sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Pixo: um outro olhar

O pixo é uma manifestação muito presente no estado de São Paulo, predominantemente na capital, e está alocado no cotidiano de muitos brasileiros, mesmo que indiretamente. Dessa forma, torna-se interessante a análise e o desenvolvimento de uma lente crítica diferente acerca do assunto, coincidentemente você chegou neste breve artigo e está convidado para a leitura.


"Passageiro do Brasil, São Paulo, agonia
Que sobrevivem em meio às honras e covardias
Periferias, vielas, cortiços
Você deve tá pensando: O que você tem a ver com isso?"

                                                        - Racionais MC's, Nego Drama

Origens

No Brasil, a pichação (com ch) se inicia em meados da década de 60 com a ditadura militar, carregando um grande cunho político em relação à insatisfação social, com mensagens contra a ditadura, com críticas e as mais diversas manifestações populares nos muros. Neste primeiro momento não apresentava letras estilizadas, preocupação estética ou uma comunidade de pixadores (surgirão com o Movimento Pixo), mas ainda sim quando eram pegos sofriam violência e repressão. Em seguida, surgiram as manifestações poéticas, só nos anos 80 que a pixação, com o Movimento Pixo, começou a tomar uma similaridade ao que temos hoje, principalmente com a popularização do movimento punk naquele período. Houve uma espécie de desdobramento deste movimento aqui no Brasil, foi realizada uma antropofagia, em maioria, por parte da periferia, que em suma, trouxe para essa manifestação o caráter anárquico, com inspirações de fontes de letras de capas de banda de rock (como Kiss e Iron Maiden) e runas anglo-saxônicas (alfabeto dos povos germânicos). 


Esses acontecimentos foram necessários para o nascimento do que temos como o pixo paulista, que foi fortemente caçado  com a eleição de Jânio Quadros para prefeito da cidade de São Paulo, em 1986, que foi responsável pela aplicação de políticas de limpeza pública. Com a constante invisibilidade da periferia e o sufocamento de tal expressão, o pixo começou a tomar outros rumos na década de 90, com um caráter de reconhecimento individual, lazer e adrenalina. No entanto, isso não impediu que o valor de protesto carregado fosse destruído, apenas transformado antropofagicamente em um estilo próprio brasileiro, ao passo que muitos artistas de rua internacionais buscam no pixo paulista, considerado original e expressivo, inspiração para suas obras.



O que o pixo nos diz

Talvez seria incorreto começar pelo que a pixação nos diz: a arte do pixo não está no literal. Segundo muitos pixadores, é um processo criativo, um estilo de vida, de devoção à arte, à medida que muitos correm riscos severos em sua prática, além de serem pegos como infratores da lei, podem se acidentar e vir a óbito.


A pixação, diferente de outras manifestações e protestos, não está no visual, mas sim no ato. Muitas vezes não carregam em seu visual mensagens complexas, apenas os pseudônimos dos autores para a identificação na comunidade, não é para ser legível ou compreendida pela massa, a essência é a ilegalidade, a anarquia, a proibição, a raiva. 


São Paulo deu espaço para essa manifestação, a energia da metrópole foi fundamental para sua repercussão até os dias atuais, abriu o espaço com a verticalização constante, para que se tornasse um caderno de caligrafia para aqueles que buscam uma brecha para respirar, é a forma de desabafo, pausa, grito, poesia e crítica social de gerações que precisam se expressar através da destruição, com uma comunição interna de pixador para pixador, a única comunicação com a sociedade é indireta e violenta, é feita para agredir. A periferia achou uma forma de se revoltar, com a máscara do feio, do incompreensível, conseguem transcender os muros que separam as classes, criando uma afronta, principalmente moral, quanto à prática. 


Muitos artistas periféricos consideram que o grafite é uma moeda comercial, diferente do pixo que não está dentro da lógica de mercado, logo, apresenta um valor social negativo. Além disso, também consideram que tal manifestação não precisa ser dita como arte por uma instituição, pois é justamente ir contra sua essência. É a fuga e a revolta crua, a invisibilidade fertiliza o cenário que propicia a ocuparem-se dos espaços públicos para os artistas deixarem suas marcas, para contribuir com um meio que pouco são representados. 


A sociedade está dependente de padrões, de identidades forjadas, do limpo, liso, uniforme, tudo que foge disso é destoante, torna-se facilmente uma agressão às formas díspares. Os pixadores periféricos, muito marginalizados, formam comunidades que além de serem brechas para a formação de vínculos positivos de amizade, ganham reconhecimento na cena local como praticantes. Participam de encontros e festas escondidas, onde é possível trocar suas assinaturas, que seriam os pixos específicos de cada artista, dessa maneira, oportuniza com que sejam registradas sua existência, pois pouco se tem catalogado sobre, apenas os amantes da comunidade costumam fazer gravações e fotos. Estes, infelizmente, acabam por se perderem pelo tempo, ao passo que não compõem o acervo de instituições formais: estão nas ruas.


No Brasil, o pixo é considerado vandalismo e crime ambiental, seguindo a lei Lei 9.605/98, prescreve multa e detenção ao praticante. Não é considerada uma arte pelo rigor da lei, moralmente existe a tolerância zero contra a pixação, onde o artista é visto como vagabundo e/ou bandido. Nesse panorama, é inevitável que exista uma constante briga entre o governo e os pixadores, na qual há uma maior preocupação em apagar os grafites do que cuidar de medidas públicas que favoreçam as periferias. As gravatas que dão as regras do jogo. 


No senso comum, pixação é ligada à criminalidade, ignorando as pluralidades, com o argumento de ataque à propriedade privada e ao patrimônio público, agressão feita puramente pelo ego do pixador, que destrói a cidade, de má fé, sendo uma manifestação sem voz e aculturada. Porém, o que se percebe é que essas críticas normalmente vem daqueles que fecham os olhos para a periferia: é o feio que eles tentam esconder e limpar com violência. 




Documentário que serviu de inspiração para a escrita deste artigo:

https://www.youtube.com/watch?v=skGyFowTzew

sábado, 4 de novembro de 2023

Efeito borboleta das mudanças climáticas: o aumento de casamento infantis

A mudança climática refletida atualmente traça uma linha tênue entre sensações térmicas inesperadas, casamentos infantis e violência doméstica.

    O conceito de aquecimento global não é de hoje, e, por mais que termos técnicos - como efeito estufa, ou a atual era de “ebulição global” - não sejam conhecidos por toda a população, os impactos causados por esses fenômenos, definitivamente, acometem a individualidade de cada habitante e a sociedade como um todo. Além dessas consequências, tem-se, ainda, severos efeitos que se desenrolam de maneira indireta: como é o caso de casamentos infantis. Então qual é essa relação, mesmo que remota?



    Ebulição global: o que temos de novo?

      A nova realidade climática em que o mundo se encontra foi denominada de “ebulição global”. Como uma modificação do aquecimento global, conta com a presença de temperaturas extremas e inéditas, contribuindo, consequentemente, para a persistência do efeito estufa. Referente a esse momento em que o planeta se encontra, alerta-se ao lento impedimento e a quase inexistente prevenção das ações desses fenômenos para ecossistema e sociedade.
      Entretanto, quando essa situação se intensifica, gerando fenômenos naturais extremos – a exemplo de altas temperaturas, ciclones, secas, inundações e tempestades -, em países subdesenvolvidos ou que não apresentam a estrutura necessária para remediação das consequências, tem-se o que se chama de catástrofe. Essas catástrofes constroem um cenário de intensa vulnerabilidade econômica, pobreza extrema, escassez de água e insegurança alimentar. Portanto, uma vez que uma nação não é capaz de prover uma solução para a retificação dessa circunstância, a própria população de um país encontra estratégias e respostas para sua sobrevivência.



    Entendendo culturas

     Para se entender pontos de vistas pertencentes a diferentes sociedades, é preciso olhar para a construção de uma nação e seus valores culturais, solidificados e alterados conforme eventos históricos e situações econômicas. Como analisaremos o casamento infantil, tem-se que esse ocorre quando um ou dois cônjuges são menores de 18 anos. Segundo dados da ONU, sabe-se que “pelo menos 19% das mulheres de 20 a 24 casaram-se com um parceiro antes dos 18 anos, sendo esses dados, mais frequentes em países de baixa e média renda”.
    Assim, culturalmente, entende-se que casar meninas menores de idade com homens adultos, de médio ou alto poder aquisitivo, é uma maneira de garantir a segurança e estabilidade financeira para a família da noiva – sendo responsável, geralmente, pela organização desse matrimônio. Essa decisão, ainda, está ligada de maneira direta com a constante gravidez na adolescência – e, consequentemente, violência doméstica e abusos infantis, tanto por parte dos pais - quando impõem a obrigação do casamento - quanto por parte dos cônjuges com as vítimas da prática ilegal.
     Ainda, tem-se, comumente, em casamentos arranjados, o pagamento de um “dote” – ou seja, uma quantidade de dinheiro ou bens aquisitivos para um dos lados da negociação. Em países como o Vietnã, por exemplo, é mais comum o homem remunerar o dote para a família da noiva. Entretanto, em países como a Índia, tradicionalmente, a família da noiva é responsável por ofertar o dote. Dessa forma, não é tão interessante a realização de casamentos arranjados para meninas menores de idade. Análises como essas podem ser vistas através de estudos e dados, e relacionadas com a situação de crítica influência climática.


     E como lidar?

    O estudo a respeito da relação entre casamentos infantis, violência doméstica e consequências climáticas iniciou-se com o aumento exponencial dos três tópicos, concomitantemente. Assim, conforme agrava-se a condição de fenômenos naturais extremos, aumenta-se a taxa de alianças matrimoniais arranjadas entre menores de idade – principalmente mulheres – e abusos infantis, entendendo-se os motivos que acabamos de ver. Essa realidade, ainda, mostra-se mais próxima do que podemos esperar.
    No Brasil, segundo um estudo feito pela Confederação Nacionaldos Municípios, os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul foram os mais sujeitos às respostas das alterações climáticas entre os anos de 2013 e 2022 – e, ao mesmo tempo, foram os estados que registraram o maior número de matrimônios envolvendo crianças e adolescentes menores de 18 anos. No país, apesar de ter como ilegal a prática do casamento infantil, é possível efetivar sua realização de maneira legítima a partir dos 16 anos, com consentimento de ambos os responsáveis.
   Assim sendo, entende-se que a realidade dessas inconstâncias climáticas já é suficientemente preocupante. Mas, quando se trata de países subdesenvolvidos ou emergentes, cabe ainda lidar com a bola de neve concebida por essas catástrofes – e no caso comentado, com a segurança e qualidade de vida de mulheres e crianças. Tem-se, ainda, a informação de que não seria cara a erradicação desses matrimônios ilegais: o investimento de US$ 35 bilhões seria o suficiente para findar essa realidade, enquanto uma média de US$ 600 por criança é capaz de evitá-la. Assim, um preço equivalente a um artigo de luxo é capaz de modificar toda uma vida.
        E mesmo que não se tenha vestígio de empatia para distender desse capital propenso ao retorno de uma melhor qualidade de vida, pode-se pensar do ponto de vista econômico: essas mesmas mulheres, que se casam quando menores de idade e submetem-se às condições impostas por seus tutores e cônjuges, poderiam contribuir positivamente com a sociedade e economia de uma nação, considerando que teriam a liberdade de optar por suas próprias funções sociais. 

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 2

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda quem está incluso e sua devida atuação.

    No artigo anterior, explicamos um contexto geral do início dos conflitos armados entre Israel e Palestina, até sua situação atualmente, quando esse artigo vos é escrito. Mas, além de um resumo geral, é necessário entender que outros agentes - sejam esses países ou organizações - estão envolvidos, de maneira indireta ou nivelada, nesse processo de guerra. Quem são e quais as atuações de alguns dos principais fatores influentes que não são, tão necessariamente, midiaticamente comentados, serão abordados nesse texto. 

À esquerda, membro do grupo político Hamas; ao centro, Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã; à direita, Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos.


    Hamas: não é a Palestina

    Durante o dia 07 de outubro, uma chuva de mísseis foi lançada pelo partido político Hamas, partindo da Faixa de Gaza e atingindo a região de Tel Aviv (atual capital do Estado de Israel) e a cidade de Jerusalém. A partir desse ataque, resultando no sequestro e morte de milhares de vítimas, as redes sociais se mobilizaram, em parte, para uma campanha “pró-Israel”. Diante dessa polêmica, tem-se como pauta urgente o entendimento da diferença entre o Hamas e a própria Palestina, uma vez que tal movimento político não representa, necessariamente, a posição dos palestinos.
      O Hamas, tendo seu nome traduzido do árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”, foi fundado em 1987, como um movimento de resistência. Isso porque, nesse ano, acontecia a Primeira Intifada palestina, com o intuito de resistir às ocupações israelenses das regiões da Cisjordânia e Faixa de Gaza - tendo seu final apenas com o Acordo de Oslo. É importante reiterar, ainda, que esse grupo militante é uma ramificação da Irmandade Muçulmana. Essa organização apresenta origem no Egito, tendo surgido com o intuito de libertar a pátria islâmica, e é conhecida, atualmente, por seus princípios radicais. Após sua atuação na Primeira Intifada, o Hamas prosseguiu com bombardeios ao Estado de Israel, tendo, supostamente, financiamento bélico e monetário pelo Irã. Além disso, no ano de 2007, com a retirada da população israelense da Faixa de Gaza e a ocorrência das eleições políticas, Hamas torna-se o partido político vencedor e recebe o poder de controle da região. 
      Com esse novo controle, o Hamas se recusa a realizar acordos políticos e colaborações com demais partidos opositores, instituindo fortes bloqueios econômicos para o território. Essas decisões políticas agravam-se com as repostas de Israel para essas declarações - sendo essas, tanto bélicas, como bombardeios, quanto políticas, como a impossibilidade de chegada de água, de instituições escolares, de materiais de construções e, até mesmo, apoio de ONGs. Com isso, tem-se uma série de consequências negativas para a região, como a pobreza extrema e a baixa qualidade de vida. Portanto, mesmo lutando contra Israel, o Hamas influencia, negativamente, e agrava a situação de milhares de palestinos, principalmente viventes da Faixa de Gaza. A região é considerada, atualmente, o maior “cárcere a céu aberto”.


    Irã: qual a ligação com o Hamas?

     Para se entender o possível patrocínio ofertado pelo Irã ao grupo político Hamas, além de seus elogios aos atentados gerados, faz-se preciso lembrar da Guerra Irã-Iraque - entre 1980 e 1988. Apesar da Guerra ter sido realizada apenas na década de 80, há dez anos antes já haviam brigas entre as duas nações a respeito de disputas territoriais por desavenças políticas e motivos religiosos. Além desses conflitos, com o controle da região da Faixa de Gaza por parte de Israel, do interrompimento das rotas de abastecimento do Irã para Gaza.         Por conta desse tenso histórico político entre países, o Irã apresenta seu posicionamento mais favorável a grupos que se propõem a acabar com o Estado de Israel - como é o caso do Hamas: e não, de fato, à libertação da Palestina ou à divisão territorial legal.
    Enquanto o Hamas confirma o apoio do Irã nos planejamentos militares e atentados, a nação nega envolvimento com o conflito armado, apesar da fala do Líder Supremo, Ali Khamenei, referir-se à “libertação de Jerusalém”. Já Israel e Estados Unidos afirmam ter certeza do envolvimento da pátria asiática na Guerra.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Israel, Palestina e os personagens secundários no conflito – Parte 1

A ponta do Iceberg do atual conflito armado mostra “Israel x Palestina”; mas quanto mais enraizado, maior é a quantidade de agentes envolvidos: entenda do início para a atualidade.

À esquerda, Benjamin Netanyahu - Primeiro-ministro de Israel -, e à direita, Mahmoud Abbas, Presidente do Estado da Palestina.

    Israel x Palestina: 100 anos, 1 texto

    Um dos conflitos mais debatidos, atualmente, remonta a um cenário de pós-guerra, na década de 40, e possui como pilares questões, principalmente, geopolíticas e religiosas. Para se entender o que se tem hoje, faz-se necessário retornar a um passado não tão distante em termos históricos, mas longo o suficiente para afetar a vida de toda uma população. Em 1917, o Império Britânico emite a Declaração de Balfour, conferindo à população judaica a permanência na, até então, região da Palestina, uma vez que “não ferisse os direitos civis das populações não judaicas que ali viviam”.
    Os judeus eram vistos como uma população sem pátria pelo Império Britânico, que buscava garantir apoio aos Aliados durante a Grande Guerra. Porém, tal comunicado soava como uma traição aos palestinos que já constituíam a região – entende-se como palestinos a população árabe, que apresenta, em grande parte, a religião muçulmana. Essa região, por sua vez, possui suma importância religiosa tanto para muçulmanos, quanto para os judeus. A partir de 1920, com a vitória do Império Britânico, o Mandato Britânico da Palestina entra em ação e acontece uma reorganização de palestinos e judeus, como prometido pela Declaração de Balfour. Legalmente, o documento previa a divisão de um mesmo território para dois estados: um Estado para o povo judeu, e outro, para os palestinos – que não haviam um Estado formalmente formado. 

Conflitos: o barril de pólvora explode

O primeiro impasse nessa divisão territorial se dá, entretanto, com a partilha da cidade de Jerusalém: nada havia escrito sobre o pertencimento da cidade de destaque religioso. Com a Conferência da ONU, em 1947, e sua consequente aprovação para criação dos dois Estados propostos pelo Mandato, nasce o Estado de Israel. Porém, os palestinos não aceitaram o acordo, alegando injustiça nos termos de divisão territorial: teriam ficado com piores terras e localização. Como resposta a esse desacordo, tem-se a primeira Guerra árabe-israelense, no mesmo ano, opondo o Estado recém formado à Liga Árabe. Como consequência, assim como de outras guerras consecutivas na região – como a Guerra dos Seis Dias, em 1967 - , teve-se um aumento territorial israelense e uma expulsão do povo palestino de suas terras conquistadas: gerando o que se denominou de Questão Palestina
        É ainda em 1993, com o agravamento desses assentamentos israelenses de maneira ilegal, que acontece um acordo para a retirada dos judeus sionistas que lá se fixaram. Com essa saída gradual, a proposta era estabelecer o Estado da Palestina de maneira legítima. Esse acordo não foi colocado em prática em decorrência do movimento Sionista extremista que constitui parte do Estado de Israel, sendo esse, terminantemente contra a criação do Estado da Palestina. 
        Geopoliticamente, no atual Estado de Israel, palestinos estão concentrados nas regiões da Faixa de Gaza e Cisjordânia, ambos fazendo fronteira com o Estado de Israel; com o Egito e a Jordânia, respectivamente. É na Faixa de Gaza que se encontram os Hamas, movimento islamista palestino que tem sido tão comentado recentemente.
        Assim, segue até os dia em que esse artigo vos é escrito, uma sequência de conflitos armados entre o Estado de Israel e Palestinos: e os Estados Unidos, e o Egito, e o Irã e diversos outros grupos que se desmembraram a partir do início desses confrontos - há 100 anos atrás. Por isso, faz-se necessário o entendimento de suas atuações e influências nesse processo, em que cada único agente é capaz de alterar a realidade e vida de milhares de pessoas: como tem sido feito há um século.  

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

E por falar em saudade, onde anda você, MPB?

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy!

    Seja durante as águas de março ou de janeiro a janeiro, não mais se vê a MPB nas esquinas, nos bares ou naquela mesa. Será que apenas nos resta ouvir as canções que esse movimento nos fez? Como nada se cria e tudo se transforma, é preciso entender o que foi o movimento da MPB, já que esse não se resume apenas a um estilo de música. Assim, cabe a conclusão dos apreciadores de músicas – e, claro, seu público-alvo: brasileiros -, identificar se essa corrente repercute até os dias atuais ou se, até mesmo, transformou-se em um lirismo equivalente aos dias atuais. 


    A bossa nova andou para que a MPB pudesse correr

    A MPB – ou melhor, MMPB, sigla que designa a Moderna Música Popular Brasileira – teve seu nascimento na segunda metade da década de 60. Sendo essa a filha rebelde de sua mãe, a Bossa Nova, é preciso entender, também, o momento esse outro movimento apresenta seu auge. A Bossa Nova apresentou seu pico de maior dispersão na década de 50, e se preocupava, principalmente, com a exposição da estética musical. Para isso, teve seu diferencial com a manutenção dos elementos musicais já presentes no samba: o objetivo era sintetizar as linhas rítmicas da batucada e colocá-las no violão. Essa mudança acarretava a preservação do balanço do samba com uma concomitante suavidade. Quanto ao canto, os artistas buscavam o afastamento da Era Radiofônica para uma aproximação às inovações tecnológicas trazidas na época que beneficiavam os mais diversos musicistas com uma maior qualidade sonora.     

    Porém, é com o maior engajamento dos jovens – principalmente estudantes – e a eclosão da ditadura militar, em 1964, que o estilo da Bossa Nova não é mais tão bem aceito. Apesar do prosseguimento com os padrões estéticos sonoros criados pelo movimento anterior, a MPB surge como uma forma de expressão para contrariar o sistema político e social imposto. Para isso, rompem com o até então vigente lirismo romântico e apresentam a adoção de temas políticas, além de retomarem elementos de músicas tradicionais populares – como o samba de morro, baião, coco, moda de viola e o frevo. Para o auxílio desse processo, os constituintes dessa mobilização contam com a revolução dos aparelhos televisores: através deles, promoviam os Festivais da Canção, que revelavam artistas e impulsionavam o reconhecimento do movimento. Nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina e Gilberto Gil compuseram o evento musical. 


    MPB: Muito pouco barulho?

    É com a história de seu surgimento e consolidação que se entende o que de fato é a MPB – e espero que neste ponto, caro leitor, tenha concluído emancipadamente que não é toda e qualquer música brasileira que fica popular. Dessa maneira, em uma perspectiva racional que leva em consideração aspectos principais como lirismo, sonoridade e contexto sócio-histórico, é impossível ter-se, atualmente, a mesma MPB dos anos 60, 70 ou até mesmo de 8 anos atrás (a Xepa já fez uma edição sobre a nova geração da MPB antes!). Isso porque, diferentemente de outros gêneros musicais como rock, rap ou pop, que possuem características comuns capazes de se configurarem como tais, a MPB é, também, um movimento social. Nem mesmo a Nova MPB, designada no final dos 90 e começo dos anos 2000, é considerada “nova” para o momento presente. 

    Entretanto, essa conclusão não deve ser sinônimo de melancolia – por mais que músicos a adorem: para a alegria de Chico Buarque, não é fatal que o faz de conta termine assim. Já que a própria MPB apresenta como característica formativa a transformação, essa permissão artística de mutação e a constante ampliação de sua estética – como a adesão do Tropicalismo, por exemplo - é responsável, também, por mantê-la viva. 

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

“Barbie” (2023): além de um clássico do cinema, um marco histórico

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy! 

    O sucesso do brinquedo Barbie pode ser recente, mas, com certeza, não é novo. Tratando-se de um produto que, apesar de momentos de crise, não se desgastou com o tempo ao nível do esquecimento, não se poderia esperar uma repercussão tão divergente. Mais do que isso: não haveria possibilidade do filme “Barbie” (2023), dirigido por Greta Gerwig, não ser sucesso de bilheteria. Isso porque a obra é muito mais extensa do que a 1 hora e 54 minutos apresentada na telinha. Durante esse artigo, serão expostos e debatidos alguns pilares que sustentam o fenômeno desse filme – sem ao menos considerar o seu conteúdo ou quantidade de críticas positivas e negativas.



    Barbie Cientista: uma viagem no tempo 

    Em um contexto pós Segunda Guerra Mundial, indústrias bélicas precisavam mudar seu segmento de produção: mais do que isso, precisavam reutilizar toda a sucata restante e evitar o desperdício material e de capital. Nesse mesmo momento, fazia-se presente uma política de incentivo à natalidade norte-americana, equilibrando a balança de déficit, consequente da Grande Guerra. Assim, desenvolve-se nos Estados Unidos, fábricas de brinquedo em massa. 

    É neste ponto, em 1945, que o casal Ruth e Elliot Handler e o americano Harold Matson apresentam a indústria de brinquedos “Mattel”. A princípio, com os materiais que lhes eram disponíveis, criavam móveis para casas de bonecas. Porém, conforme crescia a primogênita do casal, Barbara Handler, a então administradora da empresa, Ruth – fato revolucionário para uma época em que a silhueta feminina não era bem vista como figura de autoridade -, percebeu que sua filha gostava de atribuir características às suas bonecas: um dia ela era presidente, e no outro, era bailarina. Com isso, no ano de 1959, foi apresentada a primeira “Barbie”, na Feira Americana de Brinquedo, em Nova York: o inovador produto se assimilava à boneca Bild Lilli - a qual a Mattel comprara os direitos autorais -  e contava com o diferencial das contrastantes personalidades propostas pela pequena Barbara. 

    Símbolo do movimento feminista ou causador de seu atraso, a Barbie retomava todos os conceitos difundidos pelo “American Way of Life” e padrões estadunidenses. Em uma conjuntura de necessidade de pertencimento nacional, temor pela disseminação do socialismo russo e economia vulnerável, o sucesso imediato do brinquedo não se apresentou como uma surpresa para os empresários. 


    Barbie 'Marketeira': visionária ou capitalista, um mesmo resultado

    Após sua grande estreia, a boneca não apenas manteve sua prosperidade, como também a elevou exponencialmente. A empresa utilizou de filmes, músicas, séries, itens personalizados dos mais diversos segmentos, roupas – e quaisquer outros produtos que pudessem ser materializados – para divulgar, continuamente, o brinquedo. Sendo assim, para seu grande retorno após um hiato de inovações, não haveria de ser diferente com um filme gerado a partir de tanto investimento. 

    Assim sendo, o marketing por trás da obra cinematográfica ultrapassou as barreiras de localidade e segmento cinematográfico para adentrar-se no mundo cotidiano. Nos mais diversos lugares do mundo, cafeterias e empresas alimentícias beneficiaram-se do momento para a inauguração de combos “Barbie” e novidades no cardápio; até mesmo em cidades interiores – incluindo de onde esta colunista vos escreve -, vitrines de lojas mergulharam no universo cor de rosa e , subitamente, em qualquer ponto onde os olhos pudessem repousar, havia uma referência ao filme. Até mesmo a patrimonial Linha 4 Amarela do metrô de São Paulo recebeu uma repaginada estética e entrou na moda. Para além das redes sociais, a existência do filme “Barbie” não só se tornou de conhecimento de milhões de indivíduos, como também fez parte de suas rotinas. 

    Nesse viés, atingindo a maior quantidade de pessoas possível, o longa-metragem apresenta a versatilidade de conversar com as mais diferentes gerações e gêneros – e, consequentemente, conta com a presença de pautas atemporais e pertencentes a um novo momento. Existiram aqueles que não tiveram contato com a boneca em uma primeira infância, mas a viram fazer parte da vida de outras crianças; aqueles que relembram a nostalgia de sua própria infância e até mesmo aqueles que estão passando por esse momento durante a estreia. Seja quem, quando e aonde for, o filme promete reservar um lugar especial de identificação para quem se propor assisti-lo. 


    Fale bem ou fale mal, mas fale de mim!

    E com tanta gente presenciando a obra, o que se tem de cor de rosa, têm de críticas ao filme: todo mundo tem algo a dizer sobre “Barbie”. Desde rostos emocionados ao som de “What I Was Made For”, à fúria daqueles que não se sentiram tão representados pela boneca (ou boneco), as críticas quanto ao filme podem ser encontradas nos mais diferentes veículos; e, talvez como tudo no cinema, passeiam pelas mais extremas opiniões – mas com proporções maiores do que grande parte das obras. Isso porque “Barbie” conta com temáticas dignas de discussões e não se satisfaz no estabelecimento de um meio termo: apresenta um posicionamento a respeito daquilo que se propõem a retratar e o mantém até seu desenlace. Em uma grande ironia, a película desvia do padrão Hollywoodiano de formulação de roteiro e surpreende a todos – negativamente ou positivamente. 

    Com todo esse contexto concebido para receber “Barbie”, o filme não se sustentava com uma resposta midiática positiva para marcar presença – assim, todas as opiniões, de internautas ou especialistas do ramo, atuam como contínuos pilares para a manutenção de seu sucesso. Considerando todas ou nenhuma opinião, o filme “Barbie” (2023) é um marco global e contenta-se com fatos para comprovar isso.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Moda Old Money: meu bilionário favorito!! - Parte 2

Fenômeno Old Money: muito mais que as polos brancas e calças de alfaiataria. 



Mas se é algo tão problemático, como se tornou um trend?

Incialmente, é importante ter noção que a internet possui algoritmos, esses que muitas vezes ditam o que será moda ou não. Entretanto, poderíamos supor que talvez existam mais fatores, um deles sendo a visibilidade que essas pessoas, ricas, possuem para compartilhar seus estilos de vida ao público. Ainda sim, não é o suficiente para tantas pessoas se tornarem tão fanáticas rapidamente pelo estilo. Crises econômicas, políticas ou sociais, podem mudar drasticamente os costumes da população, em escalas mundiais. Com a pandemia do Covid-19, em 2020, foi perceptível a presença de milhares de pessoas imersas em redes sociais, tanto como produtoras de conteúdo, quanto apenas espectadores, logo, a exposição a qualquer conteúdo que estivesse em alta teria um maior alcance, e em um momento tão delicado como esse, que resultou em diversos problemas em macro e micro esferas, a necessidade de fuga da realidade se fez, como consequência, tivemos seu grande auge. 


Então, por que esse estilo continuou, mesmo após seu grande boom?

A resposta ainda é praticamente a mesma, crises. Nota-se que o Old Money tem diferenças a outros estilos que surgem e morrem diariamente nas redes, ele fala muito mais sobre estilo de vida e costumes quando comparados a outros, isso demonstra uma sociedade que está doente, constantemente em busca de uma realidade alterna, longe dos atuais problemas. O luxo, o prestígio, a fartura e diversos outros aspectos são dedicados apenas a porções minutas da população mundial, o desejo por essas vidas privilegiadas é presente na vida de milhares de pessoas, que sofrem com as frequentes crises sociais, econômicas e políticas, cada vez mais desestabilizadas. Imaginar que é um deles, que senta em suas mesas, em seus palácios, com suas roupas de grifes, por exemplo, pode ser um alívio momentâneo da dura realidade enfrentada diariamente.


Considerações finais...

Usar essas roupas não é um problema, almejar é só um sintoma. Torna-se um verdadeiro male quando esses estilos de vida (não se apegando necessariamente ao Old Money, mas na mesma vertente) são normalizados, junto disso, sua ideologia dominante, pois começa-se a pensar que a vida ideal das heranças é alcançável, então, consequentemente, esse pensamento acaba infectando outras esferas, principalmente a política, na qual o indivíduo irá privilegiar muito mais as decisões que beneficiem esses grupos, pensando que um dia poderá ser como eles. Uma mera peça de vestuário não pode oferecer a riqueza dessas famílias que acumulam riqueza, muitas vezes, desde a revolução industrial, com exploração de milhares de operários ao longo dos anos. Mesmo que tenha a riqueza, não terá o prestígio que seus nomes carregam, mesmo que sejam nas melhores mesas e os melhores vinhos, não será um integrante de seus clubes de luxo. A eles as cartas foram dadas a anos, a nós, "o ódio ou compaixão".


quarta-feira, 21 de junho de 2023

O que cupidos e filósofos têm em comum? - Parte 2

Dia dos Namorados, relações líquidas e o capitalismo da pós modernidade globalizada: a cultura pop e a fórmula mágica do casamento.




    Calcule seu felicitômetro

     O que se esperar de uma sociedade em que tudo é programado para não durar? Talvez para Heráclito, a base da vida seja como o correr das águas de um rio: apenas tudo deva mudar constantemente. Porém, para o filósofo polonês Zygumnt Bauman, pode-se categorizar essa sensação com algumas expressões: sociedade e amor líquidos. Quando se trata do nicho das redes sociais e cultura de descarte em massa, entende-se que a ideia central do escritor se fundamenta em um amor “que escorre por entre os dedos”: consequência de relações superficiais que proporcionam laços descartáveis. 

     Assim, no contexto de uma sociedade pós modernidade globalizada, existe uma busca inconsciente pela gratificação imediata e validação pessoal. Essa felicidade líquida, portanto, deve ser atestada pelos outros – sendo esse, portanto, um dos principais defeitos encontrados e abordados por Bauman. Mas se o posicionamento proposto se assemelha a uma crítica ao amor, existe uma lacuna por entre o espaçamento das palavras: justamente por ser uma necessidade fundamental do ser humano, deve-se haver mais discussões sobre o tema fora da utopia proposta pelo entretenimento de massa. 


    Madame Bovary e o “como eu quero” do Kid Abelha

     O termo “Bovarismo” é de teor psicológico utilizado para designar pessoas que não se satisfazem com a realidade em que estão inseridos ou coisas que possuem, constantemente idealizando e comparando com outras naturezas – situação que se adapta, também, a relacionamentos. O termo foi inspirado pela célebre personagem Emma Bovary, que entendia como seu conceito de amor, tudo aquilo que absorvia dos livros de romance que lia quando adolescente: um amor avassalador, inconstante e, acima de tudo, fictício – afinal, sua função comercial é entreter o leito e se vender a partir disso. Já era de se esperar que, ao comprometer-se em um relacionamento, Bovary cai na rotina, assim como sua imaginação e expectativas.

     E se “Madame Bovary”, de 1856, expõe essa problemática como característica pertinente ao ser humano, entende-se que a raiz do problema esconde-se muito além da nossa realidade. Dessa maneira, não se pode culpar o momento social em que estamos inseridos pelo modo que nos relacionamos; ao mesmo tempo, não é possível escapar dele, cabendo a nós, imponentemente, entendê-lo e adequar nossas expectativas e idealizações aquilo que nos é ofertado – não aquilo que é vendido como fórmula mágica e exigência para a felicidade.  


 Cultura pop, redes sociais e nossos coachs de relacionamento

     Retornando, entretanto, ao século XXI, a contemporaneidade se depara com as redes sociais cotidianamente – negar, pelo menos uma parcela mínima de contato rotineiro, é inverossímil. No quesito relacionamento, tem-se a questão de comparação com outros casais, principalmente nos veículos Instagram e TikTok: quando um grande gesto viraliza em um desses meios, é comum por parte dos espectadores colocá-los em um patamar de referência a ser seguido; como por exemplo, a constantemente repetida frase “se [determinado casal] terminar, não acredito mais no amor”. O problema se dá quando esses comentários deixam de ser simples interações para tornarem-se crenças e ações concretas.

     Em um episódio da recém estreada temporada da série “Black Mirror”, uma empresa de streaming opta por realizar séries baseadas no cotidiano de cada indivíduo, a partir de registros captados pelos celulares individuais de cada consumidor. Entretanto, ao decidirem o viés que a obra apresentaria, abordaram uma visão negativa e conturbada da vida das pessoas, já que momentos comuns próprios não possuíam um potencial instigador; e, portanto, não gerariam tanto entretenimento. Assim, na realidade, o mesmo acontece, também, de maneira inversa: aquilo que é exposto geralmente apresenta a intenção de ser visto pelo máximo de pessoas – seja real, ou ficção. E por mais que tais momentos sejam efetivamente verdadeiros, não se pode basear diferentes modos de vida e personalidades em apenas uma única ação, manipulada pelas lentes da fonte de que a emite. 

     Assim, não se tem um culpado a quem evitar ou criticar: apenas a libertação de padrões que são vendidos e comprados por nós repetidamente. Não se ter tudo o que outras pessoas possuem, ou não suceder com todas as exigências das expectativas de uma idealização, não é sinônimo de uma vida – individual ou amorosa – infeliz. Pelo contrário: deve-se utilizar esses meios a favor próprio no intuito de se conhecer o suficiente, a fim de não se manter preso às amarras há muito tempo socialmente enraizadas; e, logicamente, não condizentes com os valores morais de todos os seres humanos. 

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Moda Old Money: meu bilionário favorito!! - Parte 1

É inegável que a Internet é um campo que permite diversas pessoas compartilharem seus gostos, influenciar massas, principalmente no campo da moda. Hoje discutiremos um pouco sobre o fenômeno do Old Money nas redes sociais e suas implicações sociais, sente-se e aproveite!




Afinal, o que é Old Money?

Old Money, na tradução literal, significa "dinheiro velho", ou seja, herança, moda dos herdeiros. O termo ganhou grande capilaridade com o TikTok, com hashtags que chegaram a atingir milhões visualizações, mas desde o início da pandemia do covid-19, em 2020, já esteve presente nas redes. Historicamente, esse estilo surgiu em regiões de acúmulo de capital durante e após a Revolução Industrial, principalmente nos Estados Unidos e partes da Europa. Possui raízes derivadas do estilo Preppy, que seria inspirado nos uniformes de estudantes de escolas particulares preparatórias dos Estados Unidos, entretanto, é mais ligado ao modo de se vestir dos burgueses do século XX, os quais podemos citar famílias tradicionais, herdeiros, que fazem parte da alta aristocracia da sociedade. 

Os looks apresentam suéteres, roupas de seda, ouro, pérolas, nomes de grandes grifes como Chanel e Ralph Laureen, porém sempre discretos, nunca com grandes logos e sempre presentes as cores neutras e atemporais. São principalmente inspirações de esportes elitizados, como o hipismo, golfe, tênis e polo. Sempre optando pela elegância sem extravagância. 


Mas o que tem de tão errado com esse estilo?

Por mais que esse estilo, que está inserido nos dias atuais entre os jovens na Internet, possa estimular certos hábitos mais sustentáveis e saudáveis com a moda - como optar por roupas de maior qualidade que poderão durar anos - ainda é pauta discutível, afinal, sofremos um seríssimo problema com descartes de roupas e a famosa fast fashion. Nesse caso sim, é interessante a ascensão de um estilo que opte por formas mais sustentáveis de se consumir a moda, ainda mais com a quantidade de conteúdo rápido presente em redes sociais como o TikTok, onde tais estilos duram menos de uma semana e caem em total esquecimento, estimulando ainda mais o consumismo exacerbado presente na nossa sociedade. No entanto, nossos olhos devem ser atentos: o aspecto social é muito mais impactante e esconde uma verdade dura e crua sobre o fenômeno do Old Money, a romantização da aristocracia e o classicismo. 

Esse estilo não é só presente nas roupas, também se apresenta na arquitetura, no lazer, na educação, é um estilo de vida, são herdeiros. Um ponto interessante de enfatizar é que o Old Money seria contrário aos intitulados New Money (na tradução literal, significa "novo dinheiro", os novos ricos), pois para eles são extravagantes demais, carregam logos de grifes, são outdoors públicos de marcas, vulgares...ainda sim, olhando mais profundamente, veremos apenas mais uma maneira dos ricos herdeiros de se distanciar dos novos ricos, que provavelmente nunca farão parte dessa aristocracia, porque não é totalmente pelo dinheiro (óbvio que é necessário), estamos falando do nome que importa, a herança. Não é de hoje que a burguesia cria métodos para se diferenciar do resto, dos trabalhadores, mesmo os que raramente são contemplados com a ascensão social, mostrando etiquetas, códigos, regras, parâmetros, que não podem ser alcançados pelos "outros" (mesmo que estes tentem replicá-los), por aqueles que não fazem parte desse grupo seleto, esse é o objetivo, criar a redoma indestrutível dos "sangue azul". Agora com o acesso das massas a esse estilo, será que os burgueses entregarão as cartas?


quinta-feira, 1 de junho de 2023

O que cupidos e filósofos têm em comum? - Parte 1

Dia dos Namorados, relações líquidas e o capitalismo da pós modernidade globalizada: não é só com beijos que se prova o amor!




    Era uma vez...

     O Dia dos Namorados, como é conhecido e comemorado no Brasil, em 12 de junho, é a data comemorativa correspondente ao “Valentine’s Day” – ou Dia de São Valentim -, celebrado no dia 14 de fevereiro ao redor do globo terrestre, e não comemora apenas o amor romântico; mas sim, o amor familiar e entre amigos. Apesar de semelhantes em sua essência, apresentam origens bem distintas que resultaram em um mesmo propósito: o lucro de comerciantes e da indústria de entretenimento de massa. 

   A data estrangeira teve seu provável surgimento no século III – popularizando-se, no entanto, no século V, a partir do reconhecimento do mártir São Valentim como santo. Admite-se que, na época, o padre unia jovens em matrimônio sob teor religioso em uma época que casamentos eram proibidos – o então imperador romano Cláudio II havia-os banido, com a alegação de que a constituição de uma família impediria homens de serem bons soldados. 

    Uma vez descoberto, Valentim foi preso e, antes de condenado à morte – decapitação essa que aconteceu no dia 14 de fevereiro -, estando apaixonado, escrevia cartas de amor assinadas “de seu Valentim”. Os poetas Geoffrey Chaucer e Charles d’Órleans incentivaram, durante os anos seguintes, a popularização da lenda ao creditar o mártir em seus textos. As grandes empresas, por sua vez, fizeram sua parte adotando data a partir dos séculos XIX e XX, através da globalização e consolidação do capitalismo. 


    O outro lado da moeda

    Já no Brasil, a data efetivou-se de fato no ano de 1949, através de uma ação de campanha publicitária para um loja por parte do publicitário João Dória, pai do ex-governador de São Paulo: junho era considerado um mês muito fraco para vendas, atingindo diretamente os comerciantes; por isso, sugeriu o dia 12 de junho – aproveitando-se de o dia anterior ser considerado o dia do santo casamenteiro, Santo Antônio – como o Dia dos Namorados. 

    Essa data, que contava com o slogan “não é só com beijos que se prova o amor”, deveria ser utilizada para presentear seu parceiro e pessoa amada com o mais vasto leque de opções – e, até os dias atuais, junho é um dos mais fortes meses de venda. 


    Comprando, consumindo, amando

    Nesse sentido, o que não faltam são motivos para reconhecer-se o teor capitalista e lucrativo que é atrelado à data. Durante o passar dos anos, novos presentes são inventados, reinventados e vendidos a preços exorbitantes – e até mesmo os clássicos e simples são, ainda, comprados em desmesurada escala. Mas o que esse valor simboliza dentro de um relacionamento? Gastar com um companheiro prova amor ou o amor é comprado pelo dinheiro? 

    E nessa conjuntura, o capitalismo não se beneficia do amor apenas através de uma ocasião específica: mas sim, por meio de um consumo em massa de obras que vendem uma idealização de amor, justamente para tal fim. Através de produções cinematográficas, por exemplo, é recorrente a entrega de presentes àqueles quem a personagem está tentando conquistar ou redimir-se, substituindo até mesmo erros por bens materiais – em muitos desses estereótipos, a ação funciona de maneira exemplar. A partir da consumação desses conteúdos em diferentes fases da vida, a tendência é uma inconsciente reprodução de comportamentos que são ofertados como corretos ou o caminho a ser seguido. Essa proliferação de comportamentos, no entanto, não se restringe apenas ao âmbito das compras. 

    Existe, ainda, uma implícita comparação com o “relacionamento midiático” – seja com celebridades, influencers ou até mesmo conhecidos: o que se absorve é o que é exposto nas redes sociais. A partir disso, expectativas e definições da qualidade de um relacionamento podem ser alteradas, através do desejo de ter para si “algo tão bom” quanto o parâmetro de admiração estabelecido – analogia que pode ser feita não apenas com bens materiais; mas também, com ações. 

    No entanto, não se trata de responsabilizar o relacionamento, a comemoração da data festiva em si ou a troca de presentes como objeto de culpa: mas sim, propor o questionamento da influência dos valores que esse dia – e suas conseguintes imposições – exerce sobre o relacionamento e individualidade humana, independentemente da situação amorosa em que se encontra. Receber ou não presentes – e sua congruente qualidade – não deve ser fator decisivo para determinar a índole de um parceiro em sua relação, assim como demonstrações de carinho e respeito não devem ser “reservadas” apenas para um dia dos 365 que compõe o ano. 

 


quarta-feira, 17 de maio de 2023

Histórias de rosas: Carolina Maria de Jesus (Série)

Durante essa série em homenagem à data comemorativa de Dia das Mães, dividida em três partes, abordaremos histórias profundas de mães guerreiras como tantas outras no Brasil afora.



    Carolina Maria de Jesus – quem foi?

    Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira nascida em Sacramento, Minas Gerais (MG). Filha de pais analfabetos, cursou até o segundo ano escolar – suficiente para desenvolver interesse pela leitura e escrita; porém, em sua mocidade, após a morte de sua mãe, mudou-se para a metrópole de São Paulo, onde residiu na favela do Canindé até 1963 – sendo esse o cenário de muitas de suas obras, a exemplo do livro "Quarto de Despejo". Fora empregada doméstica e, enquanto residente da favela, catava papel para sobreviver durante o dia e escrevia nas horas vagas para sentir-se realmente viva.

    Pouco se tem sobre os relatos de Carolina em relação à própria mãe, mas durante todo o livro analisado nessa síntese – “Quarto de Despejo” – o leitor é capaz de mergulhar na experiência da autora em ser mãe solo, negra, trabalhadora e residente da favela em um contexto de grande crise histórica pós Segunda Guerra Mundial e nacional-desenvolvimentismo.

 

    Maternidade aos olhos de Dona Carolina:

    A escritora tivera 3 filhos ao longo da vida: João José de Jesus (1948-1977), José Carlos de Jesus (1950-2016) e Vera Eunice de Jesus Lima (1953) – nenhuma de suas gravidezes fora planejada, sendo frutos, também, de relacionamentos diferentes. Durante toda sua obra, são nítidos o carinho, consideração e empatia que Carolina tem por crianças no geral: entende que crianças podem ser imaturas, desastradas e ingênuas – respeitando, acima de tudo, a ingenuidade inerente da fase infantil, característica que tenta preservar a todo custo mesmo no viés em que são criadas. Dessa forma, a autora entende como infantilidade da parte dos adultos discutir com crianças ou afligi-las fisicamente, atribuindo à sua própria responsabilidade tratar os filhos de outros moradores da favela de maneira educada, visando que gostaria que fizessem o mesmo com seus filhos. 

    Em decorrência desse ambiente hostil que a cercava, sabia da necessidade de manter, sempre que possível, a mente sã: para Carolina, o álcool era inconcebível quando se pensava em uma criação saudável de seus filhos. Apesar de não ser capaz de controlar o comportamento de outros moradores da favela, como frisa em seu livro, faz o possível para difundir um bom exemplo no cotidiano. Esse paradigma materno consistia, também, na tentativa de manter uma infância sadia e preservada de traumas, uma vez que nessa mesma conjuntura havia a constante da violência, da sexualização e abuso – principalmente femininos – presenciados pelas crianças.


“Os ebrios não prosperam. [...] Tenho responsabilidade. Os meus filhos! E o dinheiro gasto em cerveja faz falta para o escencial.”


    Além disso, por conta do período em que tivera acesso à educação, Carolina valorizava com excelência a obtenção de conhecimentos, através de estudos acadêmicos e hábitos de leitura, visando o distanciamento da alienação pública. Dessa forma, era substancial a frequência de seus filhos no ambiente escolar; mesmo preocupada com suas condições, sempre se alertava à sua educação – principalmente em detrimento do trabalho ou da requisição de esmolas, como faziam outras crianças.

    Outro desafio enfrentado, e talvez o mais pertinente durante a obra, no desenvolvimento de seus filhos, tratava-se da falta de dinheiro. Carência essa que refletia no alimento adquirido, nas roupas e sapatos, e na condição da casa que os envolviam. Durante sua jornada, a escritora obtinha o dinheiro necessário para, no mínimo, uma refeição diária – mostrando maior angústia sempre nas proximidades dos finais de semana. Um tema mais frequente do que a fome em seu livro, é a fome de seus filhos e suas reclamações.


"Como é horrivel ver um filho comer e perguntar: “Tem mais? Esta palavra “tem mais’’ fica oscilando dentro do cerebro de uma mãe que olha as panela e não tem mais.”

 

    Por fim, é importante ressaltar que Carolina Maria de Jesus também faceava dúvidas quanto a ser mãe: nem sempre sabia o que era certo a se fazer, e mesmo quando o fazia, poderia hesitar. Também havia momentos em que se arrependia de sua posição por conta das condições que apresentava, por vezes sentindo-se insuficiente e incapaz. Essas incertezas e ambiguidades não a tornam uma mãe ruim; tais situações e pensamentos são associados à maternidade de maneira natural: antes de ser mãe, qualquer mulher é um ser humano com necessidades e sentimentos próprios. Nesse sentido, vê-se a parte humana de Carolina como pessoa em harmonia com sua persona como mãe em diversos momentos.

 

“Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos. Eles não tem ninguém no mundo a não ser eu. Como é pungente a condição de mulher sozinha sem um homem no lar.”


    A Carolina que se tem em Vera Eunice

    Infelizmente, devido ao seu óbito em 1977, não se tem relatos do filho mais velho da escritora, João José. O mesmo é válido para o filho do meio, José Carlos, que, por sua vez, tivera 4 filhas: Adriana, Elisa, Elaine e Lilian. Entretanto, em relação à caçula, Vera Eunice, sabe-se que se tornou professora de língua portuguesa por influência e homenagem à admiração que via por parte de sua mãe pela leitura e escrita – assim como "pelas professoras”. Quando observa e analisa o passado de Carolina, a professora conclui, referente ao legado deixado pela mãe: “Tem-se no Brasil muitas Carolinas: muita mãe solteira, muita mulher negra, muita empregada doméstica.

    Em relação à escola, Vera Eunice ainda revive: “Ela jamais deixaria meus irmãos faltarem à escola, então o que ela fazia era os colocar pela janela quando o barco vinha buscar; quando o barco não vinha, ela os colocava nas costas e ia nadando; pegava uma roupinha e trocava lá quando chegava, mas ela não os deixava faltar a escola”. 


“Dia das Mães. O céu está azul e branco. Parece que até a Natureza quer homenagear as mães que atualmente se sentem infeliz por não poder realisar os desejos dos seus filhos.”






quarta-feira, 10 de maio de 2023

Histórias de rosas: Elza Soares (Série)

Quem foi Elza Soares?

Elza da Conceição Soares (1930-2022), foi uma cantora, compositora musical e puxadora de samba-enredo brasileira nascida na favela da Moça Bonita no Rio de Janeiro, era periférica, mulher negra e pobre. Veio de família muito humilde, mas sempre guardava em si o sonho de ser cantora, tal era o sonho, que desde a infância já compunha suas primeiras canções e recebia muitos elogios de parentes e amigos. Em 1953, se inscreveu em um concurso musical do programada de rádio chamado "Calouros em Desfile" e ganhou nota máxima, a princípio, o apresentador Ary Barroso, que na época apresentava esse concurso, tentou ridicularizá-la com a pergunta: "De que planeta você veio, minha filha?" E ela, sem medo, responde: "Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome!". Apesar do jeito simples e humilde, não tinha medo, sabia de onde seu discurso saía, de tal maneira, que após esse programa se inscreveu no concurso de música de Ary Barroso e fez sua primeira apresentação ao vivo, mostrou todo seu potencial. De início, não teve muita notoriedade e não ganhou muito dinheiro, entretanto, foi um momento crucial para seu desenvolvimento como cantora e ícone brasileiro de denúncia social com suas composições, nascia uma estrela que se eternizaria na cultura brasileira.

Teve uma vida pessoal conturbada, contudo, sempre fez o que amava: cantar. E Elza, apesar de seu timbre único, foi voz do povo brasileiro, das mulheres negras, da fome, da pobreza, do racismo - moveu a chama da luta até seus últimos dias - transcendendo o papel de cantora e se eternizando por sua arte e política. Elza foi mãe para além do ventre.


"Minha voz, uso pra dizer o que se cala

O meu país é meu lugar de fala"

Trecho da música "O que se cala", de Elza Soares.


Maternidade Dramática

Elza Soares teve no total oito filhos. Foi mãe com apenas seus 13 anos de idade, fruto de um matrimônio forçado após uma tentativa de abuso que sofreu de um conhecido de seu pai, deste, teve dois filhos, que não foram registrados, um deles morreu devido a uma doença e o outro decorrente de desnutrição, pois como eram muito pobres, não conseguiam comprar medicamentos ou comida, mesmo que ela trabalhasse, pois na época, seu marido tinha adoecido por tuberculose e Elza pode trabalhar. Aos 21 anos ficou viúva de seu primeiro marido e aos 27 anos tinha no total 5 crianças: João Carlos, Gerson (que foi entregue a adoção por Elza, por não poder oferecer condições favoráveis para criar o filho), Gilson (morreu em 2015, com 59 anos, após complicações de uma infecção urinária), Dilma (que foi sequestrada em 1950 enquanto era recém nascida por um casal de confiança e só seria encontrada 30 anos depois, em 1980). Posteriormente viria a ter seu filho com Garrincha, Manoel Francisco, que faleceu em um acidente de carro com apenas 9 anos, acarretando a Elza uma depressão e abuso de drogas.


"A única coisa do passado que ainda me machuca é a perda dos meus quatro filhos. O resto tiro de letra. Mas filho é uma ferida aberta que não cicatriza. Estará sempre presente!". 

Elza Soares


Em diversas entrevistas, apesar das feridas que não cicatrizavam, visíveis com a visceralidade que carregava em suas músicas, era crédula e acreditava que todos tivessem uma missão, cantou para tentar salvar seus filhos da fome, lutou em muitas batalhas, mesmo que em muitas sabia da derrota, mas lutou. Elza teve uma vida trágica, castigada de diversas maneiras, e nisso viu a oportunidade de trazer a voz àqueles que sofrem injustiça.


"Foi assim comigo. Eu comecei a cantar para salvar meu filho da fome, para dar a ele o que comer, mas aquela batalha eu perdi. A partir dali começou a minha guerra, minha luta por cada uma de nós, por cada um de nós, da nossa gente, por todas as vítimas que não tiveram chance de lutar. A partir dali eu empunhei a minha voz, a minha melhor arma para lutar pelos nossos direitos e principalmente pelo direito de cada um de nós à vida. Eu prometi a mim mesma que cada pessoa que sofresse injustiça, fosse quem fosse, teria na minha voz um abraço." 

Trecho de uma carta de Elza Soares para a mãe de Kathlen Romeu, revista Piauí.


Foi mãe para além do ventre, acolheu, de forma metafísica, cada um daqueles que sofrem a injustiça, "foi uma mãe para as mulheres negras, cantou seus amores e dores", como diz Djamila Ribeiro, filósofa. Elza Soares sentiu na pele e cantou do 'planeta fome', do que ecoa das periferias, assentiu seu lugar de fala, foi porta-voz de lutas feministas, raciais, de representatividade, de violência nas periferias, fez pela luta e pelo amor, inspirando gerações e gerações que ainda vale a pena a batalha, assim, Elza eterniza-se com um legado que transcende a música. Aqui não é apenas a história de uma mãe, mas de uma mulher, negra, periférica, é sobre seu legado, que apesar da dor da maternidade precoce, das perdas de seus filhos, viu nisso a esperança e fez história na cultura brasileira.