quarta-feira, 16 de agosto de 2023

“Barbie” (2023): além de um clássico do cinema, um marco histórico

A loira favorita do capitalismo voltou para o mercado cinematográfico – e econômico – e fez história, com ou sem Grammy! 

    O sucesso do brinquedo Barbie pode ser recente, mas, com certeza, não é novo. Tratando-se de um produto que, apesar de momentos de crise, não se desgastou com o tempo ao nível do esquecimento, não se poderia esperar uma repercussão tão divergente. Mais do que isso: não haveria possibilidade do filme “Barbie” (2023), dirigido por Greta Gerwig, não ser sucesso de bilheteria. Isso porque a obra é muito mais extensa do que a 1 hora e 54 minutos apresentada na telinha. Durante esse artigo, serão expostos e debatidos alguns pilares que sustentam o fenômeno desse filme – sem ao menos considerar o seu conteúdo ou quantidade de críticas positivas e negativas.



    Barbie Cientista: uma viagem no tempo 

    Em um contexto pós Segunda Guerra Mundial, indústrias bélicas precisavam mudar seu segmento de produção: mais do que isso, precisavam reutilizar toda a sucata restante e evitar o desperdício material e de capital. Nesse mesmo momento, fazia-se presente uma política de incentivo à natalidade norte-americana, equilibrando a balança de déficit, consequente da Grande Guerra. Assim, desenvolve-se nos Estados Unidos, fábricas de brinquedo em massa. 

    É neste ponto, em 1945, que o casal Ruth e Elliot Handler e o americano Harold Matson apresentam a indústria de brinquedos “Mattel”. A princípio, com os materiais que lhes eram disponíveis, criavam móveis para casas de bonecas. Porém, conforme crescia a primogênita do casal, Barbara Handler, a então administradora da empresa, Ruth – fato revolucionário para uma época em que a silhueta feminina não era bem vista como figura de autoridade -, percebeu que sua filha gostava de atribuir características às suas bonecas: um dia ela era presidente, e no outro, era bailarina. Com isso, no ano de 1959, foi apresentada a primeira “Barbie”, na Feira Americana de Brinquedo, em Nova York: o inovador produto se assimilava à boneca Bild Lilli - a qual a Mattel comprara os direitos autorais -  e contava com o diferencial das contrastantes personalidades propostas pela pequena Barbara. 

    Símbolo do movimento feminista ou causador de seu atraso, a Barbie retomava todos os conceitos difundidos pelo “American Way of Life” e padrões estadunidenses. Em uma conjuntura de necessidade de pertencimento nacional, temor pela disseminação do socialismo russo e economia vulnerável, o sucesso imediato do brinquedo não se apresentou como uma surpresa para os empresários. 


    Barbie 'Marketeira': visionária ou capitalista, um mesmo resultado

    Após sua grande estreia, a boneca não apenas manteve sua prosperidade, como também a elevou exponencialmente. A empresa utilizou de filmes, músicas, séries, itens personalizados dos mais diversos segmentos, roupas – e quaisquer outros produtos que pudessem ser materializados – para divulgar, continuamente, o brinquedo. Sendo assim, para seu grande retorno após um hiato de inovações, não haveria de ser diferente com um filme gerado a partir de tanto investimento. 

    Assim sendo, o marketing por trás da obra cinematográfica ultrapassou as barreiras de localidade e segmento cinematográfico para adentrar-se no mundo cotidiano. Nos mais diversos lugares do mundo, cafeterias e empresas alimentícias beneficiaram-se do momento para a inauguração de combos “Barbie” e novidades no cardápio; até mesmo em cidades interiores – incluindo de onde esta colunista vos escreve -, vitrines de lojas mergulharam no universo cor de rosa e , subitamente, em qualquer ponto onde os olhos pudessem repousar, havia uma referência ao filme. Até mesmo a patrimonial Linha 4 Amarela do metrô de São Paulo recebeu uma repaginada estética e entrou na moda. Para além das redes sociais, a existência do filme “Barbie” não só se tornou de conhecimento de milhões de indivíduos, como também fez parte de suas rotinas. 

    Nesse viés, atingindo a maior quantidade de pessoas possível, o longa-metragem apresenta a versatilidade de conversar com as mais diferentes gerações e gêneros – e, consequentemente, conta com a presença de pautas atemporais e pertencentes a um novo momento. Existiram aqueles que não tiveram contato com a boneca em uma primeira infância, mas a viram fazer parte da vida de outras crianças; aqueles que relembram a nostalgia de sua própria infância e até mesmo aqueles que estão passando por esse momento durante a estreia. Seja quem, quando e aonde for, o filme promete reservar um lugar especial de identificação para quem se propor assisti-lo. 


    Fale bem ou fale mal, mas fale de mim!

    E com tanta gente presenciando a obra, o que se tem de cor de rosa, têm de críticas ao filme: todo mundo tem algo a dizer sobre “Barbie”. Desde rostos emocionados ao som de “What I Was Made For”, à fúria daqueles que não se sentiram tão representados pela boneca (ou boneco), as críticas quanto ao filme podem ser encontradas nos mais diferentes veículos; e, talvez como tudo no cinema, passeiam pelas mais extremas opiniões – mas com proporções maiores do que grande parte das obras. Isso porque “Barbie” conta com temáticas dignas de discussões e não se satisfaz no estabelecimento de um meio termo: apresenta um posicionamento a respeito daquilo que se propõem a retratar e o mantém até seu desenlace. Em uma grande ironia, a película desvia do padrão Hollywoodiano de formulação de roteiro e surpreende a todos – negativamente ou positivamente. 

    Com todo esse contexto concebido para receber “Barbie”, o filme não se sustentava com uma resposta midiática positiva para marcar presença – assim, todas as opiniões, de internautas ou especialistas do ramo, atuam como contínuos pilares para a manutenção de seu sucesso. Considerando todas ou nenhuma opinião, o filme “Barbie” (2023) é um marco global e contenta-se com fatos para comprovar isso.

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