quinta-feira, 7 de setembro de 2023

E por falar em saudade, onde anda você, MPB?

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy!

    Seja durante as águas de março ou de janeiro a janeiro, não mais se vê a MPB nas esquinas, nos bares ou naquela mesa. Será que apenas nos resta ouvir as canções que esse movimento nos fez? Como nada se cria e tudo se transforma, é preciso entender o que foi o movimento da MPB, já que esse não se resume apenas a um estilo de música. Assim, cabe a conclusão dos apreciadores de músicas – e, claro, seu público-alvo: brasileiros -, identificar se essa corrente repercute até os dias atuais ou se, até mesmo, transformou-se em um lirismo equivalente aos dias atuais. 


    A bossa nova andou para que a MPB pudesse correr

    A MPB – ou melhor, MMPB, sigla que designa a Moderna Música Popular Brasileira – teve seu nascimento na segunda metade da década de 60. Sendo essa a filha rebelde de sua mãe, a Bossa Nova, é preciso entender, também, o momento esse outro movimento apresenta seu auge. A Bossa Nova apresentou seu pico de maior dispersão na década de 50, e se preocupava, principalmente, com a exposição da estética musical. Para isso, teve seu diferencial com a manutenção dos elementos musicais já presentes no samba: o objetivo era sintetizar as linhas rítmicas da batucada e colocá-las no violão. Essa mudança acarretava a preservação do balanço do samba com uma concomitante suavidade. Quanto ao canto, os artistas buscavam o afastamento da Era Radiofônica para uma aproximação às inovações tecnológicas trazidas na época que beneficiavam os mais diversos musicistas com uma maior qualidade sonora.     

    Porém, é com o maior engajamento dos jovens – principalmente estudantes – e a eclosão da ditadura militar, em 1964, que o estilo da Bossa Nova não é mais tão bem aceito. Apesar do prosseguimento com os padrões estéticos sonoros criados pelo movimento anterior, a MPB surge como uma forma de expressão para contrariar o sistema político e social imposto. Para isso, rompem com o até então vigente lirismo romântico e apresentam a adoção de temas políticas, além de retomarem elementos de músicas tradicionais populares – como o samba de morro, baião, coco, moda de viola e o frevo. Para o auxílio desse processo, os constituintes dessa mobilização contam com a revolução dos aparelhos televisores: através deles, promoviam os Festivais da Canção, que revelavam artistas e impulsionavam o reconhecimento do movimento. Nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina e Gilberto Gil compuseram o evento musical. 


    MPB: Muito pouco barulho?

    É com a história de seu surgimento e consolidação que se entende o que de fato é a MPB – e espero que neste ponto, caro leitor, tenha concluído emancipadamente que não é toda e qualquer música brasileira que fica popular. Dessa maneira, em uma perspectiva racional que leva em consideração aspectos principais como lirismo, sonoridade e contexto sócio-histórico, é impossível ter-se, atualmente, a mesma MPB dos anos 60, 70 ou até mesmo de 8 anos atrás (a Xepa já fez uma edição sobre a nova geração da MPB antes!). Isso porque, diferentemente de outros gêneros musicais como rock, rap ou pop, que possuem características comuns capazes de se configurarem como tais, a MPB é, também, um movimento social. Nem mesmo a Nova MPB, designada no final dos 90 e começo dos anos 2000, é considerada “nova” para o momento presente. 

    Entretanto, essa conclusão não deve ser sinônimo de melancolia – por mais que músicos a adorem: para a alegria de Chico Buarque, não é fatal que o faz de conta termine assim. Já que a própria MPB apresenta como característica formativa a transformação, essa permissão artística de mutação e a constante ampliação de sua estética – como a adesão do Tropicalismo, por exemplo - é responsável, também, por mantê-la viva.