sábado, 4 de novembro de 2023

Efeito borboleta das mudanças climáticas: o aumento de casamento infantis

A mudança climática refletida atualmente traça uma linha tênue entre sensações térmicas inesperadas, casamentos infantis e violência doméstica.

    O conceito de aquecimento global não é de hoje, e, por mais que termos técnicos - como efeito estufa, ou a atual era de “ebulição global” - não sejam conhecidos por toda a população, os impactos causados por esses fenômenos, definitivamente, acometem a individualidade de cada habitante e a sociedade como um todo. Além dessas consequências, tem-se, ainda, severos efeitos que se desenrolam de maneira indireta: como é o caso de casamentos infantis. Então qual é essa relação, mesmo que remota?



    Ebulição global: o que temos de novo?

      A nova realidade climática em que o mundo se encontra foi denominada de “ebulição global”. Como uma modificação do aquecimento global, conta com a presença de temperaturas extremas e inéditas, contribuindo, consequentemente, para a persistência do efeito estufa. Referente a esse momento em que o planeta se encontra, alerta-se ao lento impedimento e a quase inexistente prevenção das ações desses fenômenos para ecossistema e sociedade.
      Entretanto, quando essa situação se intensifica, gerando fenômenos naturais extremos – a exemplo de altas temperaturas, ciclones, secas, inundações e tempestades -, em países subdesenvolvidos ou que não apresentam a estrutura necessária para remediação das consequências, tem-se o que se chama de catástrofe. Essas catástrofes constroem um cenário de intensa vulnerabilidade econômica, pobreza extrema, escassez de água e insegurança alimentar. Portanto, uma vez que uma nação não é capaz de prover uma solução para a retificação dessa circunstância, a própria população de um país encontra estratégias e respostas para sua sobrevivência.



    Entendendo culturas

     Para se entender pontos de vistas pertencentes a diferentes sociedades, é preciso olhar para a construção de uma nação e seus valores culturais, solidificados e alterados conforme eventos históricos e situações econômicas. Como analisaremos o casamento infantil, tem-se que esse ocorre quando um ou dois cônjuges são menores de 18 anos. Segundo dados da ONU, sabe-se que “pelo menos 19% das mulheres de 20 a 24 casaram-se com um parceiro antes dos 18 anos, sendo esses dados, mais frequentes em países de baixa e média renda”.
    Assim, culturalmente, entende-se que casar meninas menores de idade com homens adultos, de médio ou alto poder aquisitivo, é uma maneira de garantir a segurança e estabilidade financeira para a família da noiva – sendo responsável, geralmente, pela organização desse matrimônio. Essa decisão, ainda, está ligada de maneira direta com a constante gravidez na adolescência – e, consequentemente, violência doméstica e abusos infantis, tanto por parte dos pais - quando impõem a obrigação do casamento - quanto por parte dos cônjuges com as vítimas da prática ilegal.
     Ainda, tem-se, comumente, em casamentos arranjados, o pagamento de um “dote” – ou seja, uma quantidade de dinheiro ou bens aquisitivos para um dos lados da negociação. Em países como o Vietnã, por exemplo, é mais comum o homem remunerar o dote para a família da noiva. Entretanto, em países como a Índia, tradicionalmente, a família da noiva é responsável por ofertar o dote. Dessa forma, não é tão interessante a realização de casamentos arranjados para meninas menores de idade. Análises como essas podem ser vistas através de estudos e dados, e relacionadas com a situação de crítica influência climática.


     E como lidar?

    O estudo a respeito da relação entre casamentos infantis, violência doméstica e consequências climáticas iniciou-se com o aumento exponencial dos três tópicos, concomitantemente. Assim, conforme agrava-se a condição de fenômenos naturais extremos, aumenta-se a taxa de alianças matrimoniais arranjadas entre menores de idade – principalmente mulheres – e abusos infantis, entendendo-se os motivos que acabamos de ver. Essa realidade, ainda, mostra-se mais próxima do que podemos esperar.
    No Brasil, segundo um estudo feito pela Confederação Nacionaldos Municípios, os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul foram os mais sujeitos às respostas das alterações climáticas entre os anos de 2013 e 2022 – e, ao mesmo tempo, foram os estados que registraram o maior número de matrimônios envolvendo crianças e adolescentes menores de 18 anos. No país, apesar de ter como ilegal a prática do casamento infantil, é possível efetivar sua realização de maneira legítima a partir dos 16 anos, com consentimento de ambos os responsáveis.
   Assim sendo, entende-se que a realidade dessas inconstâncias climáticas já é suficientemente preocupante. Mas, quando se trata de países subdesenvolvidos ou emergentes, cabe ainda lidar com a bola de neve concebida por essas catástrofes – e no caso comentado, com a segurança e qualidade de vida de mulheres e crianças. Tem-se, ainda, a informação de que não seria cara a erradicação desses matrimônios ilegais: o investimento de US$ 35 bilhões seria o suficiente para findar essa realidade, enquanto uma média de US$ 600 por criança é capaz de evitá-la. Assim, um preço equivalente a um artigo de luxo é capaz de modificar toda uma vida.
        E mesmo que não se tenha vestígio de empatia para distender desse capital propenso ao retorno de uma melhor qualidade de vida, pode-se pensar do ponto de vista econômico: essas mesmas mulheres, que se casam quando menores de idade e submetem-se às condições impostas por seus tutores e cônjuges, poderiam contribuir positivamente com a sociedade e economia de uma nação, considerando que teriam a liberdade de optar por suas próprias funções sociais. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário