida. Portanto, mesmo lutando contra Israel, o Hamas influencia, negativamente, e agrava a situação de milhares de palestinos, principalmente viventes da Faixa de Gaza. A região é considerada, atualmente, o maior “cárcere a céu aberto”.


    Irã: qual a ligação com o Hamas?

     Para se entender o possível patrocínio ofertado pelo Irã ao grupo político Hamas, além de seus elogios aos atentados gerados, faz-se preciso lembrar da Guerra Irã-Iraque - entre 1980 e 1988. Apesar da Guerra ter sido realizada apenas na década de 80, há dez anos antes já haviam brigas entre as duas nações a respeito de disputas territoriais por desavenças políticas e motivos religiosos. Além desses conflitos, com o controle da região da Faixa de Gaza por parte de Israel, do interrompimento das rotas de abastecimento do Irã para Gaza.         Por conta desse tenso histórico político entre países, o Irã apresenta seu posicionamento mais favorável a grupos que se propõem a acabar com o Estado de Israel - como é o caso do Hamas: e não, de fato, à libertação da Palestina ou à divisão territorial legal.
    Enquanto o Hamas confirma o apoio do Irã nos planejamentos militares e atentados, a nação nega envolvimento com o conflito armado, apesar da fala do Líder Supremo, Ali Khamenei, referir-se à “libertação de Jerusalém”. Já Israel e Estados Unidos afirmam ter certeza do envolvimento da pátria asiática na Guerra.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 1

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda do início para a atualidade.

À esquerda, Benjamin Netanyahu - Primeiro-ministro de Israel -, e à direita, Mahmoud Abbas, Presidente do Estado da Palestina.

    Israel x Palestina: 100 anos, 1 texto

    Um dos conflitos mais debatidos, atualmente, remonta a um cenário de pós-guerra, na década de 40, e possui como pilares questões, principalmente, geopolíticas e religiosas. Para se entender o que se tem hoje, faz-se necessário retornar a um passado não tão distante em termos históricos, mas longo o suficiente para afetar a vida de toda uma população. Em 1917, o Império Britânico emite a Declaração de Balfour, conferindo à população judaica a permanência na, até então, região da Palestina, uma vez que “não ferisse os direitos civis das populações não judaicas que ali viviam”.
    Os judeus eram vistos como uma população sem pátria pelo Império Britânico, que buscava garantir apoio aos Aliados durante a Grande Guerra. Porém, tal comunicado soava como uma traição aos palestinos que já constituíam a região – entende-se como palestinos a população árabe, que apresenta, em grande parte, a religião muçulmana. Essa região, por sua vez, possui suma importância religiosa tanto para muçulmanos, quanto para os judeus. A partir de 1920, com a vitória do Império Britânico, o Mandato Britânico da Palestina entra em ação e acontece uma reorganização de palestinos e judeus, como prometido pela Declaração de Balfour. Legalmente, o documento previa a divisão de um mesmo território para dois estados: um Estado para o povo judeu, e outro, para os palestinos – que não haviam um Estado formalmente formado. 

Conflitos: o barril de pólvora explode

O primeiro impasse nessa divisão territorial se dá, entretanto, com a partilha da cidade de Jerusalém: nada havia escrito sobre o pertencimento da cidade de destaque religioso. Com a Conferência da ONU, em 1947, e sua consequente aprovação para criação dos dois Estados propostos pelo Mandato, nasce o Estado de Israel. Porém, os palestinos não aceitaram o acordo, alegando injustiça nos termos de divisão territorial: teriam ficado com piores terras e localização. Como resposta a esse desacordo, tem-se a primeira Guerra árabe-israelense, no mesmo ano, opondo o Estado recém formado à Liga Árabe. Como consequência, assim como de outras guerras consecutivas na região – como a Guerra dos Seis Dias, em 1967 - , teve-se um aumento territorial israelense e uma expulsão do povo palestino de suas terras conquistadas: gerando o que se denominou de Questão Palestina
        É ainda em 1993, com o agravamento desses assentamentos israelenses de maneira ilegal, que acontece um acordo para a retirada dos judeus sionistas que lá se fixaram. Com essa saída gradual, a proposta era estabelecer o Estado da Palestina de maneira legítima. Esse acordo não foi colocado em prática em decorrência do movimento Sionista extremista que constitui parte do Estado de Israel, sendo esse, terminantemente contra a criação do Estado da Palestina. 
        Geopoliticamente, no atual Estado de Israel, palestinos estão concentrados nas regiões da Faixa de Gaza e Cisjordânia, ambos fazendo fronteira com o Estado de Israel; com o Egito e a Jordânia, respectivamente. É na Faixa de Gaza que se encontram os Hamas, movimento islamista palestino que tem sido tão comentado recentemente.
        Assim, segue até os dia em que esse artigo vos é escrito, uma sequência de conflitos armados entre o Estado de Israel e Palestinos: e os Estados Unidos, e o Egito, e o Irã e diversos outros grupos que se desmembraram a partir do início desses confrontos - há 100 anos atrás. Por isso, faz-se necessário o entendimento de suas atuações e influências nesse processo, em que cada único agente é capaz de alterar a realidade e vida de milhares de pessoas: como tem sido feito há um século.  

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

E por falar em saudade, onde anda você, MPB?

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy!

    Seja durante as águas de março ou de janeiro a janeiro, não mais se vê a MPB nas esquinas, nos bares ou naquela mesa. Será que apenas nos resta ouvir as canções que esse movimento nos fez? Como nada se cria e tudo se transforma, é preciso entender o que foi o movimento da MPB, já que esse não se resume apenas a um estilo de música. Assim, cabe a conclusão dos apreciadores de músicas – e, claro, seu público-alvo: brasileiros -, identificar se essa corrente repercute até os dias atuais ou se, até mesmo, transformou-se em um lirismo equivalente aos dias atuais. 


    A bossa nova andou para que a MPB pudesse correr

    A MPB – ou melhor, MMPB, sigla que designa a Moderna Música Popular Brasileira – teve seu nascimento na segunda metade da década de 60. Sendo essa a filha rebelde de sua mãe, a Bossa Nova, é preciso entender, também, o momento esse outro movimento apresenta seu auge. A Bossa Nova apresentou seu pico de maior dispersão na década de 50, e se preocupava, principalmente, com a exposição da estética musical. Para isso, teve seu diferencial com a manutenção dos elementos musicais já presentes no samba: o objetivo era sintetizar as linhas rítmicas da batucada e colocá-las no violão. Essa mudança acarretava a preservação do balanço do samba com uma concomitante suavidade. Quanto ao canto, os artistas buscavam o afastamento da Era Radiofônica para uma aproximação às inovações tecnológicas trazidas na época que beneficiavam os mais diversos musicistas com uma maior qualidade sonora.     

    Porém, é com o maior engajamento dos jovens – principalmente estudantes – e a eclosão da ditadura militar, em 1964, que o estilo da Bossa Nova não é mais tão bem aceito. Apesar do prosseguimento com os padrões estéticos sonoros criados pelo movimento anterior, a MPB surge como uma forma de expressão para contrariar o sistema político e social imposto. Para isso, rompem com o até então vigente lirismo romântico e apresentam a adoção de temas políticas, além de retomarem elementos de músicas tradicionais populares – como o samba de morro, baião, coco, moda de viola e o frevo. Para o auxílio desse processo, os constituintes dessa mobilização contam com a revolução dos aparelhos televisores: através deles, promoviam os Festivais da Canção, que revelavam artistas e impulsionavam o reconhecimento do movimento. Nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina e Gilberto Gil compuseram o evento musical. 


    MPB: Muito pouco barulho?

    É com a história de seu surgimento e consolidação que se entende o que de fato é a MPB – e espero que neste ponto, caro leitor, tenha concluído emancipadamente que não é toda e qualquer música brasileira que fica popular. Dessa maneira, em uma perspectiva racional que leva em consideração aspectos principais como lirismo, sonoridade e contexto sócio-histórico, é impossível ter-se, atualmente, a mesma MPB dos anos 60, 70 ou até mesmo de 8 anos atrás (a Xepa já fez uma edição sobre a nova geração da MPB antes!). Isso porque, diferentemente de outros gêneros musicais como rock, rap ou pop, que possuem características comuns capazes de se configurarem como tais, a MPB é, também, um movimento social. Nem mesmo a Nova MPB, designada no final dos 90 e começo dos anos 2000, é considerada “nova” para o momento presente. 

    Entretanto, essa conclusão não deve ser sinônimo de melancolia – por mais que músicos a adorem: para a alegria de Chico Buarque, não é fatal que o faz de conta termine assim. Já que a própria MPB apresenta como característica formativa a transformação, essa permissão artística de mutação e a constante ampliação de sua estética – como a adesão do Tropicalismo, por exemplo - é responsável, também, por mantê-la viva. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

“Barbie” (2023): além de um clássico do cinema, um marco histórico

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy! 

    O sucesso do brinquedo Barbie pode ser recente, mas, com certeza, não é novo. Tratando-se de um produto que, apesar de momentos de crise, não se desgastou com o tempo ao nível do esquecimento, não se poderia esperar uma repercussão tão divergente. Mais do que isso: não haveria possibilidade do filme “Barbie” (2023), dirigido por Greta Gerwig, não ser sucesso de bilheteria. Isso porque a obra é muito mais extensa do que a 1 hora e 54 minutos apresentada na telinha. Durante esse artigo, serão expostos e debatidos alguns pilares que sustentam o fenômeno desse filme – sem ao menos considerar o seu conteúdo ou quantidade de críticas positivas e negativas.



    Barbie Cientista: uma viagem no tempo 

    Em um contexto pós Segunda Guerra Mundial, indústrias bélicas precisavam mudar seu segmento de produção: mais do que isso, precisavam reutilizar toda a sucata restante e evitar o desperdício material e de capital. Nesse mesmo momento, fazia-se presente uma política de incentivo à natalidade norte-americana, equilibrando a balança de déficit, consequente da Grande Guerra. Assim, desenvolve-se nos Estados Unidos, fábricas de brinquedo em massa. 

    É neste ponto, em 1945, que o casal Ruth e Elliot Handler e o americano Harold Matson apresentam a indústria de brinquedos “Mattel”. A princípio, com os materiais que lhes eram disponíveis, criavam móveis para casas de bonecas. Porém, conforme crescia a primogênita do casal, Barbara Handler, a então administradora da empresa, Ruth – fato revolucionário para uma época em que a silhueta feminina não era bem vista como figura de autoridade -, percebeu que sua filha gostava de atribuir características às suas bonecas: um dia ela era presidente, e no outro, era bailarina. Com isso, no ano de 1959, foi apresentada a primeira “Barbie”, na Feira Americana de Brinquedo, em Nova York: o inovador produto se assimilava à boneca Bild Lilli - a qual a Mattel comprara os direitos autorais -  e contava com o diferencial das contrastantes personalidades propostas pela pequena Barbara. 

    Símbolo do movimento feminista ou causador de seu atraso, a Barbie retomava todos os conceitos difundidos pelo “American Way of Life” e padrões estadunidenses. Em uma conjuntura de necessidade de pertencimento nacional, temor pela disseminação do socialismo russo e economia vulnerável, o sucesso imediato do brinquedo não se apresentou como uma surpresa para os empresários. 


    Barbie 'Marketeira': visionária ou capitalista, um mesmo resultado

    Após sua grande estreia, a boneca não apenas manteve sua prosperidade, como também a elevou exponencialmente. A empresa utilizou de filmes, músicas, séries, itens personalizados dos mais diversos segmentos, roupas – e quaisquer outros produtos que pudessem ser materializados – para divulgar, continuamente, o brinquedo. Sendo assim, para seu grande retorno após um hiato de inovações, não haveria de ser diferente com um filme gerado a partir de tanto investimento. 

    Assim sendo, o marketing por trás da obra cinematográfica ultrapassou as barreiras de localidade e segmento cinematográfico para adentrar-se no mundo cotidiano. Nos mais diversos lugares do mundo, cafeterias e empresas alimentícias beneficiaram-se do momento para a inauguração de combos “Barbie” e novidades no cardápio; até mesmo em cidades interiores – incluindo de onde esta colunista vos escreve -, vitrines de lojas mergulharam no universo cor de rosa e , subitamente, em qualquer ponto onde os olhos pudessem repousar, havia uma referência ao filme. Até mesmo a patrimonial Linha 4 Amarela do metrô de São Paulo recebeu uma repaginada estética e entrou na moda. Para além das redes sociais, a existência do filme “Barbie” não só se tornou de conhecimento de milhões de indivíduos, como também fez parte de suas rotinas. 

    Nesse viés, atingindo a maior quantidade de pessoas possível, o longa-metragem apresenta a versatilidade de conversar com as mais diferentes gerações e gêneros – e, consequentemente, conta com a presença de pautas atemporais e pertencentes a um novo momento. Existiram aqueles que não tiveram contato com a boneca em uma primeira infância, mas a viram fazer parte da vida de outras crianças; aqueles que relembram a nostalgia de sua própria infância e até mesmo aqueles que estão passando por esse momento durante a estreia. Seja quem, quando e aonde for, o filme promete reservar um lugar especial de identificação para quem se propor assisti-lo. 


    Fale bem ou fale mal, mas fale de mim!

    E com tanta gente presenciando a obra, o que se tem de cor de rosa, têm de críticas ao filme: todo mundo tem algo a dizer sobre “Barbie”. Desde rostos emocionados ao som de “What I Was Made For”, à fúria daqueles que não se sentiram tão representados pela boneca (ou boneco), as críticas quanto ao filme podem ser encontradas nos mais diferentes veículos; e, talvez como tudo no cinema, passeiam pelas mais extremas opiniões – mas com proporções maiores do que grande parte das obras. Isso porque “Barbie” conta com temáticas dignas de discussões e não se satisfaz no estabelecimento de um meio termo: apresenta um posicionamento a respeito daquilo que se propõem a retratar e o mantém até seu desenlace. Em uma grande ironia, a película desvia do padrão Hollywoodiano de formulação de roteiro e surpreende a todos – negativamente ou positivamente. 

    Com todo esse contexto concebido para receber “Barbie”, o filme não se sustentava com uma resposta midiática positiva para marcar presença – assim, todas as opiniões, de internautas ou especialistas do ramo, atuam como contínuos pilares para a manutenção de seu sucesso. Considerando todas ou nenhuma opinião, o filme “Barbie” (2023) é um marco global e contenta-se com fatos para comprovar isso.